Não seria justo dizer que todos
os casais têm problemas de relacionamento com as sogras. Mas a verdade é que
muitas das pessoas que me pedem ajuda acabam por maldizer a relação com a
família alargada do mais-que-tudo e com a sogra em particular. Nalguns casos a
aflição é tão grande e as mágoas acumuladas são tantas que o casal chega a
falar em divórcio. Nesses casos, a conversa é quase sempre a mesma: “Ou ela, ou eu”. Quando uma pessoa se
sente continuamente invadida, desrespeitada, manipulada ou humilhada é fácil
permitir que a raiva tome conta de si.
Tenho de ser franca: estes
conflitos são MUITO mais frequentes entre noras
e sogras. E quando os conflitos se acumulam, é relativamente fácil
perder-se o controlo da situação. Mas há vários passos que cada pessoa pode
seguir para construir uma relação mais harmoniosa.
NÃO ESTEJA À ESPERA DE UM VEREDITO
A maior parte das mulheres que me
pedem ajuda a propósito deste problema – em terapia de casal ou individualmente
– estão à espera de uma decisão. Esperam que o marido tome uma atitude mais ou
menos drástica, que ponha a mãe no “devido lugar”. E esquecem-se do essencial:
esta não é uma pessoa qualquer. Esta é a pessoa que durante duas ou três
décadas (às vezes mais) mostrou de forma clara o amor incondicional pelo filho;
esta é a pessoa que diariamente esteve “lá”. A cuidar, a amparar, a dar o
melhor de si. E é amor aquilo que o filho/marido sente pela mãe. Como é que ele
se sente perante a possibilidade de tomar medidas drásticas? Como é que ele se
sente perante a ideia de dizer ou fazer alguma coisa que magoe a própria mãe?
Mal… Muito mal.
É absolutamente legítimo que uma
pessoa queira ver o seu espaço respeitado. É natural que alguém se queixe
quando a sogra tenta ultrapassar os limites do razoável. Mas é fundamental que
não percamos de vista o mais importante numa relação amorosa: fazer a pessoa
que está ao nosso lado feliz. É praticamente impossível ser-se feliz no
casamento na medida em que exijamos a quem está ao nosso lado que ignore os
sentimentos de uma das pessoas mais importantes da sua vida.
Ele(a) também ama os pais, os
irmãos, os sobrinhos e os tios. Não faça exigências que não tenham em
consideração esse amor.
PRESTE ATENÇÃO AOS SENTIMENTOS (DO MAIS-QUE-TUDO)
Fazer um pedido de ajuda ou uma
chamada de atenção torna-se infinitamente mais fácil se você mostrar DE FORMA
CLARA que quer saber dos sentimentos da pessoa que está ao seu lado. Não chega
dizer “Eu sei que é difícil para ti…” e desatar a fazer reivindicações que
possam ser sentidas como ataques à mãe dele. É preciso assumir uma postura de
genuína curiosidade e empatia. É preciso perguntar “Como é que TU te sentes?”,
“Do que é que TU tens medo?”, “O que é que TU gostarias de fazer?”. E é preciso
tentar colocar-se no lugar do seu amor, ser sensível às dificuldades.
CONTROLE-SE
Você pode achar que tem assumido
uma postura correta no meio de toda esta história. Pode até considerar que tem assumido uma postura
demasiado permissiva e que, em função
disso, só tem perdido. Mas a
experiência mostra-me que nestes casos quanto maior for a mágoa maior é a
probabilidade de a sua passividade dar lugar a explosões de agressividade. Refiro-me
a situações em que as emoções (raiva) tomem conta de si e acabem por levá-la a
dizer coisas que magoem (muito) o mais-que-tudo. E são esses comentários que
poderão deitar tudo a perder. Porque quando você se descontrola e se centra na
sua sogra, faz acusações e desvia-se do essencial: aquilo que você sente.
Quando o seu amor a ouve dizer que a mãe
dele é isto e aquilo, passa a sentir-se ameaçado. E defende-se
(defendendo a mãe). Já não consegue prestar atenção ao que você sente porque
está ferido. Não acredita nas suas boas intenções, não confia na sua vontade de
o fazer feliz.
Há frases que poderiam ser ditas
a propósito de outras pessoas mas não em relação a uma das pessoas que o seu
companheiro mais ama na vida.
Quando se sentir dominada pela
raiva, o melhor é não dizer nada. Procure acalmar-se. Converse sobre o assunto
quando estiver segura de que as suas queixas não a impedirão de respeitar o seu
amor. Nessa altura evite as acusações e peça-lhe que seja solidário com o que você sente.
Experimente:
"Quando a tua mãe (...) eu sinto-me (...). Podes
ajudar-me?" Ou "Eu sei que não foi por mal mas quando a tua mãe (...) eu senti-me (...) e era importante para
mim que prestasses atenção e resolvessemos o assunto para que a situação não se
repita.".
SEJA GENTIL
Ser gentil não é fechar os olhos
ao comportamento da sua sogra. É ser genuinamente sensível ao que ela sente.
Lembre-se de que as emoções da sua sogra são legítimas (o comportamento é que
pode não o ser). Tente entendê-la. Tente ajudá-la no que estiver ao seu
alcance. Quanto maior for a sua capacidade de se ligar afetivamente à família
do seu amor, maior será a sua legitimidade para apontar o dedo. Se, pelo
contrário, você estiver sempre a apontar os erros e, aos olhos do seu
companheiro, a única coisa que você
mostra for raiva, será muito mais difícil acreditar que você está de boa-fé.