Deito-me com o coração aos pulos. Ando demasiado acelerada para
conseguir dormir. Sinto dores de estômago e suores frios. Ao mesmo tempo, digo
a mim mesma “Esquece! Concentra-te em ti mesma. Ele não pode ter tanto poder
sobre ti.”. Mas a verdade é que já passou algum tempo desde que ele me disse
que queria separar-se e eu continuo um caco… E isto é só a parte física.
Mentalmente é como se estivesse a enlouquecer. Sinto raiva e medo ao mesmo
tempo. Tenho vontade de gritar com ele e choro compulsivamente. Não há nada que
me anime. Não há mensagens de motivação que me acalmem. Todos me dizem que vai
passar mas é como se o meu cérebro não estivesse a ser capaz de processar essa
mensagem.
Reconhece-se nesta descrição?
Saiba que não está sozinho(a). Estas sensações são muito mais “normais” do que
você possa imaginar.
É essa sensação que toma conta de
nós quando uma relação acaba sem que estivéssemos à espera. E também é essa a
sensação por que podemos passar quando enfrentamos discussões acesas com a
pessoa amada. Independentemente das características de cada um, há algo que nos
une: esta necessidade de nos ligarmos a outras pessoas. Dependemos
emocionalmente das pessoas que amamos, em particular da pessoa que escolhemos
para viver ao nosso lado, e quando algo corre mal, sentimo-nos ameaçados.
Quando você discute com a pessoa
que ama e ela dá sinais de que “não quer saber” do que você está a sentir, o
seu corpo reage: você sente-se tenso, confuso, irritado. A rejeição deixa-o
acelerado e com a clara sensação de pânico.
Isso acontece porque o nosso
cérebro processa aquela discussão (ou a rutura) como uma ameaça.
Não me canso de dizer que o fim
de uma relação é um acontecimento de extrema dor, só ultrapassado pela perda
física de alguém próximo. Quando a pessoa a quem nos sentimos ligados vai
embora (ou dá sinais de que o possa fazer), sentimos que as nossas necessidades
afetivas estão ameaçadas e é possível que atuemos de forma instintiva,
permitindo que as emoções tomem conta de nós. Isso é assustador. Parece que o
mundo vai acabar. Sentimo-nos a enlouquecer.
Mas a ciência mostra que não há
nada de anormal nesta reação. A quebra de uma ligação tão intensa como aquela
que se espera que exista numa relação amorosa é avassaladora, sim. Mas há
(sempre) boas notícias:
- A primeira é que ninguém está realmente sozinho neste processo. A pessoa que se sente em pânico com o fim da sua relação pode achar que é a única no mundo a passar por tamanha dor. Pode achar que ninguém a compreende. Mas a verdade é que estas sensações são comuns a outras pessoas em todo o mundo. E há um efeito tranquilizador associado à certeza de que aquilo que sentimos É NORMAL.
- Ainda que soe a cliché, a segunda boa notícia também pode ter um efeito calmante: VAI PASSAR. A sensação de pânico é real e assustadora mas o tempo ajuda quase sempre a atenuar a dor. E, mais cedo ou mais tarde, a pessoa acaba por ultrapassar este momento difícil. Acaba por aceitar que o sofrimento faz parte e que, gradualmente, é possível voltar a sonhar.
- Mesmo quando o tempo passa e o sofrimento teima em não abrandar, é possível fazer alguma coisa. Algumas pessoas sentem maior dificuldade em gerir as suas emoções. O tempo vai passando e elas continuam a sentir-se perdidas, tristes e zangadas. Os amigos já não conseguem ouvi-las falar do ex. A família alargada acha que é tempo de seguir em frente. Mas a tarefa parece impossível. Estas dificuldades também SÃO NORMAIS e podem ser enfrentadas através da terapia. Aceitar o próprio sofrimento e querer fazer alguma coisa para o superar é meio caminho para que isso aconteça. Às vezes envolve mais tempo e a procura de ajuda especializada.