É incrível como é possível prever
a infidelidade num casamento. Ao contrário do que tantas vezes se pensa, não é
uma questão de sorte ou azar. Também não é uma questão de personalidade. É
verdade que há pessoas com maior dificuldade em estabelecer uma ligação de
compromisso mas a minha experiência mostra-me que a maioria das relações extraconjugais não são planeadas. Isso está
muito longe de significar que sejam fruto do acaso ou que não possam ser
evitadas. É possível prevenir uma infidelidade e é fundamental estar atento aos
sinais.
Se eu tivesse de identificar o
principal sinal de que alguma coisa não está bem numa relação ao ponto de a
tornar mais vulnerável à infidelidade, diria que é a existência de demasiados
SEGREDOS. É claro que a maioria das pessoas opta por esconder alguns detalhes
do companheiro mas, de um modo geral, nas relações saudáveis essas são questões
pouco relevantes e que não comprometem nem a confiança nem a ligação emocional.
Em quase todas as histórias de
infidelidade que conheci ao longo de mais de 16 anos havia dois elementos em
comum: circunstância e oportunidade.
Quando olhamos para a nossa relação, é possível reparar – em tempo real – se as
escolhas que fazemos estão a aproximar-nos de uma infidelidade.
CIRCUNSTÂNCIA:
AFASTAMENTO FÍSICO E/OU EMOCIONAL
A ESMAGADORA maioria dos casais
que me pedem ajuda na sequência de uma infidelidade relatam que houve um
afastamento emocional que os levou a deixarem de ser capazes de falar
abertamente sobre os seus sentimentos. Nalguns casos, há discussões acesas,
tentativas de abordar os problemas mas sem que se consiga falar sobre os
sentimentos mais profundos ou sobre as necessidades que vão ficando por
preencher. Noutros praticamente não há discussões e até parece estar “tudo bem”
mas não há revelação mútua – cada um vai “empurrando a vida com a barriga”,
cumprindo obrigações e calando a própria insatisfação.
E é aqui que entram os segredos:
Em função da distância emocional,
há muitos casais que me dizem que a intimidade sexual deixou de ser o que era.
Para alguns passou a ser “normal” haver relações sexuais de seis em seis meses.
Para outros passou a ser aceitável a inexistência de gestos de afeto diários.
Mas, curiosamente, para a maior parte dos casais que me procuram o facto de
continuar a existir sexo todas as semanas funciona como uma ilusão – como se os
segredos que alimentam, e que os distanciam do ponto de vista emocional,
pudessem ser contrabalançados com a frequência das relações sexuais.
Na prática, sempre que pelo menos
um dos membros do casal reprima os seus sentimentos, a relação passa a estar
vulnerável. Reconhecer o problema, falar
abertamente sobre isso e pedir ajuda serão escolhas que permitirão evitar uma
infidelidade ou uma rutura.
OPORTUNIDADE:
FLIRT
Quase todas as relações
extraconjugais começam com um denominador comum: conversas que são mantidas em
segredo. Muitas vezes, a pessoa que acaba por ser infiel não tem, à partida, a
intenção de o fazer. Conhece uma pessoa nova no emprego ou no ginásio, recebe
um pedido de amizade de um antigo namorado ou é elogiada por um vizinho e, no
início, até faz a descrição do episódio ao companheiro. Mas à medida que se
sente gratificada pela atenção que recebe da outra pessoa, tem a oportunidade
de fazer uma escolha: assumir uma atitude de transparência ou manter SEGREDOS.
A excitação de sentir que se tem poder sobre outra pessoa é viciante
e é por isso que tantas pessoas acabam por continuar a investir emocionalmente
nestes flirts à margem do casamento. Nem todas têm consciência de que já estão
a ser emocionalmente infiéis. Vão em busca de admiração e nem sempre têm em
mente uma relação extraconjugal. Estas conversas podem parecer inofensivas mas
o secretismo potencia a distância entre os membros do casal.
Manter uma postura de transparência
implica que a própria pessoa esteja muito mais consciente das suas escolhas e
dos perigos que elas podem representar.