Portugal é o campeão europeu em
matéria de divórcio: por cada 100 casamentos há 70 divórcios. Curiosamente, o
número de pessoas que se casam pela segunda e pela terceira vez tem aumentado.
Continuamos a ter esperança de encontrar a pessoa certa e de viver com ela
«para sempre» mas esse parece ser um desafio cada vez maior.
Se uma pessoa se sentir
insatisfeita com a sua relação, é legítimo que pense em separar-se mas valerá a
pena parar para refletir sobre algumas questões.
1.
A RELAÇÃO
TEM UM PROBLEMA INULTRAPASSÁVEL?
Em momentos de fúria, a ideia de
um divórcio pode parecer a escapatória para ser mais feliz. Muitos casais
felizes identificam momentos de desconexão em que surgiram pensamentos como «O que é que eu estou a fazer nesta
relação?» ou «Talvez estivesse melhor sozinho(a)». É normal. Depois a raiva
passa e dão conta de que aquilo que os une é mais forte do que aquilo que os
separa.
À medida que a sensação de
desamparo se instala, é provável que pelo menos uma das partes equacione esta
alternativa.
Antes de avançar, procure
refletir sobre os motivos por detrás desta escolha. Se estiver numa relação
onde haja qualquer forma de maus-tratos ou se a pessoa de quem gosta tiver um
problema de alcoolismo ou outra forma de dependência não tratada, o divórcio é,
provavelmente, a escolha que lhe permitirá cuidar de si, do seu amor-próprio e,
assim, abrir espaço para que, mais cedo ou mais tarde, possa construir uma
relação emocionalmente estável com outra pessoa. Mas se der por si a dizer (ou
pensar) coisas como «Já não há paixão» ou «Nós estamos muito distantes», não se
precipite. Estes são sinais de desconexão comuns à maior parte das pessoas que
recorrem à ajuda da terapia conjugal.
Mesmo quando há amor, é
relativamente fácil acumular desilusões em relação à pessoa de quem gostamos.
Na azáfama dos dias, entre a vontade de continuar a alimentar a relação e ser
um super pai ou uma super mãe, dar o melhor em contexto profissional, conseguir
estar “lá” para a família alargada e para os amigos, é fácil descurar as
necessidades de quem mais gostamos. À medida que isso acontece, é expectável
que pelo menos um dos membros do casal se sinta ignorado, desprezado,
rejeitado, desamparado. E à medida que as dificuldades de comunicação se
instalam e o desespero toma conta de si, é fácil atirar a toalha ao chão e
desistir do projeto mais importante da sua vida.
Parar para olhar para as verdadeiras dificuldades, para as
circunstâncias em que se sente desvalorizado, ignorado, tomado como garantido
ou até desprezado pode implicar que cada um tenha oportunidade de implementar
mudanças que façam renascer a esperança.
2.
O
DIVÓRCIO EMOCIONAL JÁ ACONTECEU?
Algumas pessoas divorciam-se
muito antes de terem consciência disso. Às vezes estão tão absorvidas pelos
múltiplos afazeres que nem reparam na própria tristeza. Ou reparam mas não conseguem
fazer nada. Continuam casadas mas, se olharmos de perto, reparamos que
raramente estão juntas, raramente param para namorar, raramente se divertem a
dois. Funcionam como uma equipa – ele leva os miúdos ao colégio, ela vai busca-los;
ele vai ao ginásio ao serão enquanto ela trata do jantar; ela vê a série de
televisão no quarto enquanto ele trata da cozinha – mas não alimentam o amor
romântico. Os anos passam – às vezes passam-se décadas! – e as pessoas
habituam-se. Estão lá mas não estão. E há uma altura em que o divórcio até
parece fácil. Afinal, é “só” passar para o papel aquilo que tem sido a sua
realidade. Na prática, importa parar para prestar atenção ao essencial: o que é
que cada um (ainda) sente? Ainda há afeto? Apesar de todo o distanciamento, o
que é que ainda os une? Por que é que ainda não se divorciaram?
Em muitos casos não houve
divórcio emocional. Houve distanciamento e até mágoas acumuladas. Mas as
pessoas foram ficando porque ainda havia amor, porque ainda havia esperança. Se
for esse o caso, vale sempre a pena parar para refletir sobre as escolhas que
têm prejudicado a relação e dar tempo para que novos hábitos possam dar frutos.
3.
DO
QUE É QUE EU PRECISO?
Quase todas as pessoas são
capazes de fazer uma lista interminável com as suas necessidades afetivas. Mais
do que isso, a maior parte das pessoas são capazes de fazer uma lista com tudo
aquilo que acham que merecem. «Eu mereço
alguém que queira partilhar todas as tarefas domésticas comigo», «Eu mereço
alguém que ganhe tanto como eu», «Eu mereço alguém que saiba do que é que eu
gosto quando vai às compras».
Na prática – não me canso de
dizer:
E ainda bem. De outro modo,
nenhum de nós estaria à altura dos requisitos da pessoa de quem gostamos.
Quanto mais nos agarramos à
imagem ideal de um parceiro romântico, mais reparamos nas imperfeições da
pessoa (real) que está ao nosso lado. E isso distrai-nos de todas as suas
qualidades, as mesmas que nos atraíram no início da relação.
Tentar responder de forma honesta
à pergunta «Do que é que eu preciso (mesmo) para ser feliz numa relação?» é
essencial para evitar precipitações. Afinal, talvez não seja por acaso que a
taxa de divórcios para segundos casamentos é assustadoramente alta.