Já todos nos cruzámos com pessoas
tóxicas. Já estivemos ao lado delas, já nos relacionámos com elas. Alguns de
nós até já viveram relações amorosas com pessoas tóxicas. O mais curioso – e que
confirmo todos os dias na minha prática clínica – é que as pessoas que são
vítimas de comportamentos tóxicos nem sempre se dão conta disso. A manipulação,
o desrespeito, as mentiras e as tentativas de controlo nem sempre são claras.
Como, de uma maneira geral,
ninguém assume todos os tipos de abuso emocional, é fácil para alguém que
esteja a ser alvo de comportamentos tóxicos dizer a si mesma “Ah, mas a pessoa
de quem eu gosto não faz ISSO.” A verdade é que basta UMA forma de abuso para
que a relação seja assimétrica, injusta, baseada no desrespeito e, por isso,
quase sempre geradora de mal-estar e diminuição da autoestima.
Preste atenção aos sinais de
alarme:
DEMASIADO BOM PARA SER VERDADE
A maior parte das pessoas que
assumem comportamentos abusivos nas relações amorosas são demasiado centradas
em si mesmas e isso fá-las preocupar-se excessivamente com a IMAGEM que
transmitem aos outros. Como, na verdade, se sentem inseguras em relação ao seu
verdadeiro Eu, acabam por construir uma personagem quase perfeita. Na prática,
estão a usar máscaras em vez de se revelarem tal como são. Os abusos surgirão
apenas quando sentirem que a relação está segura. Lamentavelmente, quando a
pessoa que é vítima de abusos se queixa aos familiares e amigos, quase ninguém
acredita porque a imagem que têm do abusador é praticamente imaculada.
EU, EU, EU, EU, EU, EU, EU
Se a maior parte das conversas
giram à volta das necessidades dessa pessoa, o mais provável é que dê por si a sentir-se
desamparado MAS ao mesmo tempo com a sensação de que a pessoa de quem gosta
precisa de si – da sua atenção, do seu apoio, do seu mimo. À medida que o tempo
passa, se se tratar de uma relação tóxica, você sentir-se-á cada vez com menos
energia e o espaço para falar sobre as SUAS emoções será praticamente
inexistente. Como as cobranças e os exercícios de manipulação nem sempre são
claros, o mais provável é que as suas queixas esbarrem em argumentos que
aumentem os seus sentimentos de culpa. Na prática até podem existir diariamente
perguntas como “Então, como correu o teu dia?” mas NÃO HÁ interesse na
resposta.
CHANTAGEM EMOCIONAL
Se há algo que caracteriza bem
uma relação tóxica são os exemplos de chantagem emocional. O objetivo é sempre
o mesmo: impor a própria vontade desrespeitando a vontade da outra pessoa.
Mas há outros, mais subtis, que
fazem com que a pessoa que é alvo de chantagem se sinta pressionada, culpada e,
portanto, obrigada a fazer uma escolha que agrade à pessoa que ama. De resto,
essa é uma forma de manipulação frequente: “Isso (que te estou a pedir) é o que
os casais felizes fazem”. O problema é sempre o mesmo: há dois pesos e duas
medidas porque o que verdadeiramente importa não é que cada um se esforce e
ceda em nome de uma relação harmoniosa. O que importa é que seja SEMPRE a mesma
pessoa a ceder em função das necessidades da outra.
OLHAR DE CIMA PARA BAIXO
Se alguém o insultar de forma
clara, é (mais) fácil reconhecer um abuso. Mas as humilhações e o desprezo nem
sempre assumem esse formato. Quando uma pessoa investe de forma regular em
tentativas para deitar abaixo a pessoa de quem gosta – mesmo que seja com o
argumento de que é para o seu bem – está a desrespeitá-la, a fragiliza-la e a
sentir-se cada vez com mais legitimidade para o fazer. A pessoa que corrige a
forma como o parceiro fala, o tipo de alimentação que faz ou outra coisa
qualquer está pura e simplesmente a dizer “Eu sou melhor do que tu”. Estas
práticas vão corroendo a autoestima da vítima e vão aumentando a sensação de
poder da pessoa que pratica os abusos.
ÉS DEMASIADO SENSÍVEL
Se há frase que ouvi milhares de
vezes no meu gabinete, foi esta. À medida que se sucedem as explosões, os
gritos, as humilhações ou quaisquer outras formas de abusos e a vítima se
queixa, surge quase sempre a desvalorização dos seus sentimentos.
Então, se a vítima gritar, está
OBVIAMENTE a faltar ao respeito mas se o abusador o fizer, é porque teve
motivos absolutamente válidos que justifiquem aquele comportamento. Se a pessoa
que pratica os abusos fizer piadas ou revelações que exponham a vítima ao
ridículo e esta se queixar, a resposta é quase sempre “És demasiado sensível”
ou “Não sabes brincar”.
Uma das queixas que mais ouço das
pessoas que são alvo de comportamentos tóxicos na relação amorosa é “O meu
companheiro tem sempre argumentos para tudo e eu acabo por sentir-me confusa”.
Esse é quase sempre um sinal de alarme.
Se se sente regularmente com elevados níveis de ansiedade, sem energia, com baixa autoestima e/ou com a sensação de que, apesar de amar a pessoa que está ao seu lado, a sua relação é uma fonte de instabilidade e insegurança, pare imediatamente para refletir sobre o que está acontecer. Peça ajuda e fale com um profissional com experiência nesta área.