Quando João foi apanhado a trair
a mulher foi ela que se sentiu culpada. Depois de o confrontar com as provas da
traição – mensagens trocadas através do Facebook -, Susana foi acusada de ser
uma mulher desleixada e pouco afetuosa, o que, aos olhos do marido, eram
justificações para o facto de ele ter «sentido a urgência de procurar fora o
que não tinha em casa». Segundo João, ele também estava em sofrimento há muito
tempo por se sentir ignorado pela mulher. Para além de se sentir devastada com
a descoberta da traição do marido, Susana começou a sentir-se culpada pelas
escolhas do marido.
Quando um dos membros do casal
comete um erro e culpa o outro, isso pode ser sinal de chantagem emocional.
Às vezes o preço é a autoestima
de um dos membros do casal. É isto que acontece quando um faz constantemente
chantagem emocional sobre o outro de modo a ver a sua vontade ser satisfeita.
O que é que acontece quando o
marido erra e culpa a mulher pelo seu comportamento? Esta enche-se de culpa,
sente-se uma péssima mulher e instintivamente procura melhorar o seu
comportamento no sentido de fazer o marido feliz. É como se não fosse suficientemente interessante, suficientemente
inteligente ou suficientemente bonita. É como se tivesse sido ela a fazer
más escolhas, empurrando-o para o mau comportamento. À medida que se esforça
para ser cada vez melhor, assumindo a responsabilidade pelas escolhas do
companheiro, vê a sua autoestima diminuir cada vez mais. A páginas tantas
sente-se inútil, desinteressante, incapaz.
No exemplo de João e Susana, o
marido recusou assumir a responsabilidade pelo SEU comportamento. Ao aceitar a
responsabilidade pela fraqueza do marido, Susana deu início a um perigoso
caminho.
Neste caso, João deveria ser capaz
de dizer «Eu errei e sou o único responsável pela escolha que fiz». Esta
postura não o impediria de se queixar do comportamento de Susana. Se a mulher
se desleixou e deixou de investir na demonstração física de afeto, João tinha o
direito de dizer «Eu queixei-me e tu foste ignorando os meus apelos. Senti-me
triste e rejeitado», dando a oportunidade a Susana para assumir a
responsabilidade pelos SEUS erros. Ainda assim, os erros de um NÃO podem servir
de justificação para os erros do outro.
Algumas pessoas tornam-se peritas
em colocar sobre os ombros dos respetivos companheiros TODA a responsabilidade.
Amuam, fazem birras, dramatizam, assumem reações desproporcionais – sempre com
o objetivo de impor a sua vontade e colocando a culpa na outra pessoa.
Veja se é alvo de
CHANTAGEM EMOCIONAL
na sua relação:
- ❥- A pessoa de quem gosta manipula
as suas escolhas amuando sempre que não concorda consigo. O amuo pode
traduzir-se no silêncio total ou na retirada de afeto (mantém as conversas mas
de forma fria, emocionalmente distante).
- ❥- Culpa-o(a) por algo de que você
não é responsável, fazendo com que sinta que é você que tem de se esforçar mais
ou de melhorar alguma coisa.
- ❥- Acusa-o(a) de coisas que não
fez.
- ❥- Mostra sofrimento intenso e desproporcional
em resposta a uma escolha sua (com que não concorda). Por exemplo, Luís disse à
namorada, Vera, que não conseguiu comer nem dormir durante o fim-de-semana que
ela passou fora com as amigas.
- ❥- Faz ameaças - de forma direta
ou indireta. Segundo Catarina, o marido nunca se opôs de forma clara a que ela
frequentasse o ginásio mas as indiretas eram o suficiente para que se sentisse
culpada e insegura. «Eu não vejo nada de mal mas às vezes parece que as nossas
filhas precisam de mais atenção». «Tenho uma colega no trabalho que ficou sem a
guarda dos filhos porque o ex-marido a acusou de nunca estar em casa ao serão».
«Deixa a mochila no carro para que os vizinhos não vejam que estás a chegar tão
tarde só por causa do ginásio».
- ❥- Ou – pior – ameaça fazer mal
fisicamente (a si ou ao próprio) quando não concorda com as suas escolhas.
Se acha que tem sido alvo de
chantagem na sua relação, lembre-se de que não deve – em circunstância nenhuma –
assumir a responsabilidade pelas escolhas e pelos comportamentos de outra
pessoa (este princípio é válido para relações de outra natureza qualquer). O
seu companheiro é o único responsável pelos próprios comportamentos. Ele(a) faz
as suas escolhas e deve ser capaz de lidar com as consequências. Não há nada no
seu comportamento que sirva de justificação para as escolhas dele(a) – a menos
que você o(a) tenha ameaçado, por exemplo.
Susana não obrigou o marido a cometer uma traição. Nem sequer o empurrou
para esse caminho. Mesmo que se sentisse triste, só e desamparado, João
tinha alternativas. Foi a sua própria cabeça que o levou a escolher aquela.
Quando cada um dos membros do
casal assume a responsabilidade pelo próprio comportamento é mais fácil
construir uma relação equilibrada, feliz e duradoura baseada na confiança e no
respeito mútuos.