Quando alguém o critica, como é que reage?
Contra-ataca, independentemente de se tratar de um comentário justo? Fica
paralisado, sem reação? Justifica-se? Reage sempre da mesma maneira ou há
circunstâncias em que é mais fácil que o nervosismo tome conta de si?
A crítica faz parte da vida de todos nós. Em contexto
familiar, profissional ou nas ligações de amizade, todos nós fomos e vamos
continuar a ser criticados (e a criticar). Mas o facto de sabermos disso não
retira a negatividade que lhe está associada e, para algumas pessoas, a crítica
pode ser mesmo muito difícil de gerir. Dependendo dos níveis de autoestima,
pode ser mais fácil ou mais difícil lidar com as situações em que o nosso
comportamento seja alvo de um juízo de valor.
Quanto maior for a nossa autoestima, maior será a
nossa capacidade para lidar coma crítica – seja ela justa ou não.
Mas até as pessoas mais seguras podem dar por si
presas a um ou outro comentário, como se se tratasse de uma condenação. Quantas
vezes deu por si a sentir-se exausto no final do dia sem que esse cansaço
pudesse ser atribuído ao número de tarefas que concretizou ou ao número de
horas de sono? A verdade é que quando permitimos que o nosso pensamento gire à
volta de uma crítica é mais provável que enveredemos por círculos viciosos em
que procuramos “provar” que somos suficientemente bons.
O medo de sermos julgados pode fazer com que olhemos
para as críticas – mesmo que sejam justas – como condenações. É como se a
crítica fosse uma forma de alguém nos dizer que não prestamos. Quando isso
acontece, ou contra-atacamos, ou entramos em modo fuga.
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Mas será que tem de ser sempre assim? –
Nenhum de nós controla aquilo que os outros dizem a
nosso respeito. Mas está ao nosso alcance controlar o impacto de cada crítica.
Antes de mais, importa que aprendamos a diferenciar a
crítica construtiva e justa de todas as formas de abuso. Podemos – e devemos –
ser os primeiros a respeitar-nos. Se alguém fizer uma crítica inapropriada (ou
se fizer uma crítica justa DE FORMA incorreta), vamos sempre a tempo de dizer
«Para! Não posso permitir que me desrespeites desta forma». Não é fácil. Não é
mesmo nada fácil sair da zona de conforto, enfrentar os nossos “demónios” e
experimentar uma postura assertiva. Mas compensa. À medida que treinamos a
assertividade, vamo-nos sentindo mais livres, mais capazes, mais seguros.
E quando a crítica surge SEMPRE de forma abusiva? E
quando o interlocutor insiste em desrespeitar-nos, independentemente das
tentativas para impor o respeito? Sempre que possível, é importante que
reconheçamos as limitações da outra pessoa e nos afastemos. Nenhuma relação
tóxica acrescenta bem-estar à nossa vida.
Em compensação, há críticas que magoam mas que sabemos
que são justas. Não são ataques pessoais, não são fruto de qualquer maldade.
São uma apreciação negativa do nosso comportamento – pode ser em função de um
fracasso profissional ou porque simplesmente não fomos capazes de ir ao
encontro das expectativas de alguém de quem gostamos. Como podemos lidar com
estas críticas sem que nos afundemos numa tristeza sem fim?
Se é verdade que as críticas abusivas revelam as
limitações de quem critica, os juízos de valor justos revelam as limitações de
quem é criticado. Prestarmos atenção às nossas falhas e imperfeições é potencialmente
doloroso, sim, mas está muito longe de equivaler a uma condenação.
Quando validamos uma crítica dizendo «É justo» ou
«Tens razão» não estamos a baixar a cabeça. Pelo contrário, estamos a assumir
as rédeas da nossa vida, do nosso comportamento. Em vez de fugirmos, de
enterrarmos a cabeça com medo, afugentamos fantasmas, olhamos para os erros e…
crescemos. Assumir os erros, reparar neles, é o primeiro passo para que
possamos mudar para melhor. Quando escolhemos fazê-lo, damo-nos conta de que a
nossa autoestima é proporcional à energia que depositarmos na tarefa de emendar
as nossas falhas.
Ao contrário do que acontece quando entramos em “modo
fuga”, quando prestamos atenção às críticas e aos nossos erros, reparamos na
sua real dimensão e em todas as qualidades que nos caracterizam. Evitamos
ruminações, arregaçamos as mangas e comprometemo-nos em fazer melhor.