Homem
divorciado procura mulher para relacionamento sério.
Faz uma pesquisa no Google e depara-se com um admirável mundo novo. São muitos
os sites que prometem encontrar a alma gémea para cada pessoa. Basta uma inscrição, alguns euros e, de
repente, há uma multidão de perfis a que se pode aceder. A ideia de ficar
sozinho para sempre deixa de ser tão assustadora. Afinal, no meio de tantas
pessoas ali inscritas é quase certo que a pessoa certa apareça, certo? Então
por que há tanta gente que se sente ainda mais só depois de ter contacto com
estas redes? Por que é que, ao fim de uma série de buscas, mensagens trocadas e
encontros presenciais, continua a parecer tudo muito cansativo e frustrante?
Não tenho nada contra os sites de
encontros. Olho para qualquer plataforma de comunicação como um potencial
acelerador das mudanças que cada pessoa deseja. E a minha experiência clínica
mostra-me que há cada vez mais casais formados a partir de um primeiro contacto
virtual. Mas isso está longe, muito longe, de significar que eu defenda os
sites de encontros como a ferramenta mais segura para quem deseja voltar a
amar.
De entre as pessoas que têm passado
pelo meu consultório, há três situações que vulgarmente estão associadas à inscrição
nestas redes sociais:
DIVÓRCIO. A sensação de desamparo na
sequência de um divórcio pode ser aterradora. De um dia para o outro já não há
ninguém com quem conversar quando se chega a casa. O silêncio assusta, deprime.
E a pessoa dá por si a pensar que tem de fazer alguma coisa.
TIMIDEZ. Há quem acredite que não é
capaz de iniciar uma conversa com uma pessoa nova, que jamais será capaz de
socializar num ambiente em que haja muitos desconhecidos ou que pura e
simplesmente não "sobreviverá" à rejeição presencial. E em vez de
tentar desenvolver algumas competências sociais, opte pelo caminho
aparentemente mais seguro.
INFIDELIDADE. Quem quiser ter uma
relação extraconjugal tem neste tipo de plataformas a vida facilitada. Não é
preciso procurar especificamente os sites que prometem todo o sigilo do mundo
para quem vá em busca de um affair. Qualquer um sabe que é possível criar um
perfil e dizer que é aquilo que não é (solteiro, por exemplo).
EXPETATIVAS. Uma pessoa pode preencher
um questionário exaustivo, dando conta dos seus interesses, dos seus artistas
favoritos e da sua crença religiosa – tudo na esperança de ser mais fácil
encontrar aquela pessoa especial. Mas a verdade é que uma relação amorosa é
sobretudo construída na base da conexão. “Aquela” pessoa até pode partilhar os
nossos interesses mas isso servirá de muito pouco se não for capaz de rir das
nossas piadas ou de estar “lá” para nós quando é preciso. É importante dosear
as expetativas. Um site de encontros é um acelerador. É uma ferramenta que
permite “conhecer” muitas pessoas em pouco tempo. E isso pode ser muito útil
para quem não tenha uma rede social muito alargada nem queira “perder tempo”.
Mas encontrar pessoas novas e teoricamente disponíveis para investir numa
relação está muito longe de equivaler a que seja fácil encontrar alguém com
quem se possa construir uma relação feliz.
TRANSPARÊNCIA. Nem tudo é o que parece.
E há demasiados perfis falsos através dos quais pessoas com algum tempo
disponível e poucos escrúpulos tentam dar uma imagem de si mesmas que não
corresponde à realidade. É verdade que, mais cedo ou mais tarde, tudo se sabe
mas, até lá, é possível que a pessoa que está a ser enganada se sinta
progressivamente envolvida e acabe por magoar-se. Daí à sensação de desespero
do tipo “Se nem aqui encontro alguém, isso quer dizer que vou ficar sozinh@
para sempre…” pode ser um instante. Assim, quando alguém opta por transformar
uma relação virtual numa relação real, deve assumir alguns cuidados. Por
exemplo, porque é que alguém há de dar o seu número de telefone a uma pessoa
cujo perfil de Facebook é o equivalente a um conjunto de pontos de
interrogação? Como é que alguém pode sentir-se seguro de que valha a pena
investir num segundo encontro com alguém que aparentemente se esquiva a mostrar
os próprios amigos? Ou a família? A experiência clínica mostra-me que quem
muito se esconde dificilmente está preparado para construir uma relação segura.
AUTOCONHECIMENTO. Conhecer-se a si mesmo
é meio caminho para que uma relação possa dar certo – tenha ela início através
da Internet ou não. Quanto melhor conhecer as suas necessidades afetivas, maior
será a probabilidade de ser capaz de assumir uma postura assertiva na nova
relação. Isso passa por saber fazer uma espécie de “auscultação emocional” e,
de forma clara e honesta, verbalizar as suas emoções e expetativas. A outra
pessoa pode não estar disponível para as suas necessidades? Pode. Mas isso não
é dramático. Pelo contrário, ajudá-lo-á a diferenciar as pessoas que interessam
daquelas com quem não vale a pena perder tempo.
SOCIALIZAÇÃO. Combinar encontros a
partir da Internet ao mesmo tempo que se deixa de investir nas relações
afetivas reais não é uma escolha emocionalmente muito inteligente. As pessoas
que você conhece de toda a vida são aquelas que mais facilmente o ajudarão a
sentir-se seguro e que o impedirão de cometer erros desnecessários – chamando a
sua atenção para aquilo que muitas vezes só salta à vista de quem está de fora
ou dando-lhe “colo” nos momentos de maior desesperança. Por outro lado, quanto
mais “competente” for na demonstração dos afetos com as pessoas que têm estado
“lá”, maior é a probabilidade de vir a construir uma relação conjugal de
sucesso.
A generalidade das pessoas precisa da
sensação de pertença, de saber que é importante para alguém. E a verdade é que
quando nos sentimos verdadeiramente amados, seguros numa relação, sentimo-nos
infinitamente mais confiantes, trabalhamos melhor, arriscamos mais e
sentimo-nos prontos para explorar o mundo à nossa volta. Mas é importante
perceber que estas sensações são mais facilmente alcançáveis no mundo real,
mesmo que isso implique expormo-nos à rejeição.