ci·ú·me
substantivo masculino
1. Receio ou despeito de certos .afetos alheios não serem exclusivamente para nós.
2. Inveja.
3. Receio.
"ciúme", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/DLPO/ci%C3%BAme.
Qual é o peso do ciúme numa
relação? É normal? É prejudicial? É essencial?
Há quem diga que não há amor sem
ciúme, como se quem não sente ciúme não chegue a amar de facto a pessoa que tem
ao lado. E depois há quem se sinta escaldado por relacionamentos mais ou menos
claustrofóbicos e olhe para qualquer manifestaçãozinha de insegurança como se
se tratasse de um exemplo claro de ciúme patológico. Então, o que é que é
saudável para uma relação? É imprescindível que haja algum ciúme? Ou será que
uma relação feliz não deve incluir este tipo de receios?
É normal que nos sintamos tristes
com um ou outro comportamento da pessoa de quem gostamos. E claro que é normal
que nos sintamos enraivecidos a propósito de uma ou outra escolha. Já não é
assim tão saudável que a tristeza ou a raiva sejam sentimentos recorrentes numa
relação amorosa. Por muito que continue a ouvir-se coisas como “os opostos
atraem-se” ou “quanto mais me bates, mais gosto de ti”, a verdade é que aquilo
que procuramos numa relação amorosa é segurança, afeto, cumplicidade, amparo e alegria.
Não é tristeza nem fúria. Há um plafond
para essas emoções: por exemplo, algumas investigações têm demonstrado que numa
relação estável há um rácio de vinte interações positivas (beijinhos, abraços,
elogios) para cada interação negativa (críticas, amuos, gritos). Isso não
significa que numa relação feliz não haja espaço para gritos. Há. Mas não há
relação feliz se houver gritos todos os dias. E depois há relações que, não
sendo perfeitas, são relações onde não há gritos.
Tenho sempre muitas dúvidas em
relação à suposta satisfação conjugal de quem NUNCA discute. Não é uma questão
de acreditar que as discussões possam apimentar o que quer que seja. É,
sobretudo, a certeza de que numa relação íntima é praticamente impossível que
não haja zangas, tensões, atrito. Então, quando duas pessoas me dizem que nunca
se zangam, temo o pior: que aquela não seja uma relação suficientemente íntima,
que aquelas duas pessoas não estejam a conseguir-se expor-se totalmente.
Em relação ao ciúme, as coisas
podem colocar-se desta forma: é normal sentir ciúme a propósito de um ou outro
comportamento do parceiro.
Mas não é saudável que alguém
viva permanentemente inseguro, enciumado. O ciúme, tal como a tristeza ou a
raiva, não apimenta nada. É, apenas, uma emoção legítima, que pode atingir
qualquer pessoa. Se alguém se sentir permanentemente inseguro, dificilmente
terá disponibilidade mental para fazer a outra pessoa feliz.
É normal que uma mulher se sinta
enciumada quando vê o marido a conversar entusiasmado com uma colega. E até é
normal que lhe mostre o seu incómodo, temendo que a atenção que ele dá à colega
possa colocar a relação em risco. O ciúme é um sentimento. E todos os sentimentos
são normais. Mas a relação pode não ser saudável se a mulher der por si a
pensar “Porque é que ele está a falar com ela? Será que a acha mais
interessante do que eu? Será que está a flirtar com ela? Será que está a pensar
trair-me?”. Nesse caso, a mulher poderia assumir um comportamento controlador,
tentando impedir que o marido voltasse a falar com a colega.
Quando a emoção (legítima) passa
a controlar a pessoa (em vez de ser a pessoa a controlar a emoção), surgem
comportamentos pouco legítimos que tendem a produzir o efeito contrário ao
esperado. É normal sentir ciúme. Mas nem todos os comportamentos são
aceitáveis.