Há tempos perguntaram-me – a
propósito de uma peça jornalística – o que é que é essencial para que uma
relação dê certo. Para ser mais precisa, pediram-me que identificasse os 3
requisitos mais importantes para que uma relação pudesse ser feliz e duradoura.
E o meu “Top 3” foi/é este:
❥ ACEITAR A PESSOA AMADA TAL COMO ELA É
Já o disse muitas vezes:
É aceitar que todas as pessoas
têm falhas e que, da mesma maneira que há defeitos com os quais não saberíamos
lidar (e por isso jamais casaríamos com a pessoa X ou com a pessoa Y), há
outros – de que não gostamos – aos quais conseguimos adaptar-nos. Não basta
reconhecermos e dizermos a nós mesmos que não há pessoas perfeitas nem
relacionamentos perfeitos. É preciso que, na prática, nos adaptemos à
imperfeição. É preciso interiorizar que
há comportamentos da pessoa que amamos que nos irritam, que nos fazem saltar a
tampa e que lamentavelmente não vamos conseguir mudar. A melhor parte desta
escolha é a possibilidade de vivermos uma história de amor com alguém que
esteja disposto a aceitar-nos exatamente como nós somos, isto é, alguém que nos
ature apesar das nossas imperfeições.
Algumas pessoas idealizam de tal
maneira as relações amorosas que não são capazes de lidar com os erros do
companheiro. Fazem comparações com outras pessoas e convencem-se de que “os
maridos das outras” são efetivamente melhores. Na prática aquilo que acontece é
que os casais mais felizes são aqueles que aprenderam a lidar com os respetivos
pacotes de defeitos.
Deixarmos de exigir que a pessoa
que está ao nosso lado seja igual a nós é meio caminho para que aprendamos a
valorizar as suas qualidades e tudo aquilo que essa pessoa acrescenta à nossa
vida.
❥ DESEJAR (GENUINAMENTE) O MELHOR PARA ELA
Não há amor sem genuína vontade
de agradar, de fazer o bem. Quando se gosta de alguém, queremos o melhor para
essa pessoa e, às vezes, isso envolve cedências, sacrifícios e abnegação.
Quando um pai ou uma mãe abdica de uma saída noturna para poder acompanhar os
filhos à natação a um sábado de manhã isso é amor. E quando uma pessoa deixa de
fazer algo de que gosta só para que o mais-que-tudo seja feliz na concretização
de um objetivo isso também é amor. Algumas pessoas vivem os relacionamentos
medindo cada esforço a régua e esquadro: “Ontem
fui eu que fiz o frete de ir a casa dos teus pais! Hoje és tu que tens de me
acompanhar ao centro comercial…”. Nesses casos não há genuína vontade de
agradar.
Mas a maior parte das relações
felizes e duradouras que conheço envolvem genuíno altruísmo. Às vezes há um que
é mais altruísta do que o outro. E há a questão das fases da vida. Se um
estiver prestes a concluir um importante projeto profissional ou académico, é
natural que seja o outro a ceder mais vezes. Mas o objetivo não é amealhar
pontos que possam converter-se em crédito no futuro. O objetivo é (mesmo)
agradar.
Amar alguém também é lutar a dois
pelos sonhos dessa pessoa. É vibrar em conjunto porque aquilo que faz a pessoa
de quem gostamos feliz acaba por fazer-nos também felizes.
❥ TER UM PROJETO A DOIS
Há quem diga que os opostos se
atraem e que quanto mais diferentes forem os membros de um casal, melhor. Mas a
experiência mostra-me que é preciso que exista uma boa base. Na prática, a
probabilidade de uma relação dar certo e de duas pessoas continuarem a escolher
estar juntas é maior quando ambas estão a olhar na mesma direção. Quando há um
rumo. Isso não significa que as pessoas queiram sempre a mesma coisa ou que não
possam divergir sobre assuntos importantes. Todos os casais vão – mais cedo ou mais tarde – descobrir que há
assuntos sobre os quais não conseguem concordar. Mas para que uma relação
dê certo é fundamental que haja objetivos a dois. É preciso que ambos sintam
que – para além dos sonhos de cada um – há sonhos que são do casal, pelos quais
ambos estão dispostos a lutar e que acabam por contribuir para aquilo a que eu
chamo a identidade de casal. É aquela história de olharmos à nossa volta e
sermos capazes de dizer que “os Silva” adoram viajar, “os Melo” se pudessem
teriam 6 ou 7 filhos ou “os Sousa” vão a todas as provas desportivas.
1+1=3, isto é, numa relação feliz
há os sonhos e os projetos da pessoa X, os sonhos e os projetos da pessoa Y e
há os sonhos e os projetos do casal. Quando um casal deixa de ter projetos a
dois é muito mais provável que haja desconexão e sensação de vazio. Pelo
contrário, os casais que continuam a definir metas a dois e que batalham juntos
para as alcançar tendem a sentir-se mais unidos. No dia-a-dia esta identidade
de casal é visível nos momentos de descontração.
Isso (também) passa por
reconhecer que nenhuma relação deve cair na monotonia. Fazer atividades novas a
dois, estar disponível para sair da zona de conforto e experimentar um desporto
diferente ou para ir ver um espetáculo inovador é permitir que o vigor e o
entusiasmo continuem a caracterizar a relação.