Há homens que mentem. Há mulheres
que mentem. Há homens e mulheres que mentem a si mesmos. Mas na minha prática
clínica são muito mais frequentes os casos em que a mulher “cai” numa série de
mentiras do respetivo companheiro do que o contrário. Algumas destas situações
acontecem em relações sérias, outras surgem no contexto de uma amizade
colorida. Em qualquer dos casos há um denominador comum: a ilusão. São muitos
os pedidos de ajuda que recebo da parte de mulheres que, a dada altura, já não
sabem em que é que devem acreditar. Às vezes, mesmo quando toda a gente à sua
volta chama a atenção para os sinais de alarme, é mais fácil continuar a
acreditar na pessoa de quem se gosta. Mas como o desgaste é enorme e, muitas
vezes, já é de violência emocional
que estamos a falar, surge a urgência de falar com um especialista. Hoje
partilho algumas mentiras em que as mulheres apaixonadas costumam acreditar.
1 - ELE TEM MEDO DO COMPROMISSO
Este é um mito que tanto é
difundido por homens que não estão interessados em manter uma relação séria
como por mulheres que se recusam a enfrentar a dura realidade de estarem
envolvidas com alguém que pura e simplesmente não está minimamente comprometido
com elas. Perante um homem que não dê sinais claros de que queira assumir uma
relação de compromisso, algumas mulheres dizem a si mesmas que isso tem a ver
com traumas antigos. “Ele tem medo de voltar a magoar-se” ou “Ele já sofreu
muito e agora tem dificuldade em entregar-se” são, sobretudo, frases que
permitem que uma relação sem regras continue a existir.
A VERDADE:
Quase todas as pessoas já viveram
um desgosto amoroso. É duro e, momentaneamente, pode levar-nos a uma postura
defensiva. Mas quando voltamos a apaixonar-nos não desperdiçamos a
oportunidade. Se um homem estiver realmente interessado numa mulher, vai querer
assumir a relação de forma clara.
2 - VALORIZA MUITO A FAMÍLIA… E É
POR ISSO QUE AINDA NÃO A APRESENTOU
Ele tem uma família muito
conservadora. É muito ligado aos pais. Tem medo de os magoar. Tem uma avó que é
doente e que sofreu horrores quando ele se separou da última namorada. Tretas! É evidente que qualquer pessoa
tem o direito de se proteger e de proteger a família alargada. É óbvio que para
muitos homens não fará sentido apresentar a nova namorada ao fim de uma semana.
Mas se o tempo for passando e, por exemplo, ao fim de alguns meses a relação se
mantiver mais ou menos confidencial, a campainha deve soar. É uma questão de
transparência e de segurança emocional.
A VERDADE:
Cada um de nós precisa de se
sentir seguro de que a pessoa que está ao nosso lado está realmente
comprometida. Se a relação se mantiver secreta, não há um compromisso. Mais: de
um modo geral, quando uma mulher só está com o homem de quem gosta a dois e não
conhece a sua família nem sai regularmente com os amigos dele, isso pode indiciar
que alguma coisa esteja a ser escondida.
3 - SÃO SÓ AMIGAS
Atualmente é difícil controlar
aquilo que é publicado nas redes sociais e, mesmo que o seu namorado tenha
cuidado com aquilo que publica, há sempre a possibilidade de ser identificado
nas publicações de outras pessoas. Imagine que dá de caras com fotografias
comprometedoras ao lado de outras mulheres. Ele vai dizer-lhe que são só
amigas. Ó-B-V-I-O. Você acredita no que quiser. Mas preste atenção aos
detalhes. Ele falou-lhe do que fez no dia ou na noite a que essas fotografias
dizem respeito?
O mesmo tipo de alarme deve
fazer-se soar sempre que você se dê conta de que o seu amor tem alimentado
relações com outras mulheres na sua ausência. Ele troca mensagens privadas com
outras mulheres no Facebook? Sai sozinho com algumas amigas e nem sempre se
“lembra” de lhe contar?
A VERDADE:
A pessoa de quem gosta tem
direito a relacionar-se com outras mulheres. Mas numa relação de compromisso é
fundamental que haja honestidade. Se a este tipo de surpresas estiver associado
qualquer tipo de mentira, o mais provável é que essas relações não sejam assim
tão inofensivas.
4 - ALGUÉM MEXEU NO TELEMÓVEL
DELE
As redes sociais e os smartphones
trouxeram a possibilidade de nos mantermos em contacto com as pessoas de quem
gostamos de mil e uma forma diferentes. Mas é inevitável reparar no facto de a
partir daí também terem surgido mil e uma formas de nos confrontarmos com
comportamentos menos ajustados. Se uma mulher reparar no facto de o seu
namorado continuar “online” no Facebook ou no Whatsapp, apesar de ele lhe ter
garantido que estaria a trabalhar ou a dormir, é normal que se sinta alarmada.
Mas se, depois de ser confrontado com estas informações, ele lhe disser que
alguém mexeu no seu telemóvel, ou que a tecnologia não é infalível, o mais
provável é que a mulher não queira passar por louca nem por possessiva.
A VERDADE:
De um modo geral, a estas
suspeitas juntam-se alguns comportamentos que permitem que haja a sensação da
“pulga atrás da orelha”. E, se assim for, mais vale estar atenta. A tecnologia
é falível e a confiança numa relação não deve ser sustentada por provas. Não
vale a pena exigir que o seu namorado lhe dê a sua password de Facebook. Se ele
a quiser trair, fá-lo-á independentemente disso. Mas se a par de alguma
incoerência deste tipo você se der conta de que ele se apressa a apagar algumas
mensagens, desliga o telemóvel quando você se aproxima, recebe mensagens a
horas impróprias ou tem dificuldade em manter o visor do telemóvel voltado para
si, não faça de conta de que é tudo normal. Não é.
5 - ELE JÁ TRAIU… MAS NÃO O FARÁ
COMIGO
Voltamos ao princípio: algumas
mulheres olham para o homem que têm ao seu lado como um coitadinho.
A VERDADE:
Eu lido com a infidelidade todos
os dias. São contingências do meu trabalho como terapeuta conjugal. E sei que
nem todas as pessoas que traem uma vez vão voltar a fazê-lo. Há homens (e
mulheres) que já traíram e que sofreram com isso.
Quando um homem fala sobre
infidelidades do passado está a dar uma demonstração de confiança? Depende da
forma como descreve esses acontecimentos. Mostra
arrependimento? Assume a responsabilidade? Isto é, mostra genuinamente que
se deixou tocar pelo sofrimento que causou à ex-mulher ou ex-namorada? Dá
sinais claros de que foi capaz de se colocar na posição da outra pessoa? E como
é que geriu a situação na altura? Foi ele que contou ou foi apanhado? Se se
limitou a contar aquilo que aconteceu ao mesmo tempo que justificava a sua
escolha com frases do tipo “Não teve qualquer significado” ou “A relação já
estava no fim”, tome cuidado. Assumir o erro pode não querer dizer que haja
genuína empatia com o prejuízo causado à pessoa com quem estava na altura. Por
que é que consigo haveria de ser diferente?