Chegam quase sempre aflitos.
Quase todos querem salvar a relação. E quase todos assumem que o amor que
sentem não tem chegado para resolver os problemas no casamento. Amam-se mas
andam desencontrados. É assim que encontro a maior parte dos casais com quem
trabalho.
E porque é que é assim? Terão
todos os mesmos problemas? Serão sobretudo dificuldades de comunicação?
Há casais que viram a sua ligação
quebrar-se com o terramoto de uma infidelidade. Há outros para quem,
aparentemente, chegou o fim da linha (porque há um que não aguenta mais e pede
o divórcio). Há os que estão cansados de tantas discussões. E há aqueles que
(quase) nunca discutem e em que um mal conhece as necessidades do outro.
O grande desafio da maior parte
dos casais tem a ver com o facto de a pessoa de quem gostamos ser,
simultaneamente, aquela com mais poder para nos magoar. E não é preciso muito
para que ele(a) nos fira ou nos desiluda. Basta revirar os olhos enquanto
falamos, não prestar atenção quando precisamos que nos escute com carinho ou
dar uma resposta torta quando nos sentimos vulneráveis.
Não há intimidade sem
vulnerabilidade. Ligarmo-nos a alguém é colocarmo-nos à mercê dessa pessoa. É
colocarmos o nosso coração nas suas mãos. E também é ter a certeza de que, mais
cedo ou mais tarde, aquela pessoa vai falhar e magoar-nos. Não porque nos
queira mal. Mas porque é humana.
Os casais que constroem uma
ligação forte, aqueles que procuram estar “lá” para o outro, que se preocupam,
cuidam, acarinham e que colecionam memórias positivas, acabam por conseguir
ultrapassar rapidamente estas mágoas. É como se tivessem um mealheiro de afetos
que lhes permite relevar e continuar de mãos dadas. Às vezes até saem destes
momentos difíceis ainda mais unidos e com a certeza de que querem ficar juntos.
Mas quando a relação não está
segura, quando o mealheiro de afetos está vazio e as coisas boas são largamente
ultrapassadas por momentos de tensão e desconexão, surge a permanente sensação
de que a pessoa que amamos não está “lá” para nós na maior parte das vezes. E
então cada falha é encarada como um obstáculo intransponível. Cada desilusão é
um passo a caminho da rutura.