Quase toda a gente sabe até onde
é que a violência emocional pode ir. Sobretudo, na medida em que – mais cedo ou
mais tarde – haja violência física. Mas nem todas as pessoas são capazes de
reconhecer os primeiros sinais. Nem todas as vítimas são capazes de entender em
tempo real a dimensão de alguns comportamentos. Sabem que há “coisas” de que
não gostam mas vão fechando os olhos, vão desculpando, vão dizendo a si mesmas
que “é normal”. E vão sucumbindo a relações cada vez mais tóxicas e
destrutivas. Aprender a reconhecer os sinais de violência emocional é essencial
para que cada pessoa possa avaliar a sua própria relação e, assim, fazer
escolhas saudáveis.
1. HISTORIAL
DE AGRESSIVIDADE E VIOLÊNCIA.
Você sabe que a pessoa de quem
gosta já foi violenta com outras pessoas – ou porque ele(a) lhe contou, ou
porque houve outras pessoas que lhe disseram. Mas ele(a) é tão carinhoso(a)
consigo que essas histórias parecem descabidas e você acaba por ignorar este
sinal de alarme. Diz a si mesmo(a) que isso é coisa do passado, que só
aconteceu num determinado contexto e não acredita que possa acontecer consigo.
2. RELATÓRIOS
DIÁRIOS.
No princípio você acha graça ao
facto de ele(a) lhe contar TUDO o que fez durante o tempo em que não esteve
consigo. E acaba por fazer o mesmo – conta cada detalhe, relata cada diálogo
mantido com outras pessoas, descreve todas as horas do seu dia em pormenor. E
sente que a vossa relação é pautada pela honestidade e pela segurança. Mas
progressivamente há uma escalada e, a páginas tantas, você percebe que tem a
OBRIGAÇÃO de contar tudo. Se não o fizer, há amuos e exercícios de manipulação -
“Tu não confias em mim”, “Estás a esconder alguma coisa”, “Sabes que eu fico
inseguro(a) e não queres saber”.
3. DEPENDÊNCIA
EXCESSIVA.
A pessoa de quem gosta mostra-se
carente, vulnerável e está sistematicamente a precisar do seu apoio. Parece uma
vítima (dos pais, do chefe, do mundo em geral) que precisa MUITO do seu colo.
Tanto que você se sente na obrigação de passar horas a ouvi-la. Presencialmente
ou ao telefone. E se você precisar de fazer outras tarefas ou de desligar o
telefone? Lá vem a manipulação – “Tu não gostas de mim”, “Não queres saber como
eu me sinto”, “Estás a ser egoísta”. A verdade é que esta pessoa não pode ser
contrariada.
4. TOMA
DECISÕES SEM O(A) CONSULTAR.
No princípio são coisas
aparentemente sem importância. Você tinha combinado ir jantar a casa dos seus
pais e a pessoa de quem gosta informa que já comprou bilhetes para o cinema
porque se “esqueceu” do outro compromisso. Na prática, você acaba por estar SEMPRE
a fazer os programas e as atividades definidos pela outra pessoa. Aquilo que
você sente ou precisa não é valorizado.
5. APONTA
DEFEITOS EM TODAS AS DIREÇÕES.
Mostra-se seguro, carinhoso e
confortável consigo mas assume-se sistematicamente desconfortável na presença
de pessoas de quem você gosta.
E diz-lhe que a única pessoa que
lhe interessa é você. Este “amor que nunca mais acaba” não é mais do que uma
tentativa (infelizmente muitas vezes bem-sucedida) de o(a) afastar das pessoas
que gostam de si (e que podem ajudar a identificar os sinais de violência
emocional).
6. INVADE
A SUA PRIVACIDADE.
Faz-lhe a surpresa de aparecer no
seu local de trabalho e você acha que aquele é um gesto romântico. Mas
entretanto começa a aparecer de surpresa noutros locais (no centro comercial
para ter a certeza de que você está com quem disse que iria estar, por
exemplo). Telefona-lhe à hora de almoço e pergunta-lhe onde é que você está,
com quem está e a que horas voltará para o trabalho. Mexe no seu telemóvel, nas
suas contas de e-mail e redes sociais.
7. PRESSÃO
SEXUAL.
No princípio você sente-se desejada. Ele
chega a casa, você está a dormir e ele acorda-a para fazer amor.
E quando você cede, dá início à
escalada. Já não importa aquilo que você sente. O importante é provar que está
inocente. Então, se ele quiser que haja sexo de manhã, é de manhã. Se ele achar
que uma vez por dia não é suficiente, você volta a mostrar-se disponível.
8. DESCONTROLA-SE
E A CULPA É SUA (OU DOS OUTROS).
Há um dia em que lhe “salta a
tampa” e é extremamente agressivo consigo. Depois pede-lhe desculpa,
oferece-lhe presentes e promete-lhe o mundo. No meio desta lua-de-mel, não é
capaz de assumir plenamente a sua responsabilidade. Pelo contrário, é capaz de
dizer que só se descontrolou porque você fez alguma coisa errada. E é assim em
tudo: na condução, são SEMPRE os outros que têm culpa, no trabalho também.
Ele(a) é uma vítima (e não vai mudar).
9. PEDE-LHE
SEGREDO.
Um agressor emocional esforça-se
por manter a imagem de cordeirinho. Publicamente é simpático com toda a gente.
Quando erra de forma grosseira, minimiza os seus erros e explica-lhe que “isso”
diz respeito à vossa intimidade. Afinal, ninguém precisa de saber dos maus
tratos de que você tem sido vítima. Essas são coisas “normais” de casal.
10. NÃO
PODE VIVER SEM SI.
Quando os erros se acumulam e
você começa a dar-se conta de algo estranho, vêm os períodos de lua-de-mel.
Nesta altura, não basta prometer-lhe este mundo e o outro. O agressor emocional
enfatizará o seu mal-estar, dir-lhe-á que não consegue viver sem si e pode até
ameaçar suicidar-se se a relação terminar. O objetivo é sempre o mesmo: fazer
com que você se sinta culpado(a).