…Faz de si um mentiroso.
Joana emprestou dinheiro a uma
amiga. Meses depois, e apesar de a amiga mostrar alguns sinais de que a sua
vida estaria mais estabilizada do ponto de vista financeiro, o dinheiro ainda
não tinha sido devolvido. Quando o marido lhe perguntou «Porque é que não falas
com ela?», Joana respondeu «Achas? Claro que não. Pode achar que estou a
pressioná-la. Ou então ainda pensa que sou eu que estou com dificuldades
financeiras.». Joana tinha decidido não incomodar a amiga para não passar uma má
imagem. À medida que a amiga aparecia com artigos novos, Joana sentia-se
indignada, desrespeitada. Começou a evitar os seus telefonemas e a inventar
desculpas para não estar com ela. Se tivesse sido capaz de dizer qualquer coisa
como «Não quero pressionar-te mas gostava que me dissesses quando é que
conseguirás devolver o dinheiro que te emprestei.», o que é que poderia correr
mal? A amiga até poderia, de facto, sentir-se pressionada mas, desta forma,
estaria a par da necessidade de Joana e teria oportunidade de cumprir o seu
dever e cuidar da amizade. Pelo contrário, a falta de assertividade desgastou
ainda mais a relação e permitiu que Joana se sentisse mal consigo mesma.
Em função da vontade de agradar
(ou simplesmente não contrariar), acabam por não ser honestas – nem consigo,
nem com os outros.
Quantas vezes saiu do cabeleireiro,
de uma loja ou de uma repartição
pública
com a sensação de lhe ter sido prestado um mau serviço?
Quantas vezes
reclamou os seus direitos de forma assertiva?
Sempre que engolimos um sapo, que
é como quem diz ignoramos aquilo que sentimos, o mal-estar instala-se.
Esforçarmo-nos para agradar a toda a gente à nossa volta faz mal à nossa saúde
e ainda degrada as relações mais significativas.
Quando Carla começou a namorar
com Luís, ele estava em litígio com a empresa onde tinha trabalhado. Carla
tentou apoiar o namorado mas ao fim de alguns meses sentia-se desgastada por
todo o tempo a dois ser dedicado a gerir assuntos relacionados com o conflito
laboral. Embora se sentisse incomodada, ficou calada. Até ao dia em que decidiu
romper a relação, deixando-o surpreendido. Se Carla tivesse dito algo como «Eu
sei que este assunto é muito importante para ti mas eu preciso que prestes atenção
às minhas preocupações.», não estaria apenas a exteriorizar o seu mal-estar em
tempo real. Também estaria a dar oportunidade ao namorado de lhe mostrar que
valoriza as suas emoções e as suas necessidades.
É legítimo que desejemos que as
pessoas que gostam de nós se preocupem connosco, com as nossas necessidades. Mas às vezes elas estão tão mergulhadas nos
seus problemas que podem esquecer-se de perguntar como nos sentimos. Chamar
a atenção, confrontar, apelar pode não ser sempre fácil mas é essencial para
que nos sintamos genuinamente amados e para que construamos relações afetivas
(e não só) que sejam geradoras de bem-estar.