Perguntam-me muitas vezes quem
são os casais que me pedem ajuda. O que é que os diferencia dos casais
"normais", que vemos à nossa volta? Que problemas trazem? Que erros
cometem? Como é que os ajudo a dar a volta? Há sempre hipótese de dar a volta?
Os casais que fazem terapia não
estão felizes. Não quer dizer que não haja amor. Normalmente há. Mas é o facto
de serem capazes de assumir que não estão felizes que os leva a pedir ajuda. Às
vezes reconhecem os próprios erros mas há demasiadas mágoas a impedir que sejam
capazes de dar a volta sozinhos. Acumularam episódios difíceis, disseram muitas
coisas que não deveriam ter sido ditas (e que abriram feridas) e sentem-se
desconectados.
O meu trabalho também passa por
ajudá-los a perceber que, para voltarem a sentir-se assim, é fundamental mudar
alguns hábitos. Não é só uma questão de melhorarem a comunicação. Não é só uma
questão de serem capazes de ouvir atentamente o que cada um diz. É, sobretudo,
uma questão de serem capazes de identificar os (maus) hábitos que estão a
contribuir para o seu afastamento e que precisam de ser substituídos:
1 - Postura hipercrítica.
Os casais felizes também fazem
críticas. Mas doseiam-nas. Quando uma pessoa se queixa repetidamente é como se
houvesse algum defeito no parceiro. Uma falha na personalidade. A crítica é um
ataque contra a pessoa. Exemplo: Você descobriu que a tampa da sanita está para
cima.
Queixa: "A tampa da sanita
está para cima novamente. Por favor, tenta baixá-la depois de a usares.".
Crítica: "O que é que há de
errado contigo? Não ouviste o que eu disse ou és um preguiçoso?".
Mas mesmo que você se queixe, é
preciso ter cuidado com o número de vezes que o faz. Fazer um rol de queixas
(em vez de prestar atenção às coisas boas) pode produzir a mesma sensação (“Não
presto para nada”).
2 – Postura Defensiva
Este mau hábito costuma resultar
de uma tentativa de se proteger; para defender a sua inocência ou para repelir
aquilo que você acha que é um ataque. Às vezes, isso é feito por contra-ataque
ou pela vitimização. Por exemplo, a frase "Eu? Então e tu? Tens sempre
tudo desarrumado…" transmite a mensagem de que você não está interessado
no que o seu parceiro tem a dizer.
Aqui está um exemplo de uma
resposta defensiva à tampa da sanita levantada: "Eu nem sequer fui à casa
de banho. Como é que eu poderia ter deixado a tampa para cima? ".
Resposta positiva: "Eu sei
que me pediste para tentar mantê-la para baixo. Eu não me lembro mesmo de ter
ido à casa de banho, mas vou colocá-la para cima na próxima vez. ".
A capacidade de aceitar alguma
responsabilidade, não importa quão pequena, é um antídoto para a postura
defensiva. Você olha para o que o seu parceiro diz e tenta reconhecer a sua
responsabilidade, não o que você discorda.
3 - Indiferença
A pessoa que está a ouvir
retira-se da conversa. Há um esforço para transmitir a mensagem "Podes
dizer o que quiseres, não quero saber". Você vai ver este tipo de
comportamento não-verbal: Olhar para o lado; Não manter contacto visual; Cruzar
os braços. A pessoa está tão enervada que “desliga”. É invadida por pensamentos
como "Eu não posso acreditar que ele(a) disse isto! É tão injusto!").
A outra pessoa sente-se ignorada e a agressividade tende a subir. A alternativa
é aprender a acalmar-se ativamente, e, em seguida, voltar a envolver-se na
conversa.
4 - Desprezo
É o pior hábito e, ao contrário
dos anteriores, dificilmente o vemos nos casais felizes. Inclui coisas como
ameaças e insultos. Nada é mais destrutivo para o amor. Às vezes, há um que
ridiculariza o outro. Às vezes, há um que corrige a gramática do outro. A mensagem
é: "Eu sou superior a ti.".
Nem sempre é fácil reconhecer os
próprios erros. Mas é a única forma de salvar uma relação.