Podemos dar as voltas que quisermos:
acabar uma relação amorosa através de uma mensagem de telemóvel será SEMPRE um
ato rude e a probabilidade de a “vítima” se sentir humilhada é elevadíssima.
Mas será que esta escolha é sempre desajustada? Ou há situações em que é
preferível evitar o contacto presencial?
Comecemos pelos números: há assim tanta
gente a fazê-lo? E são mais os homens ou as mulheres que escolhem esquivar-se
ao drama de um rompimento presencial? A minha prática clínica tem-me mostrado
que há cada vez mais pessoas que fazem esta opção. São mais homens do que
mulheres mas tenho observado muitos casos de ambos os géneros.
Desrespeitada. Humilhada. Mas não me
interprete mal: nem todas as pessoas que são surpreendidas com um final destes
o encaram como dramático. Posso afirmar que há dois tipos de reações:
BOLA PARA A FRENTE. Há quem encare este
gesto como uma espécie de “abre olhos”. «Se ele(a) acabou comigo via SMS, é
porque não me merece». É claro que a pessoa se sente profundamente
desconsiderada. É natural que haja (muita) mágoa. Mas isso não é gerador de uma
angústia profunda. O amor-próprio é mais forte e permite que a pessoa encare
esta etapa como uma oportunidade de seguir em frente.
NÃO VALHO NADA. Para muitas pessoas
este gesto é gerador de dúvidas e mais dúvidas: «O que é que eu fiz de errado?
O que é que correu mal?». A autoestima cai a pique e a conclusão do luto fica
mais difícil porque a “vítima” tenta olhar para o que aconteceu numa perspetiva
de culpada. «Eu nem fui merecedor(a) de uma conversa presencial».
Aliviada. Não há nenhuma forma fácil
para acabar uma relação. Quando uma pessoa percebe que não está feliz e decide
romper, sabe que a decisão vai gerar mágoa e sofrimento. Mais: se a outra
pessoa continuar apaixonada, é possível que haja algum drama. E não é fácil ter
de lidar com o coração despedaçado de alguém. Não é fácil lidar com o choro, o
desapontamento, os pedidos para voltar atrás. Algumas pessoas não estão mesmo
nada habituadas a gerir situações emocionalmente significativas, pelo que fogem
a sete pés de qualquer acontecimento que as possa fazer sentir-se vulneráveis.
Por outro lado, há quem sinta medo das
consequências de uma rutura presencial – medo de que o cônjuge se torne
agressivo, medo de que a pessoa não aceite a decisão e exerça pressão para
continuar, medo de não ser capaz de manter a firmeza perante tentativas de
manipulação. A verdade é que as relações
marcadas por abusos (físicos ou emocionais) podem fazer com que a pessoa que
quer terminar a relação não se sinta segura para o fazer olhos nos olhos.
Independentemente dos motivos por
detrás desta escolha, é importante que assumamos que ela tem subjacente algum
egocentrismo. Quem escolhe acabar a
relação via SMS está a pensar apenas em si, nas suas próprias necessidades.
E, pontualmente, essa escolha pode ser ajustada. Mas na maior parte dos casos
estamos perante situações que poderiam (deveriam) ser geridas com mais respeito
pela pessoa que é confrontada com a rutura. Sermos adultos íntegros e
responsáveis também é expormo-nos a uma rutura presencial em nome da
consideração pelos sentimentos de quem um dia amámos.