Há algum tempo, à chegada a um
canal de televisão, houve uma mulher que me perguntou “Então, sobre o que é que
vem falar?”. Expliquei que estava ali para comentar uma situação de conflito
entre um pai e uma mãe que, na sequência de um processo de separação, não
estavam a conseguir chegar a acordo em relação à guarda da criança.
Não faço ideia se esta senhora
tem filhos ou se alguma vez enfrentou um processo de divórcio. Espero que não.
Ser pai ou mãe é, acima de tudo,
assumir a responsabilidade de cuidar, estar “lá”, dar resposta às necessidades
(emocionais e não só) de uma criança. Amar não chega. E, seguramente, não chega
dizer que se ama e que se quer o melhor para um filho. Ser pai ou mãe implica
aceitar que nenhum filho é posse de alguém. Implica pôr de lado os ciúmes, os
medos e as inseguranças (ou trabalhá-los em sede própria se for caso disso) e
aceitar que a esmagadora maioria das crianças precisam do pai e da mãe. Sim, há
casos em que a presença de um progenitor pode ser prejudicial – estou a
lembrar-me de todos os adultos que batem, violam e matam, por exemplo. Mas, de
um modo geral, um filho precisa de construir um vínculo seguro com o pai e com
a mãe. Precisa de se sentir livre para conviver com os tios, os primos e os
avós dos dois lados da família. Precisa de sentir o amor incondicional dos
adultos que, ainda que não consigam manter um casamento, dão o seu melhor para
que os interesses das crianças venham SEMPRE em primeiro lugar.
Quando um dos progenitores faz o
que está ao seu alcance para afastar os filhos do outro – mudando de país, ou
de cidade, denegrindo a sua imagem, inventando esquemas ou pura e simplesmente
convencendo-se de que as crianças precisam da “estabilidade” de um único lar –
não está só a castigar o ex-cônjuge. Está, sobretudo, a prejudicar GRAVEMENTE
os próprios filhos.
Quando um adulto priva um filho
do contacto regular com o outro progenitor, pode convencer-se de que está a
proteger a criança. Não está.