Reatar uma relação com um
ex-namorado é o caminho para uma relação mais feliz ou vai tudo voltar a correr
mal? Foi com muito gosto que cedi uma entrevista ao Diário de Notícias a
propósito deste tema.
1 - Um casal que se reencontra depois de uma primeira relação falhada
pode reconstruir uma relação feliz?
Sim, sobretudo se o afastamento
der lugar à reflexão sobre o que correu mal da primeira vez e/ou ao
amadurecimento individual. Da mesma maneira que crescemos quando estamos numa
relação, é provável que amadureçamos na sequência de uma rutura. A distância
emocional em relação aos momentos de conflito pode ajudar-nos a olhar para os
erros cometidos com sentido de responsabilidade.
2 - E para isso têm que esquecer o que correu mal numa primeira
relação? Esse deve ser um assunto esclarecido logo à partida?
Ninguém esquece aquilo por que
passou, especialmente se tiver causado mágoa. Não é desejável que se tente
apagar o passado, em particular se um dos membros do casal tiver cometido erros
graves. Aquilo que deve acontecer é uma tentativa de esclarecer aquilo que
porventura tenha ficado por esclarecer.
3 - Como fazer resultar uma relação que já não correu bem uma vez?
Na medida em que se consiga falar
abertamente sobre o que correu mal e, sobretudo, na medida em que cada um seja
capaz de assumir genuíno arrependimento em relação aos erros cometidos, é mais
provável que surjam compromissos importantes. Se tiver havido marcos que tenham
abalado a confiança, é fundamental que se esclareça as expectativas e as
necessidades de cada um. A inexistência deste tipo de diálogo poderia implicar
que, nas mesmas circunstâncias, se repetissem os erros ou que um desenvolvesse
expectativas irrealistas em relação ao outro. Por exemplo, em certos casos em que houve uma traição, a pessoa que foi
traída pode ter a expectativa de que o companheiro esteja disponível para
abdicar do direito à privacidade com o objetivo de restaurar a confiança. A
pessoa que traiu pode ter a expectativa de que o cônjuge tenha “esquecido” o
assunto e/ou esteja capaz de assumir o compromisso de não voltar a falar nisso.
4 - No caso de pessoas mais velhas que encontram um amor antigo, depois
de enviuvar ou de se divorciarem. Como se regressa a uma relação que já passou
há décadas? Há alguma coisa ainda da primeira ligação?
Haverá provavelmente memórias de
momentos positivos vividos a dois e a sensação de pertença, de proximidade
afetiva. Claro que as décadas de afastamento correspondem quase sempre a mudanças
muito significativas e nem sempre é fácil o confronto entre as expectativas e a
realidade. Por um lado, há a sensação de se estar “em casa”, a sensação de
familiaridade, a ideia de que se conhece aquela pessoa de toda a vida mas, por
outro, há o confronto com uma bagagem que é desconhecida e que pode trazer
surpresas.
5 - Como podem neste caso os elementos do casal afirmar o seu direito a
ter uma nova relação e feliz quando muitas vezes os filhos, já adultos, não
aceitam?
Os filhos não são donos dos pais
e, ainda que uma mudança desta natureza nem sempre seja fácil de aceitar, é
fundamental que haja respeito pelas escolhas de cada um. Tal como acontece a
propósito do divórcio dos filhos, em que os pais têm o direito à tristeza e ao
luto mas não têm o direito de condicionar decisões, nestes casos os filhos
adultos têm o direito de se sentirem desconfortáveis ou tristes com a nova
relação mas não têm o direito de impor a sua vontade. Infelizmente, na prática
há alguns casos em que a rutura acontece – às vezes entre os membros do casal,
outras entre pais e filhos.
6 - É mais fácil reconstruir uma história com alguém com quem já se foi
feliz? Quais os desafios de uma relação nestes termos?
Nalguns casos pode ser mais
fácil, em função da sensação de familiaridade que referi antes. Quando há
demasiada tensão na bagagem da relação e/ou demasiados assuntos por resolver
pode tornar-se mais difícil. Outro desafio diz respeito aos acontecimentos que
ocorreram no intervalo da relação – é preciso falar sobre eles, às vezes
intensamente, para que haja a sensação de que se conhece verdadeiramente aquela
pessoa. Dez ou quinze anos depois, já não se ouve as mesmas músicas, os
interesses mudam e, seguramente, os acontecimentos emocionalmente mais
significativos implicaram mudanças na forma como cada um olha para a vida.