Como é que se ultrapassa uma discussão conjugal? Como é que duas pessoas que se amam recuperam a paz e a sensação de que “está tudo bem” depois de um qualquer momento de tensão? Há quem defenda que, para que uma relação dê certo, os casais não devem ir dormir zangados. Como se fosse (sempre) fácil fazer as pazes. Às vezes não é.
A maior parte dos casais que me pedem ajuda estão tão magoados, tão desgastados, que quando estão a tentar refazer-se de uma discussão já estão a entrar noutra. Quase todos tentam fazer as pazes mas, por um motivo ou por outro, as coisas não funcionam.
Vale a pena olhar para aquilo que os casais felizes fazem e para os hábitos que podem ser adotados por qualquer pessoa que queira proteger a sua relação:
1. TER RAZÃO versus TER UMA RELAÇÃO.
Parece óbvio mas nem sempre é fácil. Os casais mais felizes também discutem, também se sentem desapontados, também falham. Mas há um hábito que os diferencia: estas pessoas preferem fazer uma tentativa de reaproximação em vez de ficar à espera que o outro assuma o que fez. Por outras palavras, centram-se mais nas coisas boas do que nas falhas.
É como se se perguntassem com regularidade “Eu prefiro ter razão (e ficar amuado/a à espera que ele/a assuma o que fez) ou prefiro ter uma relação (e fazer o que está ao meu alcance para que fique tudo bem outra vez)?”. E fazem quase sempre a escolha certa – reaproximando-se e aceitando (sem rancor nem amuos) as tentativas de reaproximação do outro.
2. Saber PEDIR DESCULPAS.
Este é outro hábito que parece fácil. (Quase) todas as pessoas acham que sabem pedir desculpas. E admiram-se por, mesmo assim, as coisas não darem certo. É mais fácil rotular o companheiro de orgulhoso do que olhar para o próprio comportamento. Há, pelo menos, 4 formas ERRADAS de pedir desculpas:
O PEDIDO EM 4 SEGUNDOS: “Sim, desculpa lá. Mas agora diz-me: O que é que vamos jantar?”.
O PEDIDO QUE FOGE À RESPONSABILIDADE: “Bem, eu talvez tenha feito isso, mas tu ...”.
O PEDIDO FORÇADO: “É suposto que eu diga...”.
O PEDIDO MANIPULADOR: “As coisas não vão funcionar enquanto eu não disser isto, então...”.
A questão que se coloca é: o que é que funciona? Como é que os casais felizes fazem? Acima de tudo, eles preocupam-se GENUINAMENTE um com o outro. Isso implica que, quando pedem desculpas, estejam VERDADEIRAMENTE arrependidos do erro cometido e se comprometam - na medida do que for possível - a emendá-lo.
Um pedido de desculpas COMPLETO inclui:
- Arrependimento genuíno (“Eu sinto-me triste/ envergonhado/ arrependido por…”).
- Reconhecimento do erro (“Eu magoei-te quando…”)
- Solidariedade/ empatia (“Tens todo o direito de estar assim...”).
- Vontade de emendar/ fazer diferente (“Eu vou ajudar-te/ comprometo-me a…”).
3. Vontade de FAZER O OUTRO FELIZ
versus ENCARÁ-LO COMO UM ADVERSÁRIO
Se há algo que os casais felizes sabem é que os conflitos fazem parte de qualquer relação saudável. Eles sabem que não há pessoas perfeitas e reconhecem que cada um tem as suas falhas. Quando um erra ou pura e simplesmente faz uma escolha que o outro não esperava, há mágoa e desconexão, tal como em qualquer outra relação. Mas estas pessoas não se olham mutuamente como adversárias. Pelo contrário, cada uma está continuamente a dar provas de que a felicidade da pessoa amada é importante para si. E isso faz com que depois de uma discussão ESCOLHAM voltar atrás e, com GENUÍNO interesse, queiram saber como é que o outro se sente, o que é que o levou a fazer aquela escolha.
Exemplo: "Quando tu fizeste X, eu senti-me desapontado(a) mas eu acredito que não tivesses intenção de me magoar. O que é que te impediu de fazer diferente? Que dificuldades te impediram de fazer uma outra escolha?".
Esperar o melhor da pessoa que está ao nosso lado não depende da sorte. É uma ESCOLHA. É escolher olhar para tudo o que a outra pessoa faz fora dos momentos de tensão. É escolher valorizar os seus esforços mais do que as suas falhas. É escolher colocarmo-nos na sua posição antes de a condenar.