Ninguém está à espera de passar
por uma crise conjugal. Quando se ama, é perfeitamente natural (e saudável)
desejar que seja para sempre. No entanto, nem sempre estamos atentos às
necessidades da pessoa de quem gostamos, nem sempre reparamos no seu mal-estar,
nem valorizamos (na medida certa) as suas queixas. Seja porque há filhos
pequenos para cuidar, mil e um afazeres domésticos ou porque o trabalho é super
exigente, a verdade é que muito fácil ignorar as chamadas de atenção da pessoa
de quem se gosta. Assumimos o compromisso de estar “lá” para ela, gritamos aos
quatro ventos que uma relação tem de ser alimentada diariamente e acreditamos
que, entre uma ou outra discussão mais acesa, estamos a fazer um bom trabalho.
E se, de repente, formos surpreendidos por uma crise no casamento? E se a
pessoa de quem gostamos nos disser que já não sente a mesma coisa? E se houver
uma terceira pessoa?
Ao contrário do que se possa
pensar, nem todas as crises conjugais estão associadas à infidelidade. É claro
que se um dos membros do casal se interessar por uma terceira pessoa é mais
provável que levante a hipótese de terminar a relação. Mas há muitas pessoas
que se sentem insuportavelmente infelizes no casamento e que reconhecem que só
fará sentido continuar se houver mudanças drásticas. Mas quais?
Como é que se recupera a ligação
quando pelo menos um dos membros do casal assume que não está feliz?
1. DÊ
IMPORTÂNCIA
Nem sempre é fácil valorizar as
queixas da pessoa de quem se gosta. Temos quase sempre demasiadas coisas em que
pensar, demasiados problemas para resolver e nem sempre conseguimos dar a
devida importância aos sentimentos da pessoa que está ao nosso lado. Se a
pessoa que ama deu a entender que não está feliz na relação, DÊ IMPORTÂNCIA.
Pare para conversar, assuma uma postura de curiosidade gentil em relação às
suas queixas. As tarefas domésticas podem ficar para depois, alguns compromissos
profissionais também. Quando estamos doentes encontramos tempo para ir ao
médico, para fazer exames e tratamentos, certo? Se a relação estiver a dar
sinais de que já foi mais saudável, é fundamental mostrar de forma inequívoca
que está interessado(a) em dar o seu melhor para ultrapassar esta crise.
2. NÃO
SE SINTA ATACADO(A)
Num mundo ideal cada um de nós
conseguiria estruturar as suas queixas da forma mais serena e assertiva do
mundo – sem magoar, sem atacar. Na prática, não é assim que as coisas
funcionam. Quanto mais infelizes e aflitos nos sentirmos, maior é a
probabilidade de nos queixarmos de forma atabalhoada e de sermos injustos com a
pessoa que está ao nosso lado. Talvez digamos frases como “Tu NUNCA…” ou “É
SEMPRE a mesma coisa”. Se a pessoa de quem gosta lhe disser “Tu NUNCA me
perguntas como é que eu me sinto”, não leve à letra. Mesmo que se lembre de ter
feito essa pergunta há dois dias e tenha a certeza absoluta de que ele(a) o(a)
ignorou, procure assumir a tal postura de genuína curiosidade. Colocar
perguntas, querer saber mais sobre o que a pessoa de quem gosta sente e sobre
aquilo que lhe está a fazer falta aproximá-los-á. Nem sempre é fácil manter a
cabeça fria e ignorar a injustiça associada a algumas queixas mas quanto maior
for a vontade de questionar e “calçar os sapatos” do outro, melhor.
