Sou homem... Gosto de sexo. Foi assim que
Francisco respondeu à minha pergunta (“O que é que promove o seu desejo
sexual?”). Como se a mulher, por ser mulher, não gostasse tanto. Ela tratou
logo de esclarecer que também gosta. Como muitos outros casais com quem tenho
trabalhado, os problemas foram-se avolumando até ao ponto de quase tudo ser
motivo para braços-de-ferro. Passaram a discutir por tudo e por nada. Não
admira, por isso, que a insatisfação se tenha estendido à sexualidade.
O que é que acontece quando não nos
sentimos tão amados como antes? O que é que acontece quando a pessoa que
escolhemos para partilhar uma vida não está tão atenta às nossas necessidades
afetivas como precisamos? O que é que acontece quando ele(a) deixa de estar
"lá"? Sentimo-nos sós, desamparados. Às vezes zangamo-nos. Às vezes
até disparatamos – em terapia é muito fácil perceber que quanto maior for a
sensação de abandono, maior será a probabilidade de alguém fazer ou dizer
disparates.
Não importa se os problemas começaram por
simples arrufos com a mãe dele ou com pequenas discussões a propósito das
tarefas domésticas. Se há um que vai pedindo ajuda ou a atenção do outro e não
a recebe, é normal que a distância emocional se instale. E daí aos problemas na
intimidade sexual pode ser um instante. Claro que quando a mulher se queixa
porque se sente sobrecarregada com a lida da casa e pede ajuda não está
propriamente a dizer que, se o problema não for resolvido, não há sexo para
ninguém. Quando o marido critica a presença constante da sogra lá em casa está
só a reivindicar a definição mais clara de alguns limites e não tem consciência
de que esse foco de tensão também possa refletir-se – mais cedo ou mais tarde –
na cama do casal.
Numa relação amorosa homens e mulheres
procuram as mesmas coisas. Para que nos sintamos seguros (e felizes), é preciso
que a pessoa de quem gostamos:
- ESTEJA DISPONÍVEL para nós, mesmo quando
há alguma insegurança. A última coisa de que alguém precisa é de ouvir frases
como “lá estás tu” ou “isso são coisas da tua cabeça”. Estar disponível é
prestar atenção, é mostrar interesse, é querer saber, é “estar lá” sempre que é
preciso e mostrar que somos importantes.
- RESPONDA às nossas necessidades dando
prioridade àquilo que sentimos e tentando dar provas de proteção e conforto,
mesmo que isso implique ir “contra” a vontade da família alargada ou de
qualquer outra pessoa. Esta capacidade de resposta faz com que nos sintamos
especiais e amparados.
- ASSUMA O COMPROMISSO de estar ao nosso
lado. Isso implica olhar com atenção, tocar, mostrar o afeto com frequência e
estar emocionalmente presente.
Quando um se sente triste ou inseguro e as
discussões começam a fazer parte do dia-a-dia, podem surgir algumas diferenças
de género:
É como se as mulheres precisassem de se
sentir emocionalmente seguras para que consigam entregar-se sexualmente. Se não
há segurança, não há desejo. A maior parte dos homens também precisam de estar
emocionalmente seguros para viver a sexualidade em pleno mas… não só são
capazes de sentir desejo sexual quando há dificuldades no relacionamento como
olham para a inexistência de desejo sexual como um entrave à intimidade
emocional. Neste caso, é a diminuição do desejo que é sentida como um sinal de
perigo. Se não há desejo, não há segurança.
Quando, em terapia, cada um tem
oportunidade de se expor e de dizer ao outro aquilo de que precisa, tudo se
torna mais fácil e simples: ambos precisam de se sentir amados. Desejados. E de
sentir que as suas necessidades afetivas são valorizadas na medida certa.