Boa parte dos casais que pedem a
minha ajuda estão convencidos de que o seu problema tem um nome: Comunicação. “Problemas
de comunicação”. É assim que muitos homens e mulheres olham para as dificuldades
conjugais. E se é verdade que, na esmagadora maioria dos casos, existem
dificuldades de comunicação, de um modo geral esse não é “o” problema. Os
problemas de comunicação são uma das consequências do problema. Como assim? Eu explico: imagine que o
seu filho é violentamente agredido por um colega e que, em resposta a essa
agressão, empurra furiosamente a outra criança. Se você entrar no quarto e
assistir apenas ao empurrão, é provável que olhe para o comportamento do seu
filho como “o” problema e procure “resolvê-lo” chamando a atenção da criança.
Estará, como é óbvio, a ignorar o verdadeiro problema.
As dificuldades de comunicação –
os amuos, os gritos, os ataques e o descontrolo – são aflitivas, sim. Mas são
apenas a resposta (instintiva) aos reais problemas. E as reais dificuldades têm
outro nome: Intimidade. Quanto uma pessoa não se sente segura na relação,
quando não há a intimidade emocional que deveria existir, o medo instala-se e
as dificuldades de comunicação surgem.
Podemos ser as pessoas mais
assertivas do mundo, usar um tom de voz calmo e não amuar nem atacar nunca.
Isso valer-nos-á de muito pouco se não formos capazes de construir uma ligação
segura com a pessoa que amamos.
E o que é que caracteriza – então
– uma relação segura? O que é que os casais felizes têm e que possa ser chamado
de “Intimidade Emocional”? Resumidamente, é uma questão de prestar atenção e procurar responder
com afeto às necessidades da pessoa de quem se gosta. Se voltarmos à
metáfora das crianças é mais fácil perceber do que se trata: prestar atenção
implicaria NÃO agir impulsivamente, e PERGUNTAR à criança por que estava a
empurrar o amiguinho. Isto é, implicaria QUERER SABER, assumir uma postura de
curiosidade genuína. Responder com afeto implicaria ACOLHER as emoções da
criança (neste caso, a tristeza por ter sido violentamente agredida), ainda que
posteriormente houvesse uma chamada de atenção em relação à sua resposta.
Responder com afeto é dizer “TENS RAZÃO para te sentires assim”. É dizer “TENS
O DIREITO de te sentires assim”. É dizer “ESTOU SOLIDÁRIO(A) com o teu
sofrimento”. É estar “lá”.
Numa relação amorosa também é
isto que buscamos: a sensação constante de que a pessoa de quem gostamos presta
atenção àquilo que sentimos e responde com carinho aos nossos pedidos de ajuda.
Mas são muito mais as vezes em
que os apelos de um são acolhidos pelo outro do que as alturas em que esses
apelos são ignorados ou desprezados.