«Se tu gostasses mesmo de mim,
não ias sair com os teus amigos», «Não acho normal que te vistas dessa
maneira», «Para onde é que estavas a olhar?» - o que é que é aceitável numa
relação? Que dose de ciúme é compatível com um relacionamento feliz e
duradouro? O ciúme é proporcional ao amor que se sente? Ou quando é demais
estraga?
TODAS AS PESSOAS SENTEM CIÚME.
VERDADE.
Praticamente todas as pessoas já
passaram pela experiência de se sentirem desconfortáveis ou até inseguras numa
situação em que o companheiro deu atenção especial a alguém (ou foi tratado
dessa forma). O medo da perda é natural e instintivo, o que está muito longe de
significar que haja sempre uma “cena de ciúmes” em resposta a esta sensação de
desconforto. Muitas pessoas reconhecem o
sentimento mas são rapidamente capazes de se acalmar e de olhar para a sua
realidade com tranquilidade. Às vezes podem até brincar sobre o assunto, sem
dramas. Para outras, a sensação de alarme pode ser mais significativa e aí há
quase sempre a necessidade de verbalizar o sentimento e de pedir ao companheiro
uma resposta que devolva a tranquilidade. Mas há pessoas para quem o ciúme é
mais recorrente e incapacitante – quase tudo é sinal de alarme, pelo que a sua
atenção gira quase sempre à volta da identificação de potenciais ameaças. De
uma maneira geral, este ciúme coloca a relação em risco.
É UM SINAL DE QUE SE AMA DEMAIS
MENTIRA.
Há quem defenda que o ciúme é uma
demonstração clara de amor e que, quanto mais se ama, mais ciúme se sente mas, de uma maneira geral, esta é uma desculpa
que a pessoa ciumenta dá para justificar os seus comportamentos. Amar
também é respeitar profundamente a pessoa que está ao nosso lado e desejar com
todas as nossas forças que seja feliz. Sempre que o ciúme se traduz em
chantagem emocional («Se tu gostasses mesmo de mim…») ou qualquer forma de
limitar as ações da pessoa de quem se gosta, é de desrespeito que falamos, não
de amor.
É UM SINAL DE INSEGURANÇA.
VERDADE.
O ciúme é sobretudo isso:
insegurança. É o medo – pontual ou recorrente – da perda. Isto não significa
que sejamos todos inseguros. Significa, isso sim, que todos nós sentimos medo.
Às vezes esse medo surge e é rapidamente controlado; noutras alturas o medo é
mais dominador e é preciso falar sobre o assunto. Todas as relações atravessam
períodos de maior proximidade e períodos de maior afastamento. Se, nas alturas de maior afastamento,
surgirem pessoas com quem a pessoa que amamos se ligue de forma mais especial,
é natural (e saudável) que haja algum alarme. Quando a pessoa que se sente
enciumada partilha as suas emoções de forma clara e com respeito, é mais
provável que o companheiro seja capaz de responder com afeto, valorizando os
seus sentimentos e tranquilizando-a. Dizer «Sinto-me inseguro quando te vejo a
conversar com X» é muito diferente de dizer «Não acho normal…».
PESSOAS COM BAIXA AUTOESTIMA SENTEM MAIS CIÚMES
VERDADE.
Se é certo que o ciúme é,
sobretudo, insegurança e que essa é uma sensação por que todas as pessoas podem
passar, também é verdade que quanto menos uma pessoa for capaz de se valorizar,
maior é a probabilidade de sentir a necessidade de controlar os passos do
companheiro.
Estarmos bem connosco e
valorizarmo-nos na medida certa permite-nos assumir uma postura mais generosa
em relação à pessoa amada. Isso inclui dar-lhe a liberdade de que precisa para
ser feliz, apesar de estar numa relação de compromisso. Implica reconhecer que
há vida para além do casal e que há outras relações afetivas significativas
para ambos.
AUSÊNCIA DE CIÚME É SINAL DE DESAPEGO
MENTIRA.
Se não houver situações que sejam
geradoras de alarme, é natural que não haja ciúme. Se uma pessoa se mostra
tranquila quando o companheiro sai com os amigos isso pode significar que se
sente segura, o que é muito diferente de dá-lo como garantido ou já não sentir
apego. Confiar também é um sinal de respeito e inteligência emocional. Aquilo que pode indiciar falta de ligação
não é a inexistência de ciúme mas sim o desinteresse. Se uma pessoa sai com
os amigos e a outra não faz perguntas nem quer saber nada sobre o evento, isso
pode indiciar que (já) não há ligação.
AS PESSOAS QUE JÁ FORAM TRAÍDAS SÃO MAIS CIUMENTAS
MENTIRA.
É óbvio que uma pessoa que tenha
passado pelo trauma de uma traição pode sentir maior dificuldade em voltar a
confiar e, nessa medida, pode revelar-se mais insegura. Mas isso está muito
longe de significar que as pessoas que já foram traídas sejam mais
controladoras. As pessoas que valorizam a honestidade e a transparência podem
ser mais firmes na imposição de alguns limites e podem manifestar de forma
clara a sua insegurança SEM desrespeitar o companheiro. Por outro lado, há muitas pessoas que nunca foram traídas e
que sempre foram muito ciumentas. Isso pode ter a ver com a autoestima ou
com a forma como foram educadas. Os filhos de pessoas ciumentas e controladoras
podem reproduzir estes comportamentos, mesmo que nem sempre se deem conta
disso.
QUEM PROCURA ACHA.
VERDADE.
Os comportamentos controladores
das pessoas mais ciumentas podem alimentar círculos viciosos: a pessoa que é
alvo de ciúme sente-se pressionada, controlada e passa a ocultar certas
informações para evitar problemas; quando a mentira é revelada, a pessoa
ciumenta confirma a expectativa de que não pode confiar em ninguém e de que
deve manter uma postura de hipervigilância. Claro que estes são padrões de
comportamento disfuncionais e geradores de infelicidade. Quem muito procura e
acaba por assumir comportamentos controladores nem sempre encontra traições ou
mentiras importantes mas acaba quase sempre por desrespeitar, pressionar e
empurrar o companheiro para fora da relação.
AS PESSOAS CIUMENTAS SÃO POUCO CONFIÁVEIS.
MENTIRA.
Há um ditado popular que diz que
«Quem desconfia não é de confiar». É verdade que há pessoas que não são “apenas”
inseguras e que utilizam as suas vulnerabilidades para manipular e controlar.
Mas há muitas pessoas que não só não têm esse objetivo como seriam incapazes de
trair a confiança do companheiro. Infelizmente, há pessoas com tão baixa
autoestima que acabam por viver em função das necessidades da pessoa amada.
É UMA FORMA DE VIOLÊNCIA EMOCIONAL.
VERDADE.
O ciúme é um sentimento que se
traduz quase sempre num apelo. Perante a sensação de alarme e o medo da perda,
pedimos à pessoa amada que faça qualquer coisa para nos devolver a segurança.
Quando isso é feito com respeito, a relação floresce.
O CIÚME NÃO TEM CURA
MENTIRA.
De uma maneira geral, quando não
há falhas de caráter graves e quando há genuína vontade de construir uma
relação baseada no respeito, isso também se traduz no compromisso com as
mudanças necessárias. Muitas pessoas são incapazes de mudar sozinhas, apesar
dos esforços. A terapia é sempre uma ajuda que vai a tempo de transformar a força
de vontade em mudanças comportamentais.