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3.12.15

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA: SÃO ELAS QUE PERMITEM?


Quando pensamos no que é uma relação marcada pela violência, imaginamos um homem aos gritos, a ameaçar e a bater regularmente na mulher ou na namorada. E, involuntariamente, perguntamo-nos:

“Porque é que ela permite aquele tipo de coisas?”

Como se, de alguma maneira, a violência doméstica fosse “só” isto e a responsabilidade daquela situação pudesse ser atribuída, pelo menos de forma parcial, às vítimas. De resto, são as próprias vítimas que quando finalmente se libertam de relações abusivas fazem afirmações do tipo “Eu permiti…”.

O que estas afirmações ignoram é o veneno que quase sempre caracteriza a violência doméstica e que é capaz de destruir a autoestima de qualquer mulher (e consequentemente a sua capacidade para sair da relação): a violência emocional.

Na minha experiência clínica deparo-me infelizmente com muitos destes casos em que o marido (ou namorado) frequentemente – mas quase nunca em público – aterroriza, critica, pressiona e culpa a mulher até que ela desista do que quer que, aos olhos dele, não deva ser feito. Pode ser uma saída com amigas, um serão com a família alargada ou um jantar com os colegas de trabalho. Este tipo de pressão começa quase sempre de forma gradual mas vai aumentando até ao ponto de a mulher se sentir quase sempre forçada a fazer-lhe a vontade. Este terror vai quase sempre ao ponto de abranger a intimidade sexual.


Por que o fazem? Porque à medida que a pressão aumenta também crescem os sentimentos de culpa. A mulher está cada vez mais isolada, cada vez mais entregue aos comentários tóxicos do companheiro e convence-se mesmo de que ela tem culpa. Estes maridos e namorados violentos conseguem fazer com que estas mulheres sintam que têm sempre a culpa: primeiro, são culpadas por fazerem com que eles se chateiem e, mais tarde, quando a relação termina, elas acham que tiveram culpa porque permitiram os abusos. Como se as escolhas que elas fizeram ao longo da relação fossem escolhas livres, voluntárias, e não condicionadas pelo medo que lhes foi imposto.


Estes homens convencem-nas de que elas são desprezíveis sempre que não cedem às suas exigências. Fazem-no através de insultos e ameaças, às vezes de forma implícita.


Quando uma mulher começa a ser vítima de violência, deixa de ser uma participante voluntária da relação. É uma vítima de bullying que é levada a fazer escolhas em que não acredita, que nunca imaginou fazer.
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