«Vou simplesmente dizê-lo: tenho
depressão pós-parto. Uma das melhores coisas das redes sociais é a possibilidade
de interagir com os amigos e os fãs de maneira franca e foi tão estranho saber aquilo
por que eu estava a passar mas achar que não era o lugar certo para falar sobre
isso. Sempre me senti genuinamente perto de todos vocês e estou muito aliviada
por agora saberem de algo que tem sido uma enorme parte de mim há tanto tempo.».
As palavras são da manequim ChrissyTeigen, mulher do cantor John Legend, e que foi mãe de Luna há 10 meses. Num artigo
publicado na revista Glamour,
a celebridade descreve de forma detalhada como se sentiu ao longo dos últimos
meses. A irritabilidade, a dificuldade
em sair de casa, a falta de energia, os dias in-tei-ri-nhos passados no sofá
sem ânimo para fazer o que quer que fosse (Chrissy chegou a dormir na sala
noites seguidas por não se sentir com forças para subir ao andar de cima da sua
casa), as dores no corpo e, claro, os sentimentos de culpa. Com um marido
que procurou estar sempre lá para si, uma carreira bem-sucedida e uma filha
saudável, achava que «devia estar feliz» e sentia-se ainda pior por não estar.
Em Dezembro, numa consulta com o seu médico, foi confrontada com uma lista de
sintomas a que foi respondendo com sucessivos “sins”. Diagnóstico: depressão
pós-parto. À carga negativa deste rótulo juntou-se a possibilidade de
finalmente receber a ajuda de que precisava. Com a recente divulgação abre-se
também a possibilidade de mais mulheres perceberem que não há por que sentir vergonha de um estado emocional que não
controlam.
Para quem não saiba, o nascimento
de uma criança não está sempre envolvido apenas em emoções positivas. Muitas
mulheres passam por níveis elevados de ansiedade, medo e muuuuitas dúvidas nos
primeiros dias depois do parto. É o chamado baby blues e pode durar
várias semanas. Para cerca de 25 por cento destas mulheres os sintomas evoluem
para uma depressão pós-parto, que pode manifestar-se com ou sem sinais de
ansiedade.
Apesar de todos os alertas,
muitas mulheres não conhecem os sintomas e/ou têm medo ou vergonha de pedir
ajuda, o que acaba por prolongar – desnecessariamente – o sofrimento de todos
os membros da família. Mas mesmo quando falam abertamente sobre os seus
sentimentos, muitas vezes são confrontadas com comentários – bem intencionados –
do tipo «Isso vai passar», «Foca-te no
que realmente interessa» ou «Tens o melhor do mundo aí ao teu lado», que
acabam por reforçar os sentimentos de culpa e a sensação de fracasso.
«Eu devia sentir-me bem». Estas
são as palavras que a maior parte das mulheres com depressão pós-parto dizem a
si mesmas, comprometendo a possibilidade de receberem a ajuda de que precisam.
Aquilo que Chrissy Teigen e
outras mulheres têm tentado fazer é mostrar através do seu testemunho que esta
é uma condição que pode afetar qualquer mulher, independentemente da sua
posição social.
SÃO SINAIS DE ALARME:
- Sentir-se só e procurar isolar-se;
- Sentir-se inútil e/ou incapaz de cuidar do bebé;
- Apatia e falta de interesse ou de prazer em relação às atividades que antigamente geravam interesse;
- Dormir muito mais do que o habitual (ou não conseguir dormir);
- Irritabilidade excessiva, estar zangada a maior parte do tempo;
- Sensação de vazio ou não conseguir nada.
O QUE HÁ A FAZER?
Curiosamente, várias
investigações têm salientado a importância dos laços conjugais. Conversar abertamente com o companheiro sobre os
sentimentos pode ser o suficiente para que os sintomas de baby blues
desapareçam ao fim de algumas semanas e é quase sempre fundamental para que a
mulher com depressão pós-parto aceite receber ajuda especializada.
Não fazendo parte dos planos, essa insatisfação é normal mas pode ser
ultrapassada se ambos assumirem uma ativa vontade de continuar a falar de forma
franca sobre o que cada um sente e se houver tempo e disponibilidade para
continuar a dar importância a esses sentimentos. Quando o mau-humor deixa de
ser só mau-humor e/ou quando os conflitos vêm acompanhados de outros sinais de
alarme, é preferível consultar um médico ou um psicólogo experiente.
A par desta ajuda, são pilares importantes na recuperação de
uma depressão pós-parto:
- Exercício físico;
- Caminhadas fora de casa;
- Alimentação cuidada;
- Gestos de afeto e massagens (Uma massagem diária de 15 minutos feita pelo companheiro está comprovadamente associada ao alívio dos sintomas de depressão pós-parto).