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24.11.14

PORQUE É QUE NÃO PARAMOS DE OLHAR PARA O TELEMÓVEL?


Há qualquer coisa de viciante nesta história de podermos usar o telemóvel para aceder a mensagens, e-mails e redes sociais. Antes de mais, é como se nunca estivéssemos verdadeiramente sós. Há sempre alguém que está online. Há sempre alguém que parece comunicar connosco. Não importa se, no final do dia, chegamos à conclusão que perdemos demasiado tempo a olhar para o smartphone. Não importa se, feitas as contas, o resultado for sempre o mesmo: demasiado tempo gasto, poucos ganhos. O que importa - e nos impede de romper com o vício - é a gratificação que obtemos a cada momento.


Mas há mais: ainda que algumas mensagens e alterações de status possam irritar-nos, o telemóvel protege-nos do conflito direto. É muito mais fácil revirar os olhos ou soprar de neura sem que o alvo da nossa fúria esteja a olhar-nos nos olhos. Tudo é mais leve, mais superficial, mais fácil de gerir.

Pelo meio ainda há a possibilidade de, com tantas consultas ao telemóvel, sermos os primeiros do nosso grupo de amigos a saber do acontecimento X e a publicá-lo no Facebook. E também há algo de gratificante nisso.

É como se de cada vez que enviamos uma mensagem, publicamos uma fotografia ou escrevemos no nosso mural estivéssemos a ligar-nos às pessoas de quem gostamos. E é isso que muitas vezes dizemos a nós próprios: as mensagens e publicações são uma bênção da tecnologia para nos aproximar de familiares e amigos.


Que urgência é esta de nos ligarmos a quem está longe ao ponto de desvalorizarmos a ligação a quem está fisicamente presente?

Quando nos viciamos nos likes e elogios que recebemos via iPhone, arriscamo-nos a sobrevalorizar o superficial e a descurar o essencial. É que, no final do dia, não é de mimos virtuais que precisamos para nos sentirmos felizes e amparados. É de quem nos beije com amor, de quem nos toque com entusiasmo, de quem nos olhe nos olhos e nos mostre que está lá. Mas isso só acontece quando investimos nos relacionamentos e paramos de olhar para o telemóvel.
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