Ainda que quase toda a gente já tenha ouvido falar de
depressão, poucos sabem que Portugal é o país da Europa com a taxa de depressão
mais elevada e o segundo no mundo inteiro, apenas ultrapassado pelos Estados
Unidos. Ouvimos muitas vezes nos noticiários que há demasiada prescrição de
antidepressivos e ansiolíticos e, no entanto, continua a existir um número
muito significativo de pessoas que não recebem tratamento adequado – por falta
de informação e por medo, sobretudo.
A medicação antidepressiva tem evoluído muito nas
últimas décadas e, felizmente, a maior parte dos pacientes mostram alguma
evolução positiva ao fim de algumas semanas. Mas, de uma maneira geral, essa
evolução fica aquém das expectativas quer do doente quer dos familiares e
amigos. Precisamente por se tratar de uma doença e não de um simples mal-estar,
pode levar muito tempo até que a pessoa volte a sentir-se capaz de fazer tudo o
que habitualmente fazia. Para a esmagadora maioria das pessoas com depressão as
melhorias são mais sólidas e mais rápidas quando há acompanhamento
psicoterapêutico.
SINTOMAS
Os sintomas podem variar e a depressão pode assumir
formas mais moderadas ou mais severas mas conseguimos identificar 4 categorias
de sintomas:
ALTERAÇÕES NO PENSAMENTO: Falta de concentração,
esquecimentos, incapacidade para tomar decisões, pessimismo, sentimentos de
culpa, pena de si mesmo, sensação de desvalor.
ALTERAÇÕES DE COMPORTAMENTO: Apatia, choro frequente,
isolamento social, inexistência de desejo sexual, falta de higiene pessoal (nos
casos mais severos), desinteresse pelo trabalho e pelas rotinas habituais.
ALTERAÇÕES NOS SENTIMENTOS: Sensação constante de
cansaço, falta de motivação, acessos de raiva ocasionais, irritabilidade,
sensação de inutilidade.
ALTERAÇÕES NO BEM-ESTAR FÍSICO: Fadiga prolongada,
dificuldade em adormecer, sono agitado, dores no corpo.
AJUDA
Independentemente das causas, a maior parte das formas
de depressão acaba por originar um desequilíbrio químico de serotonina, um
neurotransmissor associado ao nosso bem-estar. Os antidepressivos prescritos
nos dias de hoje aumentam os níveis de serotonina. Ainda assim, muitos
pacientes mostram-se incapazes de lidar com a avalanche de pensamentos
negativos associados à depressão. É por isso que a psicoterapia é uma ferramenta fundamental.
Um psicólogo ajudará o paciente a identificar os
pensamentos irracionais que possam estar a agravar o estado depressivo e
ansioso e a “trabalhá-los” no sentido de reduzir de forma significativa esse
mal-estar. Este é quase sempre um
processo lento mas muito frutífero.
A par destas intervenções, há escolhas que o próprio
doente e a sua rede de suporte podem fazer para ajudar:
ALGUÉM QUE LIGUE DIARIAMENTE – Quando se está focado
no imenso buraco negro em que a vida se transformou, pode não haver vontade de
estar com ninguém. Mas é precisamente por isso que é fundamental ter alguém que se interesse, que queira
saber e que telefone ou apareça diariamente para conversar.
LISTA DE COISAS DE QUE COSTUMAVA GOSTAR – É importante
que o doente faça uma lista das atividades e interesses que tinha antes da
depressão. É possível que mantenha o gosto por algum mas, mesmo que isso não
aconteça, importa fazer esse reconhecimento e tentar dar pequenos passos no sentido de revisitar esses prazeres. Podem ser
os pratos de comida preferidos, as músicas preferidas, caminhadas ou outros
hábitos. Se o paciente se dispuser a tentar ir ao encontro de uma dessas coisas
por dia, estará a dar passos muito importantes para a sua recuperação.
EXERCÍCIO FÍSICO – Não me canso de dizer: o exercício
é extraordinariamente terapêutico para a nossa saúde mental. A ciência tem
mostrado que qualquer forma de exercício tem impacto no nosso humor e que
nalguns casos até pode ser um substituto dos antidepressivos. A prática de
atividade física liberta endorfinas que, por sua vez, aumentam os nossos níveis
de serotonina.
A depressão é tratável. Mesmo que, numa fase inicial, o tratamento pareça que não está a funcionar, é quase sempre uma questão de tempo e de fazer as escolhas certas. Aceder a informação rigorosa e procurar a ajuda de profissionais experientes é meio caminho para que tudo corra bem.