Você está sozinha na sala e ele
está enfiado no quarto. Passaram duas horas desde que a discussão terminou e a
mágoa continua. «Como é que ele pôde dizer aquelas coisas? Se está à espera que
eu saia daqui e o desafie para jantar, está redondamente enganado…». O seu
amor-próprio fá-la criar raízes no sofá mas o estômago parece que está feito
num oito e o coração quer saltar do peito. Não admira. Tem saudades do seu amor
e quer que fique tudo bem. Mas
como?
Ninguém gosta de discutir.
Repito: ninguém. Às vezes, quando a pessoa de quem gostamos se queixa, pode dar
a sensação de que só quer implicar connosco. Se se queixar com frequência e/ou
se se exaltar muito durante a discussão podemos pensar que sim, que gosta de
discutir. A experiência mostra-me que quanto mais acesa for uma discussão,
maior é o sofrimento de quem se queixa. Por detrás dos gritos, das palavras
feias e da agitação está quase sempre a sensação de abandono ou de rejeição.
Claro que aquilo que é dito durante uma discussão de casal nem sempre mostra
com clareza e honestidade aquilo que cada um está a sentir. Às vezes,
discute-se sobre dinheiro ou sobre um jantar com os sogros quando, na verdade,
lá no fundo, a discussão é sobre a força do compromisso, sobre a importância
que cada um gostaria de ter na vida do outro.
À medida que as discussões se
sucedem é muito fácil perder o controlo e achar que está tudo perdido. Quando
se discute por tudo e por nada, quando apesar dos esforços mútuos quase não há
tempo para ganhar fôlego entre discussões, pode surgir o desespero.
Todos os casais discutem e – não
me canso de dizer – isso não é mau. Discutir é importante porque, de uma
maneira geral, acrescenta intimidade, acrescenta revelação mútua. Mas saber
fazer as pazes é fundamental. Muitas vezes aquilo que falta a um casal que se
sinta em crise não é uma solução perfeita para um grande problema mas sim a
capacidade de recuperar dos pequenos problemas. Repare-se que não estou a falar
de RESOLVER todos os pequenos problemas. Estou, propositadamente, a falar de
RECUPERAR.
Na prática, isso significa que há
alturas em que, apesar de (ainda) não haver consenso para o problema que deu
origem à discussão, há um que escolhe colocar o orgulho de lado e fazer uma
TENTATIVA DE REAPROXIMAÇÃO e há outro que RESPONDE COM AFETO só para que fique
tudo bem outra vez. Isso nem sempre significa que haja pedidos de desculpas e
muito menos que o assunto seja retomado. O que é retomado é a RELAÇÃO.
Quando duas pessoas que se amam
escolhem reaproximar-se depois de uma discussão, estão a transmitir mutuamente
a mensagem de que o seu amor é um bem muito maior do que aquilo que deu origem
ao momento de tensão. Sem se darem conta, ao retomarem a normalidade possível –
conversando sobre outros assuntos, fazendo uma refeição a dois e, sobretudo,
trocando gestos de afeto, estão a acalmar-se mutuamente. Estes passos têm um
efeito milagroso em qualquer um de nós. Depois da tristeza e da ansiedade
geradas por uma discussão, sabermos que a pessoa de quem gostamos continua a
estar “lá” e a mostrar que gosta de nós é exatamente aquilo de que precisamos
para relaxar e, mais cedo ou mais tarde, conseguirmos falar sobre o que motivou
a briga.
Como os membros do casal nem
sempre têm os mesmos timings, pode
acontecer que um tome a iniciativa de sair do sofá em direção ao quarto, faça
uma festinha e o outro… continue amuado. Não vale a pena desesperar. O mais
provável é que, nesse momento, se sinta rejeitado mas é importante relativizar.
Claro que, para quem escolheu abdicar do orgulho e dar o primeiro passo, não é
fácil lidar com a rejeição. Mas às vezes é só uma questão de tempo. É uma
questão de permitir que o outro se acalme e faça ele mesmo uma tentativa de
aproximação.
Depois de uma discussão acesa, se se sentir nervoso(a)/ agitado(a),
procure acalmar-se:
Relaxe através da respiração.
Feche os olhos e procure centrar-se na respiração através do exercício 4-7-8:
1 - Expire pela sua boca
completamente deixando todo o ar sair com um som tipo "chhhhhh".
2 – Mantenha a ponta da língua a
tocar o “céu” da boca durante TODO o exercício.
3 - Feche a boca e inspire
silenciosamente pelo nariz contando até ao número 4.
4 - Pare a sua respiração, mantenha
o ar nos pulmões e conte mentalmente até ao número 7.
5 - Expire completamente pela
boca com um som "chhhhhh" contando até ao número 8.
6 - Esta foi a primeira
respiração. Agora faça de novo até se sentir mais calmo(a).
Se se sentir dominado(a) pela tristeza, procure distrair-se:
- Veja um filme / leia um livro.
- Saia de casa – vá ao
supermercado, ao café ou ao ginásio.
- Converse com um familiar ou um
amigo (não necessariamente sobre a discussão).
Quando se sentir mais calmo(a), procure conversar com o seu
companheiro sobre as seguintes questões:
1 – O que é que faz com que eu me
irrite rapidamente? / O que é que faz com que tu te irrites rapidamente?
2 – Como é que eu costumo
queixar-me? / Como é que tu costumas queixar-te?
3 – Eu vou acumulando a minha
irritabilidade? / Tu vais acumulando a tua irritabilidade?
4 - Há alguma coisa que eu possa
fazer para te sentires mais calmo durante a discussão? / Há alguma coisa que tu
possas fazer para me acalmar durante a discussão?
5 – O que é que cada um de nós
pode fazer para interromper uma discussão quando alguém já está muito irritado?
Que sinais podemos emitir e que não sejam sinais de abandono?