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9.5.17

CHANTAGEM EMOCIONAL NA RELAÇÃO CONJUGAL


Quando João foi apanhado a trair a mulher foi ela que se sentiu culpada. Depois de o confrontar com as provas da traição – mensagens trocadas através do Facebook -, Susana foi acusada de ser uma mulher desleixada e pouco afetuosa, o que, aos olhos do marido, eram justificações para o facto de ele ter «sentido a urgência de procurar fora o que não tinha em casa». Segundo João, ele também estava em sofrimento há muito tempo por se sentir ignorado pela mulher. Para além de se sentir devastada com a descoberta da traição do marido, Susana começou a sentir-se culpada pelas escolhas do marido.

Quando um dos membros do casal comete um erro e culpa o outro, isso pode ser sinal de chantagem emocional.



Às vezes o preço é a autoestima de um dos membros do casal. É isto que acontece quando um faz constantemente chantagem emocional sobre o outro de modo a ver a sua vontade ser satisfeita.

O que é que acontece quando o marido erra e culpa a mulher pelo seu comportamento? Esta enche-se de culpa, sente-se uma péssima mulher e instintivamente procura melhorar o seu comportamento no sentido de fazer o marido feliz. É como se não fosse suficientemente interessante, suficientemente inteligente ou suficientemente bonita. É como se tivesse sido ela a fazer más escolhas, empurrando-o para o mau comportamento. À medida que se esforça para ser cada vez melhor, assumindo a responsabilidade pelas escolhas do companheiro, vê a sua autoestima diminuir cada vez mais. A páginas tantas sente-se inútil, desinteressante, incapaz.

No exemplo de João e Susana, o marido recusou assumir a responsabilidade pelo SEU comportamento. Ao aceitar a responsabilidade pela fraqueza do marido, Susana deu início a um perigoso caminho.



Neste caso, João deveria ser capaz de dizer «Eu errei e sou o único responsável pela escolha que fiz». Esta postura não o impediria de se queixar do comportamento de Susana. Se a mulher se desleixou e deixou de investir na demonstração física de afeto, João tinha o direito de dizer «Eu queixei-me e tu foste ignorando os meus apelos. Senti-me triste e rejeitado», dando a oportunidade a Susana para assumir a responsabilidade pelos SEUS erros. Ainda assim, os erros de um NÃO podem servir de justificação para os erros do outro.

Algumas pessoas tornam-se peritas em colocar sobre os ombros dos respetivos companheiros TODA a responsabilidade. Amuam, fazem birras, dramatizam, assumem reações desproporcionais – sempre com o objetivo de impor a sua vontade e colocando a culpa na outra pessoa.

Veja se é alvo de
CHANTAGEM EMOCIONAL
na sua relação: 

- ❥- A pessoa de quem gosta manipula as suas escolhas amuando sempre que não concorda consigo. O amuo pode traduzir-se no silêncio total ou na retirada de afeto (mantém as conversas mas de forma fria, emocionalmente distante).

- ❥- Culpa-o(a) por algo de que você não é responsável, fazendo com que sinta que é você que tem de se esforçar mais ou de melhorar alguma coisa.

- ❥-  Acusa-o(a) de coisas que não fez.

- ❥- Mostra sofrimento intenso e desproporcional em resposta a uma escolha sua (com que não concorda). Por exemplo, Luís disse à namorada, Vera, que não conseguiu comer nem dormir durante o fim-de-semana que ela passou fora com as amigas.

- ❥- Faz ameaças - de forma direta ou indireta. Segundo Catarina, o marido nunca se opôs de forma clara a que ela frequentasse o ginásio mas as indiretas eram o suficiente para que se sentisse culpada e insegura. «Eu não vejo nada de mal mas às vezes parece que as nossas filhas precisam de mais atenção». «Tenho uma colega no trabalho que ficou sem a guarda dos filhos porque o ex-marido a acusou de nunca estar em casa ao serão». «Deixa a mochila no carro para que os vizinhos não vejam que estás a chegar tão tarde só por causa do ginásio».

- ❥- Ou – pior – ameaça fazer mal fisicamente (a si ou ao próprio) quando não concorda com as suas escolhas.

Se acha que tem sido alvo de chantagem na sua relação, lembre-se de que não deve – em circunstância nenhuma – assumir a responsabilidade pelas escolhas e pelos comportamentos de outra pessoa (este princípio é válido para relações de outra natureza qualquer). O seu companheiro é o único responsável pelos próprios comportamentos. Ele(a) faz as suas escolhas e deve ser capaz de lidar com as consequências. Não há nada no seu comportamento que sirva de justificação para as escolhas dele(a) – a menos que você o(a) tenha ameaçado, por exemplo.

Susana não obrigou o marido a cometer uma traição. Nem sequer o empurrou para esse caminho. Mesmo que se sentisse triste, só e desamparado, João tinha alternativas. Foi a sua própria cabeça que o levou a escolher aquela.


Quando cada um dos membros do casal assume a responsabilidade pelo próprio comportamento é mais fácil construir uma relação equilibrada, feliz e duradoura baseada na confiança e no respeito mútuos.
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