São mulheres que estão
sistematicamente à procura do afeto de homens que as maltratam - física e/ou psicologicamente. E quem são estes
homens? Alguns são alcoólicos, dependentes de substâncias, explosivos,
demasiado centrados em si mesmos, com aversão a ligações íntimas, incapazes de
construir laços duradouros e/ou com uma série de outros problemas de
personalidade.
Algumas mulheres pura e
simplesmente parecem ligar-se com mais frequência a homens que JAMAIS as farão felizes. Sentem-se infelizes,
culpadas e muitas vezes deprimidas por lutarem - tantas vezes durante anos -
pelo amor de alguém que não é capaz de
mostrar que se preocupa com as suas necessidades, que não é capaz de cuidar.
Apesar de em muitos destes casos
os homens assumirem comportamentos claramente abusivos, apesar dos inúmeros
episódios de rejeição e de humilhação,
apesar da ausência física e/ou
emocional (às vezes o companheiro desaparece por períodos mais ou menos
prolongados), estas mulheres continuam a lutar pela relação (muitas vezes de
forma obsessiva).
A minha experiência clínica e os
estudos feitos nesta área apontam quase sempre no mesmo sentido: É como se estas mulheres procurassem sempre
o mesmo amor - aquele que não tiveram na infância. Trata-se muitas vezes de
mulheres cujos progenitores – um ou ambos – se mostraram ausentes, indisponíveis
do ponto de vista afetivo. Esta indisponibilidade pode dever-se a características
de personalidade, alcoolismo, abuso de substâncias, comportamentos violentos ou
outros problemas.
É como se
em muitos destes casos a mulher, que enquanto criança não conseguiu conquistar
o afeto do(s) progenitor(es), estivesse sistematicamente a tentar fazê-lo com
parceiros amorosos que se mostrem igualmente indisponíveis para responder com
afeto às suas necessidades. Não tendo sido bem-sucedidas na infância, repetem o
padrão até à exaustão – tentando de novo, e de novo, e de novo…
Esta preocupação extrema em
agradar, em fazer aquilo que, aos seus olhos, lhes permita conquistar o afeto
do parceiro, leva-as quase sempre a olhar para a realidade de forma MUITO
distorcida. Aliás, muitas vezes, elas mostram-se incapazes de reparar no que
quer que seja para além do comportamento do parceiro. É como se tudo o resto
fosse pouco importante – incluindo elas mesmas.
Paradoxalmente, estas são muitas vezes mulheres que rejeitam qualquer
relacionamento com homens “bonzinhos”. Como se esses relacionamentos fossem
entediantes, sem sal, pouco interessantes. Os homens que se mostram
emocionalmente disponíveis e que são capazes de responder com afeto às suas
necessidades são vistos como desinteressantes porque não se encaixam no padrão
de relacionamento a que estas mulheres estão habituadas.
Porque é que isto acontece?
Esta espécie de “cegueira” é um
mecanismo de defesa. Os pensamentos obsessivos são uma forma de a mulher evitar
lidar com algo mais profundo e desagradável. O quê? Isso varia de mulher para
mulher. Nalguns casos o problema
está na dificuldade (da própria mulher) em lidar com a verdadeira intimidade
emocional. Noutros há o medo de revelar coisas horríveis acerca de si mesma. Ou
a sensação de que não é merecedora do amor de ninguém. Ou ainda o medo de ser
controlada e dominada por um homem autoritário (normalmente representado pelo
pai). Mas estes pensamentos obsessivos também podem camuflar sentimentos profundos
de depressão, ansiedade ou desespero.
Com a ajuda da psicoterapia e com
o reconhecimento do problema. Não basta pedir ajuda. É preciso – fundamental! – haver compromisso com o processo
terapêutico, genuína vontade de romper com padrões de relacionamento
destrutivos. A terapia costuma ser longa – precisamente porque há questões
profundas a tratar – mas é um caminho frutuoso. Não basta que a mulher aceda a
informação rigorosa sobre o seu problema. É preciso aprender a viver de forma
diferente. Nem sempre é fácil arrancar as “palas” dos olhos destas mulheres e
ajudá-las a olhar para a realidade como ela é. Mas é gratificante.