Quando, depois de dizer ao meu
filho para comer tudo o que estava no prato, o ouvi perguntar-me «Senão a mamã
chora?», dei-me conta de que, mesmo de forma involuntária, tinha colocado o pé
na poça. Tenho a certeza de que nunca lhe disse que, se ele não se comportasse
de determinada maneira, eu choraria mas aquela pergunta não tinha surgido do
nada. Quantas vezes não terei dito qualquer coisa como «Se comeres tudo, a mamã
fica contente»? É natural que uma criança junte 2+2 e, calcule que, se não
comer tudo, a mamã possa ficar triste. E, aos 3 anos, ficar triste é chorar.
Sem querer, posso ter feito chantagem emocional com o meu filho.
Fazemos (quase todos) chantagem
emocional mais vezes do que gostaríamos. E nem sempre paramos para pensar nos
danos associados a esta forma de violência emocional. Sim, é de violência
emocional que falamos, pelo menos nalguns casos.
De um modo geral, este tipo de
manipulação apela ao medo, à obrigação e aos sentimentos de culpa da outra
pessoa forçando-a a satisfazer aquilo que desejamos. Na medida em que nos
habituemos a utilizar este tipo de estratégias para convencer as nossas
crianças a assumir determinados comportamentos, estamos, lamentavelmente, a educa-las
no sentido de tolerarem que outras pessoas as manipulem.
Quando um pai ou uma mãe diz «Se
não comeres a sopa toda, eu já não gosto de ti», está, sem querer, a impedir
que o filho reconheça este tipo de frases como chantagem emocional. Na idade
adulta, se este ouvir qualquer coisa como «Se tu gostasses mesmo de mim, farias
aquilo que eu estou a pedir», é mais provável que não se dê conta de que está a
ser vítima de chantagem.
Se um homem disser à namorada «Se
tu gostasses mesmo de mim, não usavas minissaia», está a exercer violência
emocional. Porquê? Porque está a tentar IMPOR a sua vontade apelando aos
sentimentos de culpa da namorada. Ele sabe que ela valoriza os seus
sentimentos, sabe que ela o ama MAS joga com isso para a persuadir a fazer
aquilo que ELE quer.
Estamos a fazer chantagem
emocional sempre que fazemos comentários como:
«Se tu te
preocupasses comigo…»
«Se tu quisesses
saber de mim…»
Mas há mais. Quando alguém faz
uma ameaça – explícita ou implícita – para garantir que a sua vontade seja
satisfeita, também está a fazer chantagem emocional. São exemplos disso os
seguintes comentários:
«Se não comeres a
sopa toda, tiro-te os brinquedos.»
«Se me deixares, vais
acabar sozinha.»
Nas relações afetivas não há arma
mais poderosa e destrutiva do que a chantagem emocional que envolva o abandono
ou o sofrimento. Algumas pessoas apercebem-se de que esta é uma forma de
imporem a sua vontade e usam-na sempre que houver algo a “ganhar”. Eis dois
exemplos:
«Eu não sei o que é
que faria se tu me deixasses. Acho que era capaz de cometer uma loucura.»
«Estás sempre a
trabalhar. Pode ser que um dia acordes sozinho.»
As pessoas que usam a chantagem
emocional de forma recorrente e consciente são, de um modo geral, pessoas que
detestam perder e com pouquíssima tolerância à frustração. Centram-se nas suas
necessidades afetivas e, à medida que a relação evolui, vão mostrando cada vez
menos interesse pelas necessidades e sentimentos da vítima. As pessoas que
cedem à chantagem podem, na medida em que se deem conta disso, travar o
processo. Mas se se tratar de situações pouco claras que envolvam o cônjuge ou
outro familiar próximo, pode ser difícil identificar o fenómeno. A pessoa
percebe que há qualquer coisa de errado, sente-se sistematicamente em baixo mas
pode não ser capaz de interromper o círculo vicioso.
Aprender a reconhecer a chantagem
emocional, identificar os próprios sentimentos e necessidades afetivas e ser
capaz de dizer NÃO pode não ser fácil nem instantâneo. Mas é um caminho
imprescindível para que nos sintamos em paz e construamos relações felizes.