Tenho medo de fazer mal ao bebé. Medo que o sexo lhe provoque alguma
malformação. O problema é que ela acha que eu deixei de gostar dela. É verdade
que está mais gorda - muito mais gorda - mas não é isso que me afeta. É o bebé.
O medo de fazer mal ao bebé.
Já perdi a conta ao número de
vezes que ouvi palavras como estas. São quase sempre histórias de pessoas
teoricamente bem informadas e tidas como inteligentes.
O medo está muitas vezes
associado a pensamentos irracionais. Quando nos convencemos de que o perigo é
real, há, pelo menos, dois caminhos: partilhar aquilo que sentimos com quem
está à nossa volta ou tentar gerir tudo a sós. O problema do isolamento é que permite
que o nosso cérebro divague, que fantasie à volta daquilo que nos assusta e
transforme uma aflição num bloqueio. Pelo contrário, a partilha dos nossos
medos representa quase sempre um apelo, um pedido de conforto e, claro, a
oportunidade de substituir todos os pensamentos irracionais por informações
claras e precisas que nos permitam fazer escolhas emocionalmente inteligentes.
Mas quando um homem guarda para
si este medo, está longe, muito longe de se prejudicar apenas a si mesmo. O problema
maior é para a relação. Porque o silêncio gera invariavelmente a sensação de
desamparo e rejeição – Ele já não me ama!
É assim que facilmente se instala
a distância emocional entre duas pessoas que deveriam estar mais unidas do que
nunca. Como o período que se segue tem tanto de mágico como de tumultuoso, é
fácil cair-se na tentação de ir empurrando o assunto “com a barriga”, que é
como quem diz: no meio de tudo o que há para fazer depois do nascimento do
bebé, o sexo pode ficar para último plano.
É normal que haja diminuição do
desejo sexual durante a gravidez. Pelo menos, para alguns homens (e para
algumas mulheres). Mas não é saudável que se fuja ao assunto e que se procure
gerir a questão sem falar abertamente sobre o que cada um sente. É que quando
um se expõe, dá oportunidade ao outro para acolher esse apelo.
Afinal, da mesma maneira que há homens
que continuam a desejar as suas mulheres à medida que o corpo se transforma, há
outros que – sem que haja medos irracionais associados – sentem repulsa. E não
é mesmo nada fácil dizer “não sinto desejo por ti assim”. Mas a verdade é que
todos os sentimentos são legítimos e, na medida em que as emoções sejam
verbalizadas, é muito mais provável que os membros do casal encarem estas
dificuldades como normais e transitórias.