Quando começamos uma relação,
torcemos para que seja para sempre. Sabemos que não é fácil, conhecemos as
estatísticas MAS acreditamos que é possível. À medida que o tempo passa,
acontece um dos cinco cenários possíveis:
- Os laços fortalecem-se e as
duas pessoas sentem-se genuinamente felizes.
- A relação deixa de ser uma
fonte de segurança e bem-estar mas os membros do casal optam por fechar os
olhos aos problemas. Alguns mantêm-se assim (insatisfeitos) o resto da vida.
- Há pelo menos um dos membros do
casal que se sente infeliz e a relação termina. Cada um segue a sua vida.
- Há pelo menos um que se sente
infeliz, a relação termina e algum tempo depois o casal reata e consegue
ultrapassar os problemas.
- Há pelo menos um que se sente
infeliz, a relação termina, há uma reconciliação e ao fim de algum tempo há uma
nova separação… o círculo pode repetir-se várias vezes.
Ao contrário do que possa
pensar-se, há uma percentagem significativa de casais que se separaram e
reconciliaram pelo menos duas vezes. E não se trata apenas de casais jovens.
Pelo meu gabinete passam com regularidade casais com mais de 30, 40 ou 50 anos
cuja relação se transformou numa espécie de ioiô.
COMO SÃO ESTAS RELAÇÕES?
Estas relações são
invariavelmente muito desgastantes. Há vários estudos que nos mostram que estas
pessoas estão sistematicamente sob muito stress e a minha experiência
confirma-o. Por outro lado, ouço com frequência frases como «Ele conhece-me
como ninguém» ou «Ela tem um lado maravilhoso, difícil de encontrar numa
relação».
Além disso, em função das
discussões e dos momentos de tensão, há uma sensação de familiaridade e de
conhecimento mútuo que facilita as reaproximações.
PORQUE É QUE ISTO ACONTECE?
Nalgumas relações a grande
dificuldade está relacionada com o compromisso. Há afeto e vontade de estarem
juntos mas apenas até certo ponto. Aquilo que observo na minha prática clínica
é que algumas pessoas não estão realmente comprometidas com a pessoa que dizem
amar – desejam tirar partido do melhor que a relação tiver para oferecer MAS
não estão dispostas a viver de acordo com as obrigações que uma relação de
compromisso costuma requerer (fidelidade, cedências, satisfações).
Noutros casos, há afeto, há
compromisso mas há demasiados assuntos por resolver a propósito da bagagem
emocional de cada um.
Por exemplo, se uma mulher tiver assistido
a constantes infidelidades do pai e à aparente aceitação desses comportamentos
da parte da mãe, é muito mais provável que dê por si a reproduzir um padrão de
condescendência em relação a erros sérios do companheiro (mesmo que durante
toda a vida tenha dito a si mesma que jamais se comportaria como a mãe).
É sempre difícil lidar com a
solidão e a tristeza que resultam de um processo de separação e isso faz com
que para algumas pessoas seja mais fácil voltar atrás na decisão de se
separarem. Lamentavelmente, os motivos que levaram à insatisfação e à rutura,
de uma maneira geral, não desaparecem e a repetição destes ciclos tende a
deteriorar cada vez mais a autoestima.
COMO É QUE SE INTERROMPE ESTE
PADRÃO?
Perspetivar a própria vida a
longo prazo pode ajudar a fazer uma escolha definitiva. Se tem sido apanhado(a)
nestes ciclos, pare para pensar:
Olhar para o futuro pode ajudar a
encarar a realidade tal como ela é (e não como legitimamente gostaria que
fosse).
A cada reconciliação podem surgir
pensamentos como «Onde é que eu estava com a cabeça para acabar a relação?
Nunca vou encontrar alguém tão inteligente, tão meigo ou tão atraente». Mas
será mesmo assim? Por que motivos se separou? Houve alguma mudança? Se não
houve, é só uma questão de tempo até voltar a sentir-se infeliz ao lado desta
pessoa. Se o círculo se mantiver, que riscos corre? Como estará a sua vida
daqui a alguns anos?
Aproveite a separação para
refletir sobre aquilo que quer para si, para a sua relação. Faça uma lista das
necessidades de que não é capaz de abdicar e procure responder de forma honesta
à questão “o meu companheiro é capaz de vir ao encontro destas necessidades? “.
Pedir ajuda terapêutica pode ser
muito importante para perceber a origem dos problemas e identificar caminhos
mais saudáveis. Um terapeuta experiente ajudá-lo-á a revisitar as experiências
que possam ter contribuído para a construção destes círculos viciosos bem como
a gerir as emoções associadas a cada escolha.
Não é fácil libertarmo-nos de
padrões de comportamento que estão enraizados há anos mas com ajuda
psicoterapêutica isso é possível.