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5.11.14

TRAIÇÃO: CONTAR OU NÃO?


Se traísse, acha que contaria? Ou guardaria o segredo para si? Será que é melhor abrir o jogo e dar oportunidade ao parceiro de decidir se quer continuar na relação ou não dizer nada para não correr risco de deitar tudo a perder? Já agora, perante a hipótese de ser traído(a), gostava que lhe contassem ou preferia viver na ignorância?

As opiniões dividem-se, quer entre quem trai/ é traído, quer entre profissionais. Conheço vários psicólogos e psiquiatras que consideram que revelar uma traição é um autêntico disparate. Sim, leu bem. Há quem defenda que a confissão é apenas (mais) um comportamento egoísta, de quem não consegue lidar com os sentimentos de culpa. E como a partilha vai causar dano, aos olhos destes profissionais, é melhor não contar. Assim, defendem, evita-se que o outro sofra e protege-se a relação. Mas será que é sempre assim?


Estarão as pessoas que traem a entregar-se por inteiro na sua relação? Ou estarão acomodadas a uma relação que não as preenche?

Eu trabalho diariamente com casais que passaram pela experiência da infidelidade. Na maioria das vezes a relação extraconjugal não foi revelada pelo próprio. A pessoa foi apanhada e, depois do terramoto inicial, o casal optou por pedir ajuda. Mas também há situações em que a pessoa que traiu optou por contar. Por se sentir culpada. Por não achar justo continuar a enganar. Ou por acreditar que a confissão pudesse servir de ponto de partida para enfrentar os problemas (antigos) da relação. Nunca ouvi ninguém dizer que preferia que o marido ou a mulher não tivesse contado. Acredito que haja quem preferisse não saber. Acredito que haja quem, no fundo, quisesse manter-se na ignorância. Mas a verdade é que em terapia ninguém o assume. Talvez por vergonha. Ou então por acreditar que, na prática, a revelação de uma infidelidade pode implicar o reconhecimento de que alguma (ou muita) coisa já não estaria bem na relação.

É verdade que há vários tipos de infidelidade. Um caso de uma noite não é a mesma coisa que uma traição continuada. Ceder a um impulso momentâneo não é o mesmo que trair várias vezes. Mas há algo em comum a estas situações. Em primeiro lugar, os estragos: é muito difícil lidar com a mágoa que resulta de uma traição, independentemente das circunstâncias. Mas também há o enfraquecimento dos laços. Estas são, quase sempre, relações enfraquecidas. É certo que nenhuma relação é perfeita, nenhuma relação pode ser considerada à prova de infidelidade. Mas uma relação coesa, marcada por elevados níveis de satisfação e de intimidade emocional, é infinitamente menos vulnerável a este tipo de acontecimentos. Quando uma pessoa é infiel, é quase certo que alguma coisa não está bem no seu casamento. E a pessoa que trai pode nem ser capaz de identificar de forma clara o que está a promover a distância. A pessoa pode ser capaz de reconhecer que as coisas já não são como antigamente mas sozinha não consegue identificar (e muito menos ultrapassar) os problemas. Escolher viver com este segredo pode implicar manter um casamento deteriorado e não dar resposta às lacunas que existem.


Enfrentar uma infidelidade é difícil, sim. E há quem não consiga perdoar. Mas, na prática, a esmagadora maioria dos casais continuam juntos depois disso. E isso é muito mais provável quando dão a si mesmos a oportunidade de olhar para trás e resolver o que houver para resolver.
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