«Os homens não falam de relações. Não
expõem os seus sentimentos. Não dizem coisas do tipo “Não estou feliz"...
Não é?»
Fernanda entrou no meu gabinete ainda
desnorteada. O marido acabara de lhe pedir o divórcio. Disse-lhe que não estava
feliz. Há muito tempo que não é feliz. Há muito tempo que não se sente
desejado, acarinhado. Há muito tempo que não sente que é importante. "Mas
tu não notas?", perguntou.
Fernanda notou que as coisas não
estavam bem. As eternas discussões a propósito da falta de sexo, da falta de
tempo para namorar, eram a prova de que o casamento não era um mar de rosas.
Mas têm dois filhos! E "não é fácil arranjar tempo (e vontade) para
namorar entre banhos, jantares, histórias ao deitar, lutas pelo comando e
birras de meia-noite".
Há algum tempo que as discussões
abrandaram. O facto de não haver tempo para namorar deixou de ser um ponto de
partida para batalhas intermináveis. E os serões passaram até a ser mais
tranquilos. Fernanda passou a ter tempo para ver a telenovela "em
paz", ao mesmo tempo que ignorava que o marido estava cada vez mais
ausente. Não é que passasse noites fora. Na verdade, tem estado sempre ali, a
dois ou três metros de distância física. Mas distante - tão distante! - emocionalmente.
"Disse-me que chegou a abrir sites de terapia conjugal ao meu lado. Mas
nunca me falou disso!".
O pedido de divórcio caiu como uma
bomba e, aos olhos de Fernanda, só há uma justificação para esta decisão: uma
terceira pessoa. Mas será que é sempre assim?
A minha prática clínica tem mostrado
que é assim muitas vezes. Há
(muitos) homens que só conseguem acabar com um casamento insatisfatório quando
se sentem amparados por uma nova relação. Não é que andem adormecidos. Não é só
uma questão de acomodação. É sobretudo uma questão de medo. O medo da solidão.
O medo de não voltar a encontrar alguém para amar. O medo da rejeição dos
filhos.
Mas não é sempre assim. Há cada vez
mais homens (e mulheres) que assumem que não estão felizes no casamento e que
isso, por si só, é motivo para dar um murro na mesa e implementar mudanças.
Nem todos os homens são capazes de
manifestar os seus sentimentos de forma clara. Nem todos estão habituados a
falar de emoções. Mas isso não significa que só sejam capazes de terminar uma
relação se houver outra mulher.
JÁ NÃO HÁ NADA EM COMUM. O marido passa
horas “ali ao lado” mas não há conversas profundas ou emocionalmente
significativas. Fala-se sobretudo das rotinas a cumprir, das obrigações com os
filhos.
JÁ NÃO HÁ ELOGIOS. Para dizer a
verdade, nada do que você faça parece bem feito e até as iniciativas românticas
são recebidas com indiferença.
A MULHER É A ÚLTIMA A SABER. Os
acontecimentos que digam respeito ao trabalho – positivos ou negativos são
partilhados em primeiro lugar com os amigos. Muitas vezes a mulher só toma
conhecimento de episódios importantes porque “ouviu dizer”.
HÁ DEMASIADAS DISTRAÇÕES. A televisão
está sempre ligada. Ou o computador. Ou o iPhone. Ou então há alguma reparação
para fazer na garagem. O importante é fugir de conversas que possam levar ao
reconhecimento do problema.
O SEXO É COISA DO PASSADO. A
manifestação física dos afetos é a principal fonte de conexão entre duas pessoas
que se amam. Se a ligação emocional estiver fragilizada, é provável que
praticamente não haja intimidade sexual.