Não, a questão que coloco não tem nada
a ver com o número de amigos da sua lista telefónica. Muito menos com o número
de amigos associados à sua conta de Facebook. Aquilo que pergunto é se se sente
amparado. Acha que está rodeado de pessoas a quem possa realmente chamar
amigos? E o que é que caracteriza, afinal, uma verdadeira amizade?
Algumas pessoas mostram-se tristes
porque não têm amigos. Normalmente chegam a essa conclusão depois de uma
desilusão qualquer. Até aí estavam convencidas de que as pessoas com quem
habitualmente bebiam uns copos ou a quem davam os parabéns via Facebook eram
verdadeiros amigos. Também há quem se exponha, quem tente construir relações
mais ou menos íntimas mas que, por um motivo ou por outro, acabam por
perder-se. Nalguns casos são zangas sérias, noutros são zangas “invisíveis”, em
que uma das partes pura e simplesmente deixa de aparecer, deixa de telefonar ou
de responder às mensagens. E depois vem a pergunta: “O que é que eu fiz de
errado?”.
REVELE-SE. Na
amizade, como em qualquer outra relação afetiva, é preciso que nos conheçamos
relativamente bem. É fundamental que conheçamos as nossas necessidades e os
nossos limites. Se soubermos aquilo de que precisamos, é mais provável que
consigamos assumir uma postura calma e assertiva, expondo àqueles de quem
gostamos aquilo de que precisamos. Por exemplo, quase todas as pessoas gostam
de ser felicitadas a propósito do seu aniversário. Mas nem todas valorizam
essas felicitações na mesma medida. Se você for daqueles que fica triste se um
amigo se esquecer de o fazer, o melhor é dizê-lo. Ao mostrar – de forma calma –
quão importante esse gesto é (PARA SI), estará a dar oportunidade aos seus
amigos de o estimarem da forma certa (aquela de que precisa). Quando você se
cala (normalmente com receio de ser mal interpretado ou com medo de magoar os
amigos), escolhe anular uma necessidade sua. E isso gera mágoa, ressentimento e
raiva. É possível que, mais cedo ou mais tarde, você escolha castigar o tal
amigo que se esqueceu de lhe ligar no dia do seu aniversário. “Eu sei que ele
acabou de sair do hospital e provavelmente está à espera que eu lhe ligue… mas
não o vou fazer!”. Reconhece-se neste padrão de comportamento? Então mude. Os
seus amigos são humanos e é natural que falhem (pontualmente) consigo. Mas a
probabilidade de você sentir que há um conjunto de pessoas que estão-lá-para-o-que-der
e vier é muito maior se você der o seu melhor para que os seus amigos conheçam
as suas necessidades.
INVISTA.
Não há volta a dar. As relações afetivas não se alimentam do ar. É verdade que
há pessoas que não se veem durante anos e que, quando se reencontram, sentem
uma empatia tal que é como se tivessem estado juntas no dia anterior.
Normalmente isso está relacionado com o facto de terem estado presentes em
momentos importantes na vida de um e do outro. Mas a segurança de saber que há
pessoas com quem você pode contar depende do investimento que for capaz de fazer.
É fundamental que você mostre ativa e frequentemente quão importantes são os
seus amigos. Telefone. Apareça. Pergunte se está tudo bem. Receba-os em sua
casa. Acarinhe.
NÃO
AJA DE CABEÇA QUENTE. É fundamental que você conheça os
limites da sua paciência, que aprenda a identificar as suas emoções e decida,
por exemplo, não dizer nada quando está de cabeça quente. Os amigos também se
zangam. Também dizem coisas feias. Falham. Mas é possível evitar explosões e
ressentimentos. Como? Reconhecendo, por exemplo, os sinais que o seu corpo
emite e tentando acalmar-se antes de agir. Quando, de forma ponderada, dizemos
exatamente aquilo que esperamos de um amigo, tudo se torna mais fácil.
Claro que todos temos momentos de
grande tensão, de frustração ou de raiva. E também é normal que PONTUALMENTE
sejamos explosivos e até injustos. Isso é o que acontece quando algumas emoções
tomam conta de nós. Na amizade verdadeira é fundamental saber pedir desculpa.
Mas não é só: é preciso aceitar as “birras” do outro, tentar ver além da
explosão e saber perdoar. Lembre-se que todos precisamos de amparo, de saber
que há pessoas que insistem, que “estão lá” e que valorizam os nossos esforços.