Há momentos em que a pessoa que
mais amamos no mundo diz qualquer coisa ou faz um gesto que nos magoa
brutalmente. Aparentemente, não é nada extraordinário. E o mais provável é que
ele(a) olhe para a nossa reação com estupefação, como se não conseguisse
compreender porque é que nos sentimos tão tristes ou tão enraivecidos. Isso é o
que acontece quando a pessoa por quem nos apaixonámos toca num dos nossos
pontos fracos, aquelas vulnerabilidades de que nem sempre temos consciência e que
estão associadas a fragmentos do nosso passado. Refiro-me a situações da
infância ou de relações amorosas anteriores em que as nossas necessidades
afetivas foram ignoradas, desvalorizadas ou desprezadas, fazendo com que nos
sentíssemos abandonados.
Quando a pessoa de quem gostamos
– e de quem esperamos o melhor – diz ou faz qualquer coisa que nos relembre aquelas
sensações, dói demais.
Tornamo-nos defensivos,
fechamo-nos sobre nós mesmos ou preparamo-nos para contra-atacar. Quando nos
fechamos, amuando, aquilo que estamos a tentar fazer é autoacalmar-nos da desilusão
que acabou de ter lugar mas, na prática, este mecanismo de defesa acaba por ser
quase sempre mais uma forma de elevar a escalada da discussão. É que o “tratamento
de silêncio” acaba por ser sentido pelo outro como um castigo, enervando-o
ainda mais e impossibilitando-o de ser solidário com aquilo que estamos a sentir.
Quando “afiamos as garras”, numa reação claramente agressiva, ele(a) sente-se
atacado(a) e também não consegue ajudar-nos.
Antes de mais, é importante
perceber que AMBOS têm pontos fracos (ou feridas emocionais). Sim, o seu amor
também fica mais sensível e vulnerável perante algumas coisas que você diz ou faz.
É fácil perceber quando uma dessas feridas é tocada: das duas uma – ou a pessoa
tem um ataque de fúria (que parece que veio ‘do nada’), ou instala-se um
silêncio ensurdecedor.
Depois de uma situação em que as
emoções estiveram claramente ao rubro é importante parar para tentar
identificar aquilo que aconteceu. Experimente:
“Nesta situação aquilo que fez com eu me enervasse foi _____. À
primeira vista eu sei que que mostrei _____. Mas lá no fundo eu senti _____
(tristeza, raiva, vergonha, medo). Aquilo que eu precisava era _____.”
Depois de tentar perceber aquilo
que fez com que se descontrolasse, tente partilhar esta reflexão com o seu
companheiro. Eu sei que não é propriamente fácil colocar-se numa posição tão
vulnerável depois de um momento de tensão. Mas este é o caminho para que cada
um conheça os pontos fracos do outro e – a dois – possam construir uma relação
realmente íntima.