Quando falamos de traição,
pensamos (todos) automaticamente em infidelidade, em relações extraconjugais.
Mas no dia-a-dia de qualquer relação amorosa há acontecimentos que podem minar
a felicidade do casal e cujo impacto pode ser tão destruidor como o de um affair. Enquanto terapeuta conjugal,
lido todos os dias com estas formas de traição e posso afirmar que em alguns
casos o sofrimento que elas provocam é tão avassalador que pode dar origem à
rutura. Ao contrário do que se possa pensar, nem todos os casamentos terminam
por causa de uma terceira pessoa.
Muitas vezes, a pessoa que está a
trair a confiança do parceiro desvaloriza as queixas e faz comentários do tipo
«Isto não é assim tão grave». Esta desvalorização é extremamente arriscada porque,
como costumo dizer, por detrás de cada
queixa há uma oportunidade de o casal se reaproximar. Quando um se queixa e
vê o seu apelo ser ignorado, aquela oportunidade transforma-se num momento de
desconexão e desamparo.
Eis três exemplos concretos do
que pode ser sentido como uma traição ao compromisso a dois:
INFIDELIDADE
EMOCIONAL
Sempre que um dos membros do
casal dá mais importância a uma pessoa fora da relação, colocando os seus
interesses sistematicamente à frente dos do companheiro, e/ou trata essa pessoa
de forma mais especial, está a trair o seu compromisso.
Isso não significa que vivam exclusivamente para o relacionamento.
Têm amigos, carreiras profissionais, hobbies
e outras relações que acarinham. Mas o companheiro é tratado de forma especial –
quer sob a forma de gestos e palavras de afeto, quer sob a forma da atenção que
um presta ao outro.
Quando uma pessoa passa a tratar
um colega ou amigo de forma mais especial, canalizando para essa relação a
maior parte da sua atenção, do seu tempo e da sua disponibilidade, é possível
que esteja a trair o companheiro. Se alguns destes comportamentos ocorrerem às
escondidas do parceiro, estamos claramente perante uma situação de infidelidade
emocional.
Alguns sinais de que você possa estar a ser emocionalmente infiel
(mesmo que não se tenha dado conta disso):
- Oculta alguns acontecimentos ao seu cônjuge (conversas, mensagens via Facebook ou telemóvel).
- Responde às queixas do seu companheiro com comentários do tipo «Não tens nada a ver com isso» ou «Não tens nada com que te preocupar».
- O seu parceiro pediu-lhe para terminar essa relação e você disse que não o faria.
- Há muitas discussões (de casal) sobre essa pessoa.
MEIO COMPROMISSO
Nestes casos é usual que a pessoa
que se sente traída evite abordar assuntos sensíveis com medo de perder o
companheiro. Por exemplo, quando há um que quer ter filhos e o outro não assume
claramente a sua posição, isso pode indiciar que haja um que está mais
comprometido do que o outro. Não estou a referir-me àquelas pessoas que assumem
que não gostariam de ter filhos. Estou, isso sim, a referir-me a todas as que
não são capazes de assumir uma posição. A mensagem que conseguem transmitir é «Eu não sei se quero ter filhos NESTA
relação».
Na prática, quando falamos de
pessoas que não estão tão comprometidas quanto seria saudável, falamos de
companheiros que se sentem constantemente desamparados. Muitas vezes isto
acontece em relações em que teoricamente as pessoas já atingiram um nível de
compromisso considerável (por exemplo, vivem juntas). No entanto, na prática,
não há a sensação de que um está verdadeiramente lá para o outro e de que há um
projeto a dois.
DESLIGAÇÃO
Estar numa relação é, sobretudo,
saber que há alguém que se preocupa connosco e cujo mundo para quando precisamos
que venha em nosso auxílio. Quando as necessidades afetivas de um são ignoradas
ou desprezadas pelo outro, também é da sensação de traição e desamparo que
falamos. Isto pode acontecer quando um
dos membros do casal se recusa a acompanhar o outro a um funeral porque tem um
compromisso profissional ou em situações banais do dia-a-dia em que há
sempre qualquer coisa mais importante para fazer do que prestar atenção ao
companheiro.
Há muitos instantes em que um
precisa do outro e esse apoio não surge imediatamente. Mas são exceções. Quando
uma pessoa dá por si a fazer balanços e chega à conclusão de que na maior parte
das vezes em que precisou do companheiro ele não esteve “lá”, a relação pode
estar com um problema sério.
SOLUÇÕES
Dar importância ao que a pessoa
que está ao seu lado diz é sempre uma boa alternativa. Se o seu amor se queixa
porque há demasiada intimidade na sua relação com aquele(a) colega, é porque
provavelmente há mesmo. Se há assuntos sensíveis aos quais tem fugido para
evitar problemas, o melhor é parar e enfrentar a realidade. Enganar-se a si
mesmo e a pessoa que está ao seu lado não deveria ser opção. Se a pessoa com
quem vive se queixa por não sentir o seu apoio, pare para prestar atenção. O
assunto pode ser mais sério e mais profundo do que aparenta.