Qual é a forma certa de gerir o
dinheiro numa relação? Cada um deve ter a sua própria conta? Deve existir
sempre uma conta conjunta? Será que os casais mais felizes só têm uma conta? E as despesas? Deverão ser divididas
de forma simétrica? Ou de forma proporcional ao que cada um ganha? E o
que é que acontece se um não trabalhar? Ou se ficar desempregado?
O dinheiro é um dos assuntos
sensíveis numa relação (a par do sexo, da educação dos filhos e da relação com
a família alargada). Na prática, falar de dinheiro é falar da liberdade e do
poder de cada membro do casal. Mas também é falar de confiança e de segurança
emocional.
Não há uma resposta “certa” para
esta pergunta. Há casais felizes que têm contas conjuntas; e há casais felizes
que não têm. Alguns casais optam por ter 3 contas: uma para cada um mais uma
conta conjunta, onde cada um coloca uma parte do que ganha (seja para as
despesas correntes, seja para poupar para um objetivo comum). Este é apenas um
exemplo de um compromisso TEMPORÁRIO. O mais importante é que duas pessoas que
se amam sejam capazes de conversar abertamente sobre as necessidades, as
preocupações e os sonhos de cada um. É absolutamente normal que no início de
uma relação haja alguns desencontros. É
normal que um seja mais poupado do que o outro. É normal que um sinta mais
gosto em poder comprar peças de roupa, relógios, peças para o carro ou outra
futilidade qualquer todos os meses. Se a vontade de fazer com que a relação dê
certo e a vontade de fazer a pessoa que está ao nosso lado feliz se
sobrepuserem à crítica e aos juízos de valor, tudo se torna mais fácil. Isso
significa que as conversas podem não ser sempre fáceis mas é possível chegar a
acordos se cada um estiver disposto a ceder. Ceder é abdicar de alguns hábitos
em nome de um bem maior: a relação, a família que se quer construir.
O desemprego é um dos desafios
por que qualquer casal pode ter de passar. E na medida em que o dinheiro
escasseie é normal que haja aflição. Ora, na medida em que duas pessoas se
sintam inseguras (em relação à possibilidade de honrarem os seus compromissos)
é muito mais provável que se descontrolem, que digam coisas sem pensar, que se magoem mutuamente. Isso não tem
de ser dramático. É SEMPRE possível voltar atrás, reconhecer que se errou (por
exemplo, se houver acusações injustas) e tentar olhar para o essencial. E o
essencial, neste caso, é conseguir falar abertamente sobre os medos de cada um.
Um casal pode sair ainda mais unido de
uma situação de desemprego na medida em que um e o outro consigam falar sobre o
que sentem e na medida em que essas emoções sejam reconhecidas pelo outro.
Tudo se torna mais complicado se,
até aí, houver pouca prática no que diga respeito à capacidade de criar
compromissos. Se estiver cada um por si, gerindo o próprio dinheiro sem ter de
fazer quaisquer cedências, é natural que haja maior dificuldade de adaptação à
nova realidade.
Na prática é essencial colocar
algumas questões:
Como é que o seu amor se sente?
Do que é que ele(a) precisa?
O que é que você pode fazer para
o ajudar (a estar mais feliz/ mais seguro(a))?
Como é que você sente em relação
à possibilidade de sair da sua zona de conforto?
Que medos tem?
Quão importante é para si fazer
com que a relação dê certo?
Já o disse várias vezes: um filho
é um verdadeiro terramoto no ciclo
de vida de um casal. Entre as noites mal dormidas, o cansaço, a mudança de
rotinas, a falta de tempo para ‘não fazer nada’, os medos de cada um e as
solicitações constantes de outros membros da família, é relativamente fácil que
em alguns momentos ambos se sintam muito desgastados. E esta é precisamente a
altura em que novos desafios financeiros surgem. Gasta-se muito mais dinheiro
e, se não existirem compromissos prévios, é natural que pelo menos um dos
membros do casal possa sentir-se muito alarmado. Basta que um seja mais poupado
e que não haja o hábito de fazer cedências para que o facto de o outro comprar
roupinhas novas para o bebé seja visto como uma ameaça (e haja nova explosão).