3. ESCOLHA
O MOMENTO CERTO PARA EXPOR AS SUAS QUEIXAS
Se a pessoa de quem gosta o(a)
confrontar com um conjunto de reclamações, é natural que se sinta com
legitimidade para “contra-atacar” com as suas próprias queixas. Afinal, se as
coisas andam mornas (ou mesmo frias), de certeza que a responsabilidade não é
só sua, certo? É verdade MAS há um momento certo para expor as suas queixas e
NÂO É na sequência das queixas da pessoa de quem gosta. Se o fizer, estará
apenas a passar a mensagem de que não está disposto a assumir toda a
responsabilidade pela crise atual. Ora, é fundamental conseguir passar a
mensagem de que está na disposição de assumir TODA a responsabilidade pelos
SENTIMENTOS da pessoa de quem gosta. Aquilo que importa é transmitir-lhe “Tu és
importante para mim. Aquilo que tu sentes é importante para mim”.
4. CONVERSAR,
CONVERSAR, CONVERSAR
Se há um hábito que importa
recuperar é este: é preciso encontrar tempo TODOS OS DIAS para conversar sobre
o que cada um sente, sobre o que cada um viveu ao longo do dia, sobre as coisas
positivas e negativas. É muito fácil sentirmo-nos desligados de alguém quando
vivemos permanentemente com a sensação de que aquilo que dizemos e sentimos não
é importante. Quantas vezes damos por nós a olhar para o relógio enquanto a
pessoa de quem gostamos está a contar uma episódio que viveu durante o dia de
trabalho?
Encontrar tempo TODOS OS DIAS
para conversar não significa que tenha de arranjar tempo para falar sobre a
relação. Significa, isso sim, que deve disciplinar-se no sentido de garantir
que tenha disponibilidade para prestar atenção àquilo que a pessoa de quem
gosta tem para contar. Prestar atenção é mais do que desligar os dados do smartphone: é assumir uma postura
curiosa, colocando perguntas, mostrando genuíno interesse e dando todo o seu
apoio.
5. CRIE
COMPROMISSOS (VIÁVEIS)
Talvez não seja fácil dar
resposta a todas as queixas da pessoa de quem gosta. Se as coisas esfriaram
muito – ao ponto de ele(a) não saber se deve continuar a relação – é natural
que haja uma pilha de reclamações e que você se se sinta demasiado aflito(a)
para saber por onde começar. Peça-lhe para estruturar os seus apelos através de
um “Top 3”: se cada um dos membros do casal tivesse de propor apenas 3 coisas
que gostaria de fazer mais vezes com o outro, o que é que escolheria? Cada um
deve ser livre para escolher o que quiser. Podem ser compromissos tão díspares
como “Irmos mais vezes a casa da minha mãe”, “Fazermos as tarefas domésticas a
dois” ou “Passar um fim-de-semana fora de vez em quando”. Depois é importante
definir de forma objetiva cada um destes itens: o que é que quer dizer com “de
vez em quando”? Ou com “mais vezes”? Quais são as tarefas que gostaria que
ficassem permanentemente a cargo da pessoa de quem gosta? Na prática, faz
sempre falta a postura de curiosidade gentil, que se traduza em perguntas que
lhes permitam conhecer genuinamente as necessidades do outro. Comecem por
escolher (cada um) uma atividade da lista de necessidades da pessoa amada.
Assumir um compromisso pode parecer pouco, em particular quando a relação está
em crise, mas é o caminho mais seguro para que a pessoa de quem gosta perceba
que você está empenhado(a) em fazer com que a relação dê certo. Claro que essa
confiança depende da sua genuína vontade de se descentrar e ir ao encontro do
que a pessoa de quem gosta precisa. Por exemplo, de nada adiantará “fazer o
frete” de ir todas as semanas a casa da sogra só para cumprir calendário. Se
essa for a sua escolha, procure fazê-lo de coração – com genuína vontade de tornar
a vida da pessoa que está ao seu lado mais feliz.
6. PEÇA
AJUDA
Nunca é demasiado cedo para pedir
ajuda especializada mas às vezes pode ser demasiado tarde. Se acha que a sua
relação está em risco, procure trata-la como a matéria mais importante da sua
vida. Reúna todos os recursos de que dispuser. A ajuda da terapia de casal é,
sobretudo, a oportunidade de olhar para as dificuldades num ambiente seguro com
o objetivo de identificar as soluções que permitam que ambos olhem para relação
como uma fonte de alegria e bem-estar.