Os casais que me pedem ajuda têm (quase
todos) uma queixa em comum: problemas de comunicação. Na sequência desta surge
muitas vezes uma outra: as críticas constantes. Há pelo menos um dos membros do
casal que se sente hipercriticado, como se nada do que fizesse estivesse bem
feito. Nada. Aquilo que o outro
muitas vezes desconhece é que essas críticas sistemáticas afastam a pessoa
amada. Quem critica refugia-se na necessidade de chamar a atenção para aquilo
que está mal, como se todas as queixas
fossem legítimas por se tratarem de oportunidades para resolver problemas e
estreitar os laços. Não são.
Não me canso de dizer que as zangas
fazem parte do amor e que são um elemento necessário à construção de uma
relação íntima. Mas ninguém aguenta a sensação de desvalor associada a
constantes reparos. Nem é preciso que haja gritos ou discursos agressivos.
Basta que haja comentários negativos frequentes. Quando isso acontece, a pessoa
cujo comportamento é constantemente alvo de análise sente-se desamparada e
insegura. É como se o cônjuge (aquele que critica) deixasse de ser visto como
alguém em quem se possa confiar.
Em função disso, a pessoa aprende a
guardar para si os seus sentimentos – ou a confiá-los a uma terceira pessoa –
para se sentir segura.
Mas porque é que alguém insiste em
mostrar desapreço pela pessoa amada? Por que surgem tantas críticas?
De um modo geral, esta “neura” é um
mecanismo de defesa que esconde sentimentos mais profundos como a tristeza, o
medo, a vulnerabilidade ou a vergonha. Só quando a pessoa que habitualmente
critica tem a coragem de tentar mudar – normalmente através da terapia – e
percebe que por detrás dos seus comentários negativos estão outras emoções,
difíceis de gerir, é que o ciclo vicioso é quebrado.
A pessoa é desafiada a olhar para
dentro, para aquilo que REALMENTE a perturba, para aquilo que está por detrás
da raiva. Às vezes é tristeza – e a pessoa aprende a reconhecer aquilo que a
entristece e a manifestar de forma clara e serena as suas necessidades. Às
vezes (muitas) é insegurança associada à necessidade de se sentir devidamente
acarinhada e desejada.
É preciso paciência e persistência para
conhecer, de forma genuína, aquilo que está a ser gerador de insegurança. É
preciso tempo para que um e o outro possam exteriorizar de forma calma aquilo
de que precisam para se sentirem seguros. Mas é possível romper com o padrão de
negatividade e abrir espaço para que a relação se torne mais íntima e muito
mais satisfatória para ambos.