Ser pai ou mãe é, de longe, um dos papéis mais desafiantes. É verdade que, para a esmagadora maioria das pessoas, é um papel delicioso, apaixonante. Mas ninguém estará a ser honesto se disser que é fácil gerir todos os desafios da parentalidade. Todos queremos ser pais presentes, disponíveis e pacientes. Damos o nosso melhor nesse sentido mas vivemos com a certeza de que os erros fazem parte do percurso. Uma das questões com que mais frequentemente me deparo nos pedidos de ajuda que me são feitos tem a ver com a disciplina e o exercício da autoridade:
- É possível educar sem gritar? -
Toda a gente sabe que as crianças são, por natureza, autocentradas e que, em nome da satisfação das suas necessidades, são capazes de testar os limites dos adultos. Algumas crianças são mais teimosas do que outras mas qualquer pai ou mãe já sentiu que a sua paciência estava prestes a esgotar-se. “O que é que se faz quando se diz 7 ou 8 vezes a mesma coisa e a criança não obedece? Grita-se, não é? Aí vem logo a correr…” dizia-me no outro dia um pai. Mas a verdade é que este princípio não tem nada de verdadeiramente educador. Sim, é verdade que a experiência prática pode indicar que os gritos são eficientes. Mas isso é a muito curto prazo. E qualquer adulto pode comprovar que os gritos são cansativos.
Quando um pai, cansado de um dia de trabalho problemático, se aproxima da porta do quarto e chama o filho para jantar, espera que ele o oiça e que responda ao seu apelo. Mas ignora que para a criança é muito mais interessante manter-se atenta às suas brincadeiras. As crianças são autocentradas, lembra-se? Quando à enésima chamada explode e grita, o pai não está a educar o seu filho no sentido de este ser capaz de apreender qualquer regra. Está, isso sim, a ser claro na manifestação de uma emoção: a raiva. Com medo, o mais provável é que a criança finalmente “obedeça” e largue a brincadeira.
A única coisa que aprendeu
foi que os adultos também podem ser assustadores
e, assim, verem os seus pedidos satisfeitos.
Sim, os gritos são eficazes. Sempre que conseguirmos assustar as nossas crianças, elas farão aquilo que quisermos. A grande desvantagem é que, como não aprendem mais nada, elas passarão a obedecer-nos APENAS quando gritarmos. E isso é tão desgastante! De repente, entra-se num ciclo vicioso de que é difícil sair. E rotula-se a criança de teimosa.
Como em quase todas as áreas da vida, ser-se emocionalmente inteligente na educação das crianças passa por reconhecer primeiro as nossas emoções e necessidades. Se você se sentir exausto, impaciente, é bom que aprenda a gerir essas emoções em vez de se limitar a exterioriza-las de forma impulsiva (e ainda culpar as suas crianças). Em vez de chamar pela criança a partir da porta do quarto, vale a pena aproximar-se dela, baixar-se e, de olhos nos olhos, tentar captar a sua atenção. Sim, eu sei que as crianças são autocentradas. Mas elas adoram-no e mostrar-se-ão atentas à manifestação CLARA das suas emoções. Dizer-lhe baixinho que está cansado e precisa que ela colabore consigo e venha para a mesa pode produzir um milagre: o milagre da educação.
Quando a comunicação dos pais é pouco clara – oscilando entre alguns “pedidos” feitos ao longe, meia dúzia de gritos e alguns castigos e recompensas que surjam de forma pouco regrada – a confusão impera e o mais provável é que os filhos optem maioritariamente pelas alternativas que satisfaçam as suas necessidades mais imediatas.
Além disso, é fundamental que sejamos humildes e que aprendamos a gerir de forma mais equilibrada as nossas flutuações emocionais. A maior parte dos gritos não são verdadeiras escolhas. São manifestações do cansaço acumulado. Se quisermos que as crianças sejam solidárias com o cansaço que sentimos, temos, em primeiro lugar, de lhes ensinar – pelo exemplo - a exteriorizar essa emoção (e, já agora as outras!) de forma estruturada e não impulsiva. Descarregar nelas o que quer que sintamos é, além de infrutífero, tremendamente injusto. Quem explode não comunica de forma clara e, consequentemente, não educa.