Passo a maior parte do meu tempo a
ajudar casais a salvar a sua relação mas também recebo com frequência pedidos
de ajuda de quem está em processo de divórcio. Não estou a falar de quem ainda
não tomou a decisão. De quem tem dúvidas se há-de ir embora ou ficar. Refiro-me
a homens e mulheres que assumem o fim da relação e que enfrentam dificuldades
em concretizar este passo.
A dificuldade número um tem a ver com
os filhos. Felizmente, no meio do caos e da perda, há quem coloque as
necessidades afetivas dos filhos em primeiro lugar. Há quem se preocupe
genuinamente em garantir que as crianças/ adolescentes sofram o menos possível.
Infelizmente, nalguns casos a perda é tão avassaladora que um dos progenitores
não é capaz de se centrar no bem-estar dos filhos. E é muitas vezes quando essa
incapacidade se traduz numa espécie de guerra que o outro progenitor decide
pedir ajuda.
Mas há muito que possa ser feito:
ACEITE AS EMOÇÕES DO SEU EX-CÔNJUGE.
Não vale a pena ignorar o óbvio: o divórcio implica uma perda brutal e há um
luto que tem de ser feito. As manifestações de carinho podem ter desaparecido
há anos. O diálogo pode ser praticamente inexistente. Isso não significa que os
dois membros do (ainda) casal já se tenham divorciado emocionalmente. De um modo geral, há um que toma a
iniciativa e há outro que continua a sentir-se ligado. E essa pessoa tem
direito a sentir raiva e tristeza. Tem direito aos seus momentos de desespero.
Isso não significa que todos os seus comportamentos sejam legítimos. Não
significa que todas as birras sejam aceitáveis. Mas na medida em que você não
contra-atacar e der o seu melhor no sentido de se mostrar solidário com o que a
outra pessoa está a sentir, é mais provável que o clima de guerra abrande.
NÃO TENTE SER AMIGO DO SEU EX-CÔNJUGE.
Algumas pessoas são capazes de “arrumar” as suas emoções enquanto ainda estão
casadas. Tanto que se sentem capazes de manter uma relação próxima com o
ex-companheiro. Mas é fundamental dar espaço para que a outra pessoa se
desligue, para que complete o seu luto. Se esse espaço não existir, podem
existir falsas esperanças, que acabarão por minar a comunicação.
SEJA CLARO NA IDENTIFICAÇÃO DAS SUAS
PRIORIDADES. Se a sua prioridade é garantir o bem-estar dos seus filhos,
procure ser muito claro na defesa desses interesses. Por exemplo, você pode
achar que é importante conversar com as crianças para comunicar a decisão. Mas
aos olhos do seu ex-companheiro esse passo pode ser visto como uma aceleração
do processo, pelo que é possível que tente adiá-lo tanto quanto puder. Não é
por mal. É apenas um mecanismo de defesa: uma crença irracional de que você
possa voltar atrás. Procure centrar-se nas crianças e chamar a atenção do seu
ex-companheiro para o poder que ambos têm no sentido de continuar a zelar pela
estabilidade emocional dos filhos.
SEJA SOLIDÁRIO. Um divórcio não tem de
implicar um conjunto de ataques. É possível que você também esteja ferido. É
possível que haja algumas mágoas em relação ao seu ex-companheiro. Mas a pessoa
de quem está a desligar-se é o pai/ a mãe dos seus filhos. Merece o seu
respeito e a sua solidariedade. Não seja mesquinho(a). Não procure dividir tudo
simetricamente. Seja bondoso(a). Faça o que estiver ao seu alcance para garantir
a estabilidade (financeira, logística) da pessoa que um dia amou. Se não o
fizer pela história que viveram, faça-o pelos vossos filhos.
DÊ TEMPO. Algumas pessoas têm a ambição
de passar por um divórcio amigável, praticamente imaculado, mas isso é muito
difícil quando uma das pessoas ainda está em choque. Mantenha-se firme na sua
luta. Foque-se nas mudanças que é preciso concretizar e permita que o tempo
seja um aliado do seu ex-companheiro, ajudando-o a sarar as feridas.
PRESTE ATENÇÃO ÀS EMOÇÕES DOS SEUS FILHOS.
As crianças e os adolescentes podem ser muito críticos em relação ao
comportamento dos próprios pais. Se o seu ex-companheiro tem assumido
comportamentos agressivos porque não está a conseguir lidar com as emoções
associadas ao processo de separação, é natural que os vossos filhos se aliem a
si. Evite fazer juízos de valor sobre o seu ex. Dê espaço às crianças/ aos
adolescentes para expressarem a sua tristeza ou a sua revolta mas procure
assumir uma postura conciliadora. Incentive-os a exteriorizar as suas emoções e
procure alimentar a esperança num futuro muito mais pacífico.