São as noites mal dormidas. É a casa
sempre de pantanas. É o dinheiro que se evapora. E um bebé – lindo e fofo – que
chora por tudo e por nada e que exacerba a sensação de que tudo está fora de
controlo. A etapa mais desejada pela maior parte dos casais é também uma das
mais desafiantes. Quando nasce o primeiro filho muda tudo e, muitas vezes, não
é fácil lidar com todas as mudanças ao mesmo tempo. Até os casais mais unidos podem
sentir dificuldades sérias. Até esses podem sentir-se momentaneamente
desconectados.
Alguns vão permitindo que as mágoas deem lugar a círculos viciosos marcados por muitas críticas, muitos ataques e muitos amuos. É quase sempre assim: quando a aflição toma conta do casal, há muitas reclamações, muitas discussões e pouco ou nenhum tempo para alimentar a relação. Mas também há casais que ‘acordam’ a tempo, que procuram travar a escalada e que, gradualmente, recuperam a conexão. Não são super-homens nem supermulheres. Não têm enfermeiras a tempo inteiro nem um batalhão de empregados. Muitas vezes nem sequer têm o bebé mais calmo do mundo.
Há ferramentas que estão ao alcance de
todos e que podem alimentar o amor romântico e a sensação de que a pessoa que
está ao nosso lado, não sendo perfeita, é “a tal”:
ENVOLVER
O PAI NOS CUIDADOS AO BEBÉ.
Não há volta a dar: quanto maior for a
participação do pai logo no início, maior é a probabilidade de os membros do
casal sentirem que estão realmente juntos neste desafio. Algumas mães enfrentam
alguma dificuldade em delegar, em dar espaço para que o pai intervenha. É
normal. Sim, a sensação de ‘posse’ também é normal. Mas é preciso fazer um
esforço e permitir que ambos aprendam com os erros e ganhem confiança. Quando o
pai e a mãe se revezam na tentativa de acalmar o bebé ou nas mudas de fraldas,
não estão só a adquirir competências como pais. Estão a trabalhar em equipa,
estão a dizer um ao outro “Gosto de ti”.
RESOLVER
OS CONFLITOS LONGE DA CRIANÇA E DE FORMA CONSTRUTIVA.
Os conflitos são inevitáveis. Há bebés
extraordinariamente calmos que não provocam grandes alterações às rotinas do
casal. Mas são exceções. Quase todos os casais acabam por discutir, às vezes de
forma séria. Isso não é dramático; faz parte do crescimento do casal. Mas hoje
sabe-se que as discussões têm um impacto no desenvolvimento neurológico dos
bebés. Quando os membros do casal se esforçam para baixar o tom de voz ou se
retiram do quarto (ou da sala) para que a discussão não afete o seu bebé, não
estão só a cuidar do filho. Também estão a trabalhar em equipa em nome de um
objetivo comum. E isso permite que se sintam mais unidos, apesar das
dificuldades.
INVESTIR
NA INTIMIDADE, INVESTIR NO NAMORO, INVESTIR NA SEXUALIDADE.
Qualquer pessoa pode queixar-se de
exaustão nas primeiras semanas depois do nascimento de um bebé. É normal que
esse cansaço roube a energia a que ambos estavam habituados. É natural que a
vontade de fazer amor diminua drasticamente. Mas é fundamental que nenhum dos
membros do casal se sinta ‘abandonado’.
O cansaço não deve ser desculpa para a
inexistência de gestos de afeto. É preciso continuar a dar de si, continuar a
dizer, através do toque, “Gosto de ti”. É preciso recuperar rotinas que
permitam voltar a namorar.
PROCURAR
INFORMAÇÕES SOBRE BEBÉS/ CRIANÇAS.
Os bebés não trazem livros de instruções.
Além disso, aquilo que funciona com um pode não funcionar com o outro. Mas isso
não significa que os membros do casal devam ‘esperar para ver’ como será o seu
bebé. Os cursos de preparação para o parto são uma excelente forma de envolver
os membros do casal neste desafio. Conversar com amigos que tenham sido pais há
pouco tempo e adquirir livros ou revistas da especialidade são também
oportunidades para que ambos possam familiarizar-se com os desafios que terão
pela frente. Depois do nascimento todas as dúvidas se multiplicam e é
fundamental que ambos assumam uma postura tolerante em relação à falta de
conhecimento. Colocar as perguntas mais estapafúrdias do mundo ao pediatra (ou
a outros técnicos de saúde), pedir uma segunda opinião e continuar a ler sobre
o assunto não são sinais de fragilidade. São sinais de que os pais estão a
querer ser (ainda) melhores pais.