O que é que cada um pode fazer? Falar abertamente sobre os
principais receios, expor calmamente as suas expetativas e, se ainda não o
tiverem feito, conversar sobre a história pessoal de cada um. Quais são os
principais marcos (financeiros) na sua vida? Qual é a origem dos seus medos?
Por que situações aflitivas já passou? Dessa partilha sincera e, sobretudo, da
capacidade de cada um para prestar atenção ao que o outro sente, resultará
maior união e a sensação de que juntos ultrapassarão quaisquer desafios.
Algumas pessoas gastam muito dinheiro
em restaurantes. Outras têm o (caro) hábito de fumar. Há quem compre roupa e
sapatos como se não houvesse amanhã. E há quem não se importe de pagar uma
fortuna por um carro. É
normal. Pessoas diferentes têm gostos e
hábitos diferentes. Aquilo que não é assim tão saudável é que duas
pessoas que se amam estejam a borrifar-se para o que o mais-que-tudo sente. Sim,
é saudável que uma pessoa que seja ‘apaixonada’ por roupa possa continuar a
gastar algum dinheiro naquilo que a faz feliz. Mas é fundamental que, com o
tempo, se crie uma identidade de casal, um “Nós”. E isso implica escolher NÃO fazer
sempre aquilo que apetece – em nome do “Nós”.
Se tem tido dificuldades em
aceitar a forma como o seu amor gasta o dinheiro e/ou se ele(a) está
permanentemente a criticar a forma como você o faz, experimente:
1. Anote TODOS os seus gastos ao
longo de um mês. Peça ao seu amor para fazer o mesmo e conversem sobre isso.
Tente evitar os juízos de valor e explique como é que você se sente
(identifique os seus medos e aquilo que o/a faz feliz). Do que é que cada um
está disposto a abdicar? Que itens é que são negociáveis? O que é que é
essencial para cada um?
2. Faça uma estimativa anual das
suas despesas (individuais e familiares). Inclua aquelas despesas pontuais que
costumam desequilibrar as contas (seguros, revisão do carro, férias, etc.).
Conversem sobre isso. Como é que cada um se sente em relação à forma como o
dinheiro é gasto? Que mudanças
gostariam de conseguir implementar?
Quando um dos membros do casal
insiste em gastar dinheiro naquilo que o/a faz feliz independente do que o
outro sente, é facilmente rotulado de egoísta. Na prática, pode não estar
consciente do impacto das suas escolhas. Pode sentir-se (injustamente) acusado
e, em função disso, não estar a ser capaz de reconhecer que, por detrás de uma
queixa, estão medos e necessidades legítimas. É fundamental parar para conversar (sem
ataques).
Será que os membros do casal
devem participar igualmente na gestão financeira? Uma relação pode ser saudável
se só um for responsável por fazer os pagamentos e tomar decisões?
Para alguns casais felizes faz sentido
que ambos participem na gestão financeira. As decisões são conversadas, ambos “controlam”
os movimentos bancários, ambos estão responsáveis por fazer pagamentos. Para
outros é mais confortável a ideia de um dos membros do casal ter essa tarefa. Não é que um se ‘demita’ ou que o outro
queira controlar tudo. Essa escolha resulta da confiança mútua e do
respeito pelo que cada um sente. Às vezes há um que tem mais jeito ou que está
mais à vontade com estes assuntos.
Um casal pode ter uma relação feliz
e duradoura mesmo quando é a pessoa que não trabalha (ou que ganha menos) que
toma a maior parte das decisões respeitantes à gestão financeira. Porquê?
Porque, como sempre, o mais importante é
que cada um se sinta seguro. E, para isso, é essencial que haja um profundo
conhecimento mútuo, que cada um se sinta capaz de expor as suas inseguranças,
os seus medos e também aquilo que o/a faz feliz. Quanto mais uma pessoa viver
com a certeza de que ao seu lado está alguém que se preocupa com os seus
sentimentos e que se esforça para a fazer feliz, maior é a capacidade de
confiar, delegando.