Talvez devêssemos processar os estúdios de Hollywood e as grandes produtoras de televisão. Afinal, eles são responsáveis pelos inúmeros filmes e séries que nos têm tentado ‘vender’ a ideia de que cada um de nós pode (deve?) encontrar a sua alma gémea.
Quase todas as semanas me cruzo com mulheres que davam o dedo mindinho para casar com o McDreamy (personagem/ galã da série “Anatomia de Grey”). Ou com alguém que fosse tão perfeito quanto aquele personagem. Talvez ajude à reflexão sabermos que Patrick Dempsey (o ator que dava vida ao personagem) não conseguiu manter o casamento e foi confrontado com um pedido de divórcio ao fim de 15 anos.
Mas desengane-se quem julgue que o fenómeno da idealização excessiva é um exclusivo das mulheres. Há muitos homens que também sonham com a possibilidade de encontrar “a tal” e que vão adiando a possibilidade de serem felizes.
Enquanto terapeuta conjugal não vejo nada de errado no facto de elevarmos a fasquia e não nos contentarmos com quem não esteja à altura das nossas necessidades. Sou absolutamente a favor da ideia de cada pessoa lutar por aquilo que a faça feliz. Mesmo que isso implique ter de ‘falhar’ algumas vezes. O problema surge sempre que alguém se convence de que ‘o/a tal’ tem de ser perfeito. E quando, em função de expectativas absolutamente irrealistas, perde contínuas oportunidades de viver uma relação feliz.
- LISTA DE EXIGÊNCIAS -
Lembra-se da última vez que comprou um telemóvel? É possível que tenha feito uma lista (nem que seja mental) das características que o aparelho novo deveria ter. Máquina fotográfica? Acesso à Internet? Ecrã sensível ao toque? Por que não fazer uma lista das qualidades que você acha que um parceiro romântico deveria ter?
Seja honesto(a). Deite tudo cá para fora. “Tem de ter sentido de humor”. “Deve ser tão giro como o Bradley Cooper (ou como a Gisele Bündchen)”. “Tem de saber cozinhar”. No papel (ou no ecrã do computador) o seu mais-que-tudo pode ser perfeito.
- DE VOLTA À REALIDADE -
Depois de tanta honestidade, é tempo de voltar à realidade. Você sabe que não há pessoas perfeitas e que é IMPOSSÍVEL encontrar alguém que reúna todas aquelas qualidades. Isso não significa que o seu trabalho tenha sido em vão. E muito menos significa que deva contentar-se com qualquer traste que lhe apareça.
Reduza a sua lista a 10 qualidades. Pense no que é REALMENTE importante para si – aquilo de que não gostaria mesmo de abdicar.
- QUER SER FELIZ? ACRESCENTE MAIS REALIDADE -
Tenho uma novidade para si: não há ninguém que reúna essas 10 qualidades. Só os Mcdreamies desta vida – mas esses só existem nos ecrãs.
Isto é, pense naquilo que é ESSENCIAL PARA SI. Algumas pessoas escolherão “Tem de ser honesto(a)”. Ou “Tem de se dar bem com os meus pais”. Você pode chegar à conclusão de que a pessoa certa para si tem de ser “Alguém que respeite (e incentive) os meus hobbies”. O importante é que seja verdadeiro e realista.
Depois deste exercício é tempo de olhar à sua volta e NAMORAR. Sim, você vai ter de arriscar, conhecer pessoas novas e… ir espreitando a sua lista. A ideia é manter o sentido de realidade e, ao mesmo tempo, ser fiel a si mesmo(a). Em vez de começar a fazer uma lista (mesmo que seja mental) dos defeitos de cada pessoa que conhece, procure ser tolerante. É possível que se surpreenda (pela positiva).
Atenção a todas as pessoas casadas/ comprometidas: Olhe bem para a pessoa que está ao seu lado. Está ‘carregada’ de defeitos, não está? É normal. Você também! Ser feliz no casamento NÃO É viver continuamente alegre ao lado de alguém que nos faça sempre felizes. Ser feliz no casamento e querer estar ao lado de alguém para sempre é ‘escolher’ um conjunto de defeitos e aprender a viver com eles. Porque o essencial está lá.