A propósito das mais recentes
notícias a envolver Bárbara Guimarães e alegadas situações de violência
doméstica, alguém me perguntou: "O
que é que leva uma mulher independente a sujeitar-se a ser vítima de violência
doméstica continuada?". A propósito de todos os casos de violência
doméstica (e mortes de mulheres), a esta pergunta costumam juntar-se outras:
As perguntas são compreensíveis.
Afinal, até há pouco tempo associávamos este crime a mulheres com pouca
escolaridade, fracos recursos financeiros e escassa rede de suporte. Era como
se apenas as mulheres que estavam financeiramente dependentes dos maridos
pudessem esconder esta realidade durante meses ou anos.
Gradualmente começa-se a perceber
que não. Afinal, as vítimas também podem ser mulheres bonitas, inteligentes e,
pasme-se, bem-sucedidas profissionalmente. Podem ser mulheres informadas e com
uma extensa rede de suporte. Pode ser a
vizinha do lado, advogada brilhante e temida nos tribunais. Pode ser a médica
de família, tão boa a aconselhar os seus doentes. Pode ser a apresentadora de
televisão.
Aquilo que a generalidade das
pessoas ignora é que a violência doméstica não são "apenas" as
chapadas, os pontapés e os empurrões. Há um veneno silencioso, que não deixa
marcas visíveis, e que vai corroendo a
autoestima, vai promovendo o desespero, vai aprisionando: a violência
emocional.
- São as ameaças feitas de forma clara ou implícita à vida da vítima, À VIDA DOS FILHOS ou à vida de outros familiares.
- É a chantagem continuada. "Se abrires a boca é pior", "Vou divulgar as tuas fotografias nua", "Faço um escândalo no teu emprego", "Ninguém vai acreditar em ti e eu ainda vou mostrar que tu és desequilibrada", "Vou tirar-te os teus filhos".
- São os insultos e humilhações, que começam de fininho e que vão crescendo até parecerem, aos olhos da vítima, verdades absolutas. "Não vales nada", "Estás gorda e velha", "És louca", "És uma péssima mãe", "Os teus filhos hão de culpar-te pela separação".
- São as perseguições, o medo constante, a sensação de vigilância permanente. "Não estavas à espera que eu aparecesse, não é?", "Já viste os teus filhos hoje? Vê lá se queres apanhar um susto", "Com quem é que estavas a falar? Não me queiras ver nervoso".
É a violência emocional – a tal
que é difícil de provar nos tribunais – que rouba a energia e o discernimento.
Mas é SEMPRE possível romper o ciclo vicioso e é aí que entramos nós enquanto
sociedade. É preciso denunciar, apoiar, estar “lá” e deixar de fazer juízos de
valor, sobretudo quando não se conhece na pele o terror por que algumas
mulheres já passaram.