Há mulheres que ambicionam ter
uma relação amorosa “normal”, de compromisso, e que acabam por manter-se
ligadas (muitas vezes durante anos) a homens casados. Queixam-se daquilo a que
não têm direito, lamentam o facto de serem uma segunda escolha mas… nem sempre
conseguem dizer basta. Quem são estas mulheres? Há características comuns a
todas as amantes? Há vantagens associadas a ser a outra? E como é que os homens
olham para as suas amantes?
Há uma pergunta com que sou
confrontada muitas vezes:
❥ Quando um homem trai a sua mulher com outra, de
quem é a culpa? Do homem, que é casado, ou da mulher, por saber que ele é
casado e, ainda assim, ser capaz de se envolver e “destruir” aquele casamento?
Cada um de nós é – sempre –
responsável pelas próprias escolhas. Quando um homem trai a mulher, está a
fazer uma escolha que não o dignifica nem dignifica a relação. E a mulher com
quem se envolva – na medida em que saiba que é casado – também está a fazer uma
escolha que não a dignifica. Isto não significa que a amante possa ser
considerada a responsável pelo fim da relação ou sequer pelos danos causados à
mulher. Quem tem um compromisso é o
marido, não é a terceira pessoa.
❥ Por que o fazem? O que é que leva uma mulher a
envolver-se com um homem que é comprometido?
De um modo geral, e por muito que
custe a acreditar, uma amante procura o mesmo que qualquer outra mulher noutra
relação: ser amada e sentir-se segura. Nem sempre escolhemos a pessoa por quem
nos apaixonamos e pode acontecer que uma mulher se envolva com um homem antes
de saber que ele é casado. Claro que cada uma de nós é responsável pelas
próprias escolhas a partir do momento em que esta informação é conhecida. Algumas mulheres assumem uma posição de
respeito por si mesmas e interrompem a ligação. Outras, porventura mais
frágeis emocionalmente, acabam por prolongar situações que podem revelar-se
desastrosas em termos emocionais.
Quanto mais amados nos sentirmos
ao longo do nosso desenvolvimento, maior é a probabilidade de construirmos
relações amorosas marcadas pelo respeito.
Há ainda uma pequena percentagem
de mulheres que se sentem relativamente confortáveis neste papel, na medida em
que é numa relação de menor compromisso e em que se sentem mais livres.
❥ E os homens? O que é que os leva a ter uma amante?
Eu trabalho com a infidelidade
praticamente todos os dias e se há algo que posso afirmar com segurança é que há vários tipos de infidelidade. Há
affairs sem qualquer ligação emocional, há outros em que o homem se apaixona
mas não deixa de se sentir ligado à mulher e há casos em que a relação
extraconjugal é, sobretudo, uma forma de terminar a relação. Para alguns
homens, a amante representa, sobretudo, a possibilidade de experimentar o sexo
com uma pessoa diferente sem colocar em risco (teoricamente) a relação oficial.
Para outros, a amante cumpre o propósito de dar resposta às lacunas afetivas
existentes no casamento. Nesses casos, normalmente o investimento afetivo é
maior e o envolvimento também. Há situações em que o envolvimento não é
premeditado e a pessoa apercebe-se, a propósito da relação extraconjugal, que
algo está mal na relação oficial mas não há vontade de romper. E há casos em
que, ainda que de forma inconsciente, a amante é apenas a “desculpa” para
terminar uma relação. O que acontece nestes casos é que acaba por ser mais
fácil lidar com a raiva do parceiro do que com a sua tristeza e a sua
prostração.
❥ Quais são as vantagens e desvantagens de ser a outra?
Não consigo identificar reais
vantagens nesta posição. Aquilo que, à primeira vista, possa ser considerado
vantajoso – como a ausência de monotonia e de obrigações – é precisamente
aquilo que tende a gerar desconforto, mágoa, insegurança e conflitos. De um
modo geral, precisamos de saber com o que é que podemos contar, precisamos de
perceber que a pessoa que está ao nosso lado está disponível para nós e que o
seu mundo pára quando precisamos dela. Nada disto acontece numa relação
extraconjugal.
É evidente que é muito difícil
para uma mulher apaixonada pura e simplesmente acabar uma relação quando se
apercebe que o homem de quem gosta tem um compromisso de que não está capaz de
abdicar. Mas as decisões difíceis têm de ser tomadas. E é obviamente muito mais
danoso prolongar uma relação em que uma das pessoas não esteja a colocar a
outra no topo das suas prioridades. Muitas vezes, ao fim de anos de relação há
todo um trabalho de recuperação da autoestima que tem de ser feito.
Quando uma mulher se sujeita a
ser a outra durante anos a fio há uma probabilidade muito elevada de gostar
cada vez menos de si mesma e de isso se refletir noutras relações afetivas e
familiares ou até profissionalmente. Por outro lado, o tempo vai passando e a
pessoa vai tomando consciência de que há planos e sonhos que ficarão por
cumprir e há até o risco de depressão.
Quando uma mulher se apercebe de
que não é nem será a escolha do homem por quem se apaixonou, precisará de
reconhecer a sua dor, de exteriorizar a sua tristeza e de aceitar que ela tenha
de durar algum tempo. Isso não quer dizer que vá sentir-se infeliz para sempre
– ninguém fica assim para sempre! O apoio dos amigos é fundamental, assim como
muitas vezes a intervenção psicológica acaba por revelar-se essencial para a
recuperação do otimismo e da autoestima.