Madalena tinha iniciado uma
relação há menos de um mês e sentia-se insegura a respeito do interesse de
Ricardo numa relação de compromisso. Embora não rotulassem o relacionamento de
namoro, ambos assumiram que o objetivo era conhecerem-se melhor e manterem uma
relação de fidelidade. Ricardo apresentou Madalena aos amigos e revelou a
vontade de construir uma relação estável. Em três semanas tinham conseguido
estar juntos quatro vezes e Madalena mostrou a sua insatisfação. Compreendia
que ambos tivessem compromissos e laços afetivos para além da relação amorosa
mas sentia algum desinteresse da parte de Ricardo. «Disse-lhe que gostava de perceber
que ele sentia a minha falta e que não lhe era indiferente se só pudéssemos estar
juntos uma vez por semana e ele disse-me que o que era importante para ele era
dar-me espaço para que eu pudesse fazer as minhas coisas. Senti-me confusa…».
Numa relação amorosa é
fundamental que cada um tenha espaço para estar com familiares ou amigos
individualmente, para investir em hobbies
ou para fazer qualquer atividade desportiva ou de lazer.
MAS isso não significa que o
tempo a dois passe para segundo plano. De uma maneira geral, precisamos de
sentir que somos importantes para a pessoa de quem gostamos. Precisamos de
sentir que há interesse, que há vontade de estar junto e que a relação é uma
prioridade.
Algumas pessoas gostam da ideia
de uma relação estável mas não se sentem preparadas para fazer dela a sua prioridade.
E não há nada de errado nisso – desde que a outra pessoa se sinta igualmente
confortável com essa condição. Neste caso, Madalena sentia-se claramente
insatisfeita. Ricardo desvalorizou o apelo, reforçando que PARA SI era
importante dar espaço. É curioso que não tenha sido capaz de dizer que ELE
PRECISAVA DE ESPAÇO. Ao colocar as coisas nestes termos, estava claramente a
desresponsabilizar-se. Era como se, em teoria, as suas necessidades não fossem
importantes e a sua preocupação fosse cuidar dos interesses da namorada. Mas desde quando é que estamos a zelar pelo
bem-estar da pessoa amada quando ignoramos os seus apelos e INVENTAMOS necessidades?
Na prática, Ricardo estava a procurar definir as necessidades da namorada e,
assim, impor um relacionamento à medida dos seus interesses.
Imaginemos que Ricardo teria sido
capaz de dizer «EU PRECISO DE ESPAÇO NA RELAÇÃO». Faria sentido que Madalena se
sujeitasse a estar com a pessoa de quem gostava apenas uma ou duas vezes por
semana? DEPENDE. Ninguém tem o direito de impor nada a ninguém mas cada um de
nós tem o dever de prestar atenção às próprias necessidades afetivas. É
absolutamente legítimo que um homem ou uma mulher sinta a necessidade de estar
mais tempo com a pessoa de quem gosta – especialmente no início de uma relação –
e é desejável que consiga falar abertamente sobre isso. É absolutamente
legítimo que haja a necessidade de sentir que a relação é importante e que
ambos fazem esforços para conseguirem estar juntos. Se o tempo a dois equivaler
apenas às sobras de outros afazeres, isso pode traduzir-se em insatisfação.
A partir daí, a mensagem que
passa é «Eu não sou importante. As minhas necessidades não são importantes» e
isso é meio caminho para uma relação desequilibrada.
Prestar atenção às próprias
necessidades, valorizá-las na medida certa, é meio caminho para que a pessoa de
quem se gosta também as valorize. E, se isso não acontecer, abrir-se-á espaço para
outras escolhas. Abre-se mão de uma relação geradora de insatisfação. Fica o amor-próprio
e a possibilidade de, mais cedo ou mais tarde, encontrar alguém que valha a
pena.