De vez em quando há quem me
pergunte se o sexo é assim tão importante numa relação amorosa. Como se pudéssemos
dissociar a intimidade sexual de tudo o resto que caracteriza um relacionamento.
Sim, há quem pergunte “Se duas pessoas
se derem mesmo bem, se forem os melhores amigos, e forem felizes assim (sem
sexo), qual é o problema?”. O “problema” é que isso é o que caracteriza uma
amizade, não um relacionamento amoroso. É verdade que há casais felizes que já
não têm sexo há anos. São amigos. Os melhores amigos. Mas a generalidade dos
adultos precisa de mais do que isso.
O sexo é importante na medida em
que é uma das formas de nos ligarmos à pessoa que amamos. É evidente que não é
só através do sexo que se constrói uma ligação afetiva segura. Mas a verdade é
que essa forma de intimidade é um laço potentíssimo. Quanto melhor as coisas
funcionam a esse nível, mais felizes somos e mais seguros nos sentimos (dentro
e fora da relação).
Infelizmente, para algumas
pessoas (e para boa parte dos meios de comunicação social) a satisfação sexual
passa sobretudo por ser capaz de experimentar técnicas novas. Há uma ênfase irrealista
no desempenho, como se cada um de nós fosse mais feliz se pudesse reproduzir
diariamente aquilo que mostram os filmes pornográficos. Não tenho nada contra a pornografia e, enquanto terapeuta conjugal,
proponho o seu visionamento a alguns dos casais com quem trabalho. Mas a
verdade é que a ciência tem mostrado que a satisfação sexual (e conjugal) tem
muito menos a ver com desempenho/ performance e mais a ver com a comunicação/
ligação noutras áreas.
É verdade! Claro que algumas
revistas tentam convencer-nos de que fazer sexo com a mesma pessoa durante mais
de um mês é uma valente seca. Mas as investigações (e a prática clínica)
mostram que é possível ter bom sexo com a mesma pessoa durante anos. Mais:
quanto maior for a ligação e quanto mais aquelas duas pessoas praticarem,
melhor é o sexo.
O sexo é como a dança. Já experimentou dançar sem música? Também
pode ser uma experiência agradável. Mas quem já experimentou dançar ao som da
música, sabe que é bem melhor. Com o sexo é a mesma coisa: Quando não há
ligação emocional, o sexo pode ser bom. Mas quando há uma conexão segura, é
muito melhor. E, tal como acontece com a dança, quando começamos a praticar e
mal conhecemos o nosso parceiro, podem acontecer alguns percalços, algum
embaraço, alguns desencontros. Com a prática vem a segurança e o entusiasmo.
Os casais mais felizes, aqueles
que constroem uma ligação segura, reconhecem a importância do sexo. Usam-no
como forma de se conectarem. Entregam-se sem reservas. E sentem o maior prazer
que se pode sentir.