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22.9.14

SERÁ QUE O MEU MARIDO TEM OUTRA?


«Os homens não falam de relações. Não expõem os seus sentimentos. Não dizem coisas do tipo “Não estou feliz"... Não é?»

Fernanda entrou no meu gabinete ainda desnorteada. O marido acabara de lhe pedir o divórcio. Disse-lhe que não estava feliz. Há muito tempo que não é feliz. Há muito tempo que não se sente desejado, acarinhado. Há muito tempo que não sente que é importante. "Mas tu não notas?", perguntou.

Fernanda notou que as coisas não estavam bem. As eternas discussões a propósito da falta de sexo, da falta de tempo para namorar, eram a prova de que o casamento não era um mar de rosas. Mas têm dois filhos! E "não é fácil arranjar tempo (e vontade) para namorar entre banhos, jantares, histórias ao deitar, lutas pelo comando e birras de meia-noite".

Há algum tempo que as discussões abrandaram. O facto de não haver tempo para namorar deixou de ser um ponto de partida para batalhas intermináveis. E os serões passaram até a ser mais tranquilos. Fernanda passou a ter tempo para ver a telenovela "em paz", ao mesmo tempo que ignorava que o marido estava cada vez mais ausente. Não é que passasse noites fora. Na verdade, tem estado sempre ali, a dois ou três metros de distância física. Mas distante - tão distante! - emocionalmente. "Disse-me que chegou a abrir sites de terapia conjugal ao meu lado. Mas nunca me falou disso!".

O pedido de divórcio caiu como uma bomba e, aos olhos de Fernanda, só há uma justificação para esta decisão: uma terceira pessoa. Mas será que é sempre assim?
A minha prática clínica tem mostrado que é assim muitas vezes. Há (muitos) homens que só conseguem acabar com um casamento insatisfatório quando se sentem amparados por uma nova relação. Não é que andem adormecidos. Não é só uma questão de acomodação. É sobretudo uma questão de medo. O medo da solidão. O medo de não voltar a encontrar alguém para amar. O medo da rejeição dos filhos.

Mas não é sempre assim. Há cada vez mais homens (e mulheres) que assumem que não estão felizes no casamento e que isso, por si só, é motivo para dar um murro na mesa e implementar mudanças.

Nem todos os homens são capazes de manifestar os seus sentimentos de forma clara. Nem todos estão habituados a falar de emoções. Mas isso não significa que só sejam capazes de terminar uma relação se houver outra mulher.
JÁ NÃO HÁ NADA EM COMUM. O marido passa horas “ali ao lado” mas não há conversas profundas ou emocionalmente significativas. Fala-se sobretudo das rotinas a cumprir, das obrigações com os filhos.

JÁ NÃO HÁ ELOGIOS. Para dizer a verdade, nada do que você faça parece bem feito e até as iniciativas românticas são recebidas com indiferença.

A MULHER É A ÚLTIMA A SABER. Os acontecimentos que digam respeito ao trabalho – positivos ou negativos são partilhados em primeiro lugar com os amigos. Muitas vezes a mulher só toma conhecimento de episódios importantes porque “ouviu dizer”.

HÁ DEMASIADAS DISTRAÇÕES. A televisão está sempre ligada. Ou o computador. Ou o iPhone. Ou então há alguma reparação para fazer na garagem. O importante é fugir de conversas que possam levar ao reconhecimento do problema.


O SEXO É COISA DO PASSADO. A manifestação física dos afetos é a principal fonte de conexão entre duas pessoas que se amam. Se a ligação emocional estiver fragilizada, é provável que praticamente não haja intimidade sexual.
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