- Sim, traí e estou disposto a
assumir toda a responsabilidade pelo meu erro.
Quando João me disse esta frase,
na primeira consulta de terapia conjugal, não estava só a mentir (de novo) à
mulher. Talvez estivesse também a mentir a si mesmo. Talvez quisesse dizer
“Estou disposto a assumir o meu erro”. Mas a verdade é que estava, longe, muito
longe, de querer assumir “toda a responsabilidade”. Duas semanas antes a mulher
tinha encontrado uma mensagem comprometedora no telemóvel e, depois de
vasculhar faturas, e-mails e sabe-se lá mais o quê, confrontou-o com uma
certeza: João estava a ter um caso com uma colega de trabalho. Seguiram-se dias
de choro, discussões, avanços e recuos. Quando chegaram até mim, ambos
mostraram vontade de reconstruir a relação. Mas… João tinha muito mais
condições a impor do que a mulher. Não estava disposto a cortar relações com a
colega “porque ela não merecia isso”, não queria que a mulher voltasse a
vasculhar o seu telemóvel nem as contas de e-mail. Quinze dias depois da
primeira consulta, a mulher voltou a encontrar mensagens que davam conta da
manutenção da relação extraconjugal e decidiu sair de casa.
Há quem confunda assumir a culpa
pelos erros cometidos com assumir a responsabilidade.
Quando uma pessoa é infiel, é
importante que seja capaz de assumir que errou. Esse é o primeiro passo para a
(tentativa de) reconstrução da relação. Mas é só isso: o primeiro. Depois são
precisos outros:
TERMINAR A RELAÇÃO EXTRACONJUGAL.
Parece óbvio mas há quem decida tentar reconstruir o casamento (também através
da terapia de casal) sem ter posto fim à relação extraconjugal. Há quem alegue
que tem medo de represálias. Há quem assuma que se sente confuso. Há quem
queira o melhor de dois mundos. A verdade, mais cedo ou mais tarde, vem à tona
e lá se vai qualquer hipótese de salvar o casamento.
DESCOBRIR OS PORQUÊS. Quer para
quem trai, quer para quem é traído, é fundamental olhar para trás e tentar
identificar as razões que levaram a que o affair
acontecesse. O casal deve ser capaz de traçar um plano para lidar com as
razões, as desculpas ou as circunstâncias que envolveram esse caso - porque é
muito provável que elas voltem a surgir.
EVITAR FALSAS PROMESSAS. Não adianta
prometer que “não voltará a acontecer” quando ainda não se sabe muito bem
porque é que aconteceu. É preferível dizer (com honestidade) que quer tentar,
que quer olhar para trás e entender o que se passou e que quer melhorar a
relação para que não volte a haver espaço para uma terceira pessoa.
OUVIR E FALAR. Quem traiu deve
estar disponível para ouvir - e para falar - sempre que o cônjuge precisar.
Assumir a responsabilidade pelo erro cometido implica ajudar o companheiro a
sarar as feridas e restabelecer a confiança. Há alturas em que a pessoa traída
precisa de carinho e de atenção. Mas também há momentos de descrença e de raiva
por tudo o que aconteceu e que faz com que nada possa voltar a ser “como era
antes”.
ASSUMIR UM CAMINHO DE
TRANSPARÊNCIA. Não vale a pena enveredar por meias-verdades. A confiança só
será restabelecida se a pessoa que traiu quiser cuidar do companheiro,
assumindo total transparência em relação às suas decisões, às suas escolhas. A
pessoa traída quer ver o telemóvel? Deixe-a. Não vale a pena perguntar “para
quê?”. Não adianta zangar-se. Vai ser preciso algum tempo (e transparência) para
que a confiança seja reconstruída.