Leonor pediu a minha ajuda para
terminar uma relação que rotulou, logo na primeira consulta, de
"doentia". Há quase 10 anos que estava envolvida com um homem casado
e estava cansada. "É de loucos! Eu sei que ele não se vai separar. Já terminámos
inúmeras vezes. Mas acabo por voltar. Preciso de ajuda para me libertar
disto". E o que é "isto"? É uma relação desequilibrada,
marcada por constantes expetativas irrealistas, sonhos que teimam em não
acontecer. A vida de Leonor é a vida de muitas mulheres que reconhecem que
vivem de "migalhas", que se sentem permanentemente sós e carentes e
que têm muita dificuldade em dar a volta.
A maior parte das mulheres que me
procuram nestas circunstâncias são bem-sucedidas profissionalmente, têm amigas,
uma rede de suporte mas... Também têm quase sempre sérias dificuldades
relacionadas com a autoestima. Às vezes, em função dos cargos que desempenham
ou até da beleza que as caracteriza, parecem mulheres seguras, capazes de fazer
escolhas melhores.
Um olhar mais minucioso sobre os
seus sentimentos permite quase sempre identificar uma bagagem emocional
recheada de vulnerabilidades.
São quase sempre as feridas
emocionais que carregam - e que muitas vezes se esforçam por camuflar - que as
empurram para estes relacionamentos destrutivos.
É a carência. A necessidade de se
sentirem amadas. A ânsia de se sentirem valorizadas por alguém que teima em não
dar a atenção que evidentemente merecem. Vivem num ciclo vicioso marcado por
tentativas de agradar à pessoa de quem gostam, comparações infrutíferas com a
esposa (“O que é que ela tem que eu não tenho?”), deterioração da autoestima,
sentimentos de culpa e solidão (nem que seja porque os verdadeiros momentos
especiais são SEMPRE passados com a esposa).
- Olhar para trás e identificar as próprias feridas emocionais (eventos difíceis, muitas vezes ocorridos na infância, que contribuíram para estas vulnerabilidades).
- Identificar as armadilhas da relação com um homem casado (as promessas, os "bons momentos", a falsa segurança, a sensação de conexão que teima em não se traduzir numa relação de compromisso).
- Reconhecer o próprio poder (desdramatizar o fim da relação, trabalhar a autoestima e as outras relações afetivas).
- Perspetivar o futuro (porque quando nos libertamos do que nos faz mal é muito mais fácil olhar para a frente e fazer as escolhas que nos aproximem realmente daquilo que merecemos).