A Revista Máxima convidou-me para
comentar uma lista de queixas dos homens portugueses em relação às mulheres/ à
relação conjugal.
FALTA DE TEMPO PARA O SEXO OU PARA A RELAÇÃO E ENTRADA NA ROTINA - «É
TUDO MECÂNICO».
As rotinas são, na verdade,
essenciais para a esmagadora maioria dos casais, sobretudo depois do nascimento
dos filhos. Não devem é ser confundidas
com monotonia. A existência de rotinas implica que haja planeamento e, na
maioria dos casos, evitam o stress. Permitem que saibamos com o que é que
podemos contar e que não percamos o fio à meada no que toca às nossas
responsabilidades. Aos membros do casal também compete assumirem a importância
do namoro na relação.
Isso pode incluir alguma “ginástica”
mas implica sobretudo tratar os momentos a dois como importantes no meio da
lista de todos os afazeres. Exemplos:
- Criar rituais de relaxamento
diários – 15 ou 20 minutos de conversas diárias permitem que os membros do
casal continuem a prestar atenção ao que “mexe” com cada um;
- Criar o hábito de sair a dois
todas as semanas – sair sem os filhos e tentar fazer programas novos traz vigor
a qualquer relação. Não “vale” substituir este compromisso por programas
familiares que incluam os filhos.
ELA SÓ LIGA AOS FILHOS/TRABALHO/AMIGAS/ETC.
De um modo geral, as mulheres
tendem a virar-se para outras relações afetivas ou profissionais na medida em
que não se sintam escutadas/ compreendidas na relação. A maior parte das
mulheres gosta/ precisa de falar sobre o seu dia de forma detalhada. A maior
parte dos homens não tem este hábito e a partilha tende a ser monossilábica (“O
teu dia correu bem?” – “Sim”/ “Não”). Para quebrar estes ciclos viciosos é
preciso que ambos reconheçam a importância de conversar diariamente sobre o
mundo de cada um obedecendo a algumas regras:
- Estas conversas devem acontecer
no final do dia e a duração é em média de 20/ 30 minutos. Ninguém dispõe de
muito mais tempo do que isto nem é desejável que a pessoa que está ao nosso
lado seja o nosso “saco de pancada”.
- É fundamental que ambos saibam
ouvir e dar colo antes de dar sermões/ ralhetes.
- Nestas conversas é fundamental
fomentar um clima de união e companheirismo. Isso é mais fácil se houver
interesse genuíno, se ambos colocarem perguntas e se evitarem os juízos de
valor.
- Desviar o olhar do telemóvel,
do PC e da televisão é essencial para que ambos se sintam realmente acolhidos.
- Nem sempre é fácil expressar
solidariedade mas aquilo de que cada um precisa é de sentir que as suas emoções
são validadas e que a pessoa que está ali ao lado está verdadeiramente
empenhada em mostrar o seu afeto.
GOSTAVAM QUE A MULHER OS MIMASSE MAIS.
Quando a rotina se instala é
fácil esquecermo-nos de mimar a pessoa que está ao nosso lado. Não é mesmo nada
agradável chegar a casa e levar com um conjunto de queixas/ acusações/ ataques.
Perguntar “Trouxeste aquilo que te pedi esta manhã?” ainda antes de um beijinho
ou de um abraço é o mesmo que tomar a outra pessoa como garantida. A falta de
tempo é uma desculpa que podemos dar a nós mesmos mas que de nada nos serve.
Uma festinha no rosto da pessoa
que amamos mostra carinho, atenção e disponibilidade.
TUDO GIRA À VOLTA DOS PROBLEMAS FAMILIARES OU DAS TAREFAS DOMÉSTICAS.
A maior parte das conversas
conjugais versam sobre questões triviais como as tarefas domésticas, as listas
de supermercado ou os problemas com os filhos. Aquilo que permite que um casal
se sinta em sintonia e com vontade de conversar sobre outros tópicos é
precisamente a atenção que cada um é capaz de investir nos assuntos mais
pequeninos. Quando, no meio do
supermercado, há um que pergunta se ainda há arroz lá em casa e o outro
responde “Não sei, mas, pelo sim, pelo não, vou ali buscar dois pacotes”,
aquilo que está a fazer é a dizer, de forma indireta, “Quando tu me chamas, eu
viro-me para ti e dou importância ao que tu dizes”. Encolher os ombros e
virar o olhar para o outro lado equivale a dizer “Quero lá saber…”. Precisamos
de nos sentir amparados, escutados na maior parte do tempo. É essa atenção e
disponibilidade que permitem que nos sintamos ligados e que escolhamos sair da
nossa zona de conforto para agradar à pessoa amada.
ELA TOMA TODAS AS DECISÕES EM CASA (O QUE COMEM, COMO DECORAM A CASA,
QUAL A MELHOR ALTURA PARA TER FILHOS, ETC.).
Há uma ideia preconcebida de que
os membros do casal devem participar equitativamente em todas as decisões mas
isso não corresponde sempre à verdade. Aquilo que é verdadeiramente importante
é que cada um se sinta escutado e que, em relação ao que é importante, a
opinião de ambos seja considerada. Um homem pode até gostar da ideia de a sua
mulher ser responsável por toda a decoração da casa, desde que as escolhas dela
reflitam o conhecimento que ela tem sobre os gostos dele. Para alguns casais,
faz mais sentido que seja o marido a tratar das compras de supermercado e da
confeção das refeições enquanto que noutros casos o que resulta é que seja ela
a cozinhar e ele a tratar da loiça. A
implementação destas rotinas pode levar algum tempo e também deve refletir
aquilo para o qual cada um tem maior habilidade. Já em relação a decisões
tão estruturantes como a compra de uma casa ou a vinda de um filho aquilo que é
crucial é que cada um possa falar abertamente sobre como se sente. Muitas vezes
a posição de um assemelha-se mais a uma imposição porque não há conversas
francas sobre os medos que estão por detrás disso.
PARA ELA NUNCA NADA ESTÁ BEM FEITO, NUNCA NADA É SUFICIENTE PARA A
AGRADAR.
As mulheres são, de um modo
geral, mais atentas aos pormenores e também mais críticas. Sem se aperceberem,
podem cair no erro do hipercriticismo. Achando que estão “apenas” a chamar a
atenção para aspetos importantes da relação, podem estar a inundar o
companheiro com críticas que permitem que se sinta desmoralizado e sem valor. É
fundamental que saibamos:
- Dosear as críticas. Por cada
crítica/ chamada de atenção, devem existir, pelo menos, 5 interações positivas
(elogios, gestos de afeto, atenção, interesse genuíno).
- Criticar o comportamento e não
a pessoa.
- Relevar. Nenhuma relação
sobrevive se não soubermos relevar alguns comportamentos. Mesmo que queiramos
fazer tudo bem, vamos falhar e precisamos que a pessoa de quem gostamos aceite
algumas dessas falhas sem se queixar.
TEREM DESEJOS SEXUAIS INCOMPATÍVEIS (UM DOS PARCEIROS QUER TER SEXO COM
MAIS FREQUÊNCIA QUE O OUTRO E DE UMA FORMA MAIS ERÓTICA, POR EXEMPLO).
Esta queixa está quase sempre
associada a outras dificuldades de comunicação e a uma diferença de género. Quando tudo corre mal e a relação deixa de
estar segura, os homens tendem a atribuir ainda maior importância ao sexo, como
se essa fosse a grande prova de amor que os faz sentir seguros, e as mulheres,
pelo contrário, sentem muito mais dificuldade em entregar-se de um ponto de
vista sexual quando não se sentem seguras emocionalmente.
O sexo é uma área sensível da
vida a dois. Quando uma pessoa diz ou faz qualquer coisa que magoe, agrida ou
envergonhe o mais-que-tudo, é provável que ele(a) se retraia, que não se sinta
capaz de investir como antes. E esse desinvestimento é particularmente evidente
na vida sexual.
Não é que não o ame. Não é que
não queira dar a volta aos problemas. É, sobretudo, uma forma de bloqueio.
Aquilo que por norma a mulher ignora é que este
afastamento é extremamente doloroso para o marido, que acaba por sentir-se
rejeitado, só, desamparado.
Quanto mais abertamente um casal
for capaz de conversar sobre sexo, maior tende a ser a sua satisfação (sexual e
emocional). Isso implica que, sem juízos de valor, ambos estejam dispostos a
querer saber o que é que agrada ao outro.
Depois, é fundamental aceitar que
há períodos de maior proximidade e períodos de maior afastamento.
FALTA DE “SAFADEZA” (ELES QUEREM UMA ATITUDE MAIS DESAVERGONHADA POR
PARTE DAS MULHERES). ELAS DEIXAM DE SE ESFORÇAR PARA PARECEREM SEXY E PARA
APIMENTAR A RELAÇÃO.
O sexo, tal como a satisfação
conjugal em geral, envolve entrega, criatividade e inovação. É muito fácil
deixar que uma relação esmoreça quando se deixa de ter curiosidade em relação
ao mais-que-tudo, quando deixamos de cuidar de nós e quando enveredamos pelo
caminho do desmazelo. Ser “sexy” não é copiar as capas de revistas nem
experimentar todas as posições do kamasutra. Mas pode implicar sair da zona de
conforto, prestar atenção àquilo de que o outro gosta e às mudanças que vão
acontecendo ao longo do tempo. Se não ouvimos as mesmas músicas ao fim de dez
anos, porque haveríamos de querer sempre a mesma coisa do ponto de vista dos
afetos? Experimentar, querer saber é não tomar o outro como garantido.
DEMASIADOS COMPLEXOS E INIBIÇÕES POR PARTE DA MULHER NA HORA DO SEXO
(QUEREM FAZÊ-LO DE LUZES APAGADAS, ETC.).
Esta queixa está quase sempre
relacionada com uma educação demasiado conservadora e/ou com alguns traumas.
Ultrapassar estes constrangimentos implica, antes de mais, que ambos aceitem
que o sexo é uma parte importante da vida a dois. Esta é mais uma área através
da qual conseguimos dizer à pessoa amada “Gosto de ti. És importante para
mim.”. Se houver problemas nesta área da conjugalidade eles devem ser encarados
como quaisquer outros: com apoio, com carinho, com companheirismo e com
seriedade. Não vale a pena fingir que não existem sob pena de, mais cedo ou
mais tarde, eles tomarem outras proporções. Primeiro é preciso conversar
abertamente sobre o que cada um sente e sobre aquilo de que cada um precisa. E,
quando um não se sente capaz de dar aquilo de que o outro precisa, pode ser
importante recorrer à ajuda especializada.
RITUAIS EXCESSIVOS DE “ACASALAMENTO” (JANTAR FORA, MENSAGENS, ETC.).
As mensagens trocadas ao longo do
dia, os jantares fora e outros “mimos” são formas de expressar a importância
que determinada pessoa tem na nossa vida. A maior parte das mulheres precisa de
sentir que é importante para o marido, precisa de sentir esta atenção. Claro
que se essa necessidade se transformar numa cobrança e/ou se implicar que a
outra pessoa passe a ter inúmeros comportamentos que não façam parte da sua
personalidade, estaremos a falar provavelmente de um problema. Numa relação
feliz é fundamental que aceitemos que a pessoa que está ao nosso lado tem
defeitos, não é perfeita e, sobretudo, que não é um príncipe cuja única missão
na vida é fazer-nos felizes. Aceitar a pessoa de quem gostamos tal como ela é é
meio caminho para uma relação de sucesso.