Há qualquer coisa de viciante nesta
história de podermos usar o telemóvel para aceder a mensagens, e-mails e redes
sociais. Antes de mais, é como se nunca estivéssemos verdadeiramente sós. Há
sempre alguém que está online. Há
sempre alguém que parece comunicar connosco. Não importa se, no final do dia,
chegamos à conclusão que perdemos demasiado tempo a olhar para o smartphone. Não importa se, feitas as
contas, o resultado for sempre o mesmo: demasiado tempo gasto, poucos ganhos. O
que importa - e nos impede de romper com o vício - é a gratificação que obtemos
a cada momento.
Mas há mais: ainda que algumas mensagens e
alterações de status possam
irritar-nos, o telemóvel protege-nos do conflito direto. É muito mais fácil
revirar os olhos ou soprar de neura sem que o alvo da nossa fúria esteja a olhar-nos
nos olhos. Tudo é mais leve, mais superficial, mais fácil de gerir.
Pelo meio ainda há a possibilidade de, com
tantas consultas ao telemóvel, sermos os primeiros do nosso grupo de amigos a
saber do acontecimento X e a publicá-lo no Facebook. E também há algo de
gratificante nisso.
É como se de cada vez que enviamos uma
mensagem, publicamos uma fotografia ou escrevemos no nosso mural estivéssemos a
ligar-nos às pessoas de quem gostamos. E é isso que muitas vezes dizemos a nós
próprios: as mensagens e publicações são uma bênção da tecnologia para nos aproximar
de familiares e amigos.
Que urgência é esta de nos ligarmos a quem
está longe ao ponto de desvalorizarmos a ligação a quem está fisicamente
presente?
Quando nos viciamos nos likes e elogios que recebemos via iPhone,
arriscamo-nos a sobrevalorizar o superficial e a descurar o essencial. É que,
no final do dia, não é de mimos virtuais que precisamos para nos sentirmos
felizes e amparados. É de quem nos beije com amor, de quem nos toque com
entusiasmo, de quem nos olhe nos olhos e nos mostre que está lá. Mas isso só
acontece quando investimos nos relacionamentos e paramos de olhar para o
telemóvel